Em concurso de Miss surge a beleza escondida pelo tráfico de drogas
Eleitas nesta sexta-feira as três mais belas mulheres do Estado, Roberta, Daniele e Heloísa têm, além do título de Miss, um longo caminho a trilhar no cumprimento da pena. Presas por tráfico de drogas, foi na sétima edição do Miss Penitenciária, realizado no Estabelecimento Penal Feminino Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande, que elas viram a vaidade florescer e ser notada.
Jovens, deixaram os estudos incompletos, algumas sem nem terminar o ensino fundamental, outras que chegaram a cursar faculdade e que agora contam os dias para sentirem a liberdade de novo. Na vida delas, o título não muda, mas se torna um alento para quem está trancafiada.
Com shows de Michelle e banda e uma mesa de jurados incluindo autoridades e a Miss MS, Érika Moura, a manhã foi animada, desde axé até "Faz um milagre em mim", do cantor gospel Regis Danese.
O desfile começou com o traje country, ao todo eram sete meninas disputando representando os presídios femininos das cidades de Campo Grande, Corumbá, Jateí, Ponta Porã, Três Lagoas, São Gabriel do Oeste e Rio Brilhante. Em outros dois desfiles, as candidatas entraram com aplauso das detentas e de autoridades ligadas aos serviços de segurança pública e justiça.
Antes de anunciar as três eleitas, a Miss Penitenciária 2013, Ellen Moraes do Nascimento, desfilou pela última vez com a coroa e ainda leu um texto em homenagem às candidatas. "Na nossa vida, mudam os sonhos, os projetos, as metas. Que vocês saiam daqui se sentindo vitoriosas".
A preferida era a representante campo-grandense, que acabou eleita Miss Penitenciária, Roberta Martins dos Santos, de 27 anos. O coro das detentas gritava "uh, é Robertinha, uh, é Robertinha". Divididas em três categorias, o terceiro lugar ficou com a representante de Ponta Porã, Heloísa Lourenço, de 29 anos, com o título de Miss Simpatia. Em seguida, Daniele Portilho de Andrade, de 22 anos, representando Rio Brilhante ficou com o Miss Elegância.
Ainda nervosa com o título, Roberta que tem 1,59m de altura, 54 quilos e usa o manequim 36, conta que não esperava e que fez uma dieta forçada. "É uma experiência nova, dá uma levantada na nossa autoestima", diz. Com dois anos para cumprir ainda, por tráfico, os preparativos para a festa de hoje foram impostos. "Minhas amigas não me deixavam comer", brinca. Valeu a pena, só para o concurso ela perdeu quatro quilos.
No entanto, o glamour desta sexta vai ficar mesmo nas notícias, nas fotos e nas lembranças dela e das demais. "É um ânimo só aqui, agora. Amanhã é um dia normal. A verdade é essa, tem que falar", abre o jogo.
A Miss Elegante, segunda colocada, é Daniele. Com 22 anos, 1,73m e 67 quilos, ela usa manequim 42. Para o desfile, teve cortado apenas o refrigerante. "Minhas amigas e a cantineira não deixavam", conta. Sobre o título que vai levar para a unidade de onde veio, Rio Brilhante, a miss reforça que não vai mudar nada.
"Aqui são todas lindas, ninguém é melhor do que ninguém. Mas eu fiquei feliz". Presa há seis meses, também por tráfico, ela não teve ainda o julgamento e então não sabe mais quanto tempo ainda lhe resta ali.
A terceira colocada, Miss Simpatia, tem 29 anos, pesa 55 quilos, tem 1,63m e usa manequim 38. Heloísa deixou a faculdade de Turismo e Hotelaria quando engravidou. Vinda de Araçatuba, é das que chora ao falar do contato, ou melhor, da falta dele com a família.
Quando saiu de Ponta Porã, do presídio de onde veio, estava nervosa. Mas ao conhecer as outras candidatas e se ambientar, a calma chegou. Leitora de livros de autoajuda, não fez dieta e apenas retocou as luzes para ficar ainda mais loira.
"Ser miss não muda nada. Humildade, o caráter, a gente sempre tem que ter e respeito pelas pessoas". Presa há 1 ano e 8 meses, deve ter no máximo quatro meses para deixar o regime fechado. "Se minha família sabe do concurso? Não, não sabem". E as lágrimas ameaçam a escorrer. Leva o título para Ponta Porã, mas comemora sozinha.
