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Comportamento

Em redes sociais, jovens mostram orgulho de ser índio com selfie "cara pintada"

Elverson Cardozo | 27/04/2014 07:47
Eleita a índia mais bonita de MS, Sylmara é também uma das mais conectadas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Eleita a índia mais bonita de MS, Sylmara é também uma das mais conectadas. (Foto: Arquivo Pessoal)

Deixar o curtir e compartilhar de lado e tirar os olhos da timeline para fazer um “tour” pelos perfis do Facebook pode ser uma experiência para lá de interessante. O Lado B fez isso e, entre uma bisbilhotada e outra, notou que as comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul, e do Brasil como um todo, estão bem representadas na plataforma fundada por Mark Zuckerberg. Adolescentes, jovens e adultos, de várias etnias, têm se mostrando cada vez mais e provado, a cada dia, que a luta continua e que a cultura de um povo é, sem dúvida, seu maior tesouro.

O orgulho de ser Guarani, Kaiowá, Ñandeva, Kadiwéu, Terena, Kinikinau, Guató ou Ofaié, por exemplo, aparece de várias formas, seja no selfie com rosto pintado, no vídeo de uma dança típica, no nome indígena cheio de caracteres e praticamente impronunciável, na foto segurando o diploma de um curso superior, ou na beleza dos acessórios e pinturas corporais.

Tudo é motivo para mostrar que, sim, o índio tem seu valor, sente imenso orgulho de sua cultura, merece reconhecimento, respeito e tratamento digno de um ser humano. Tsumeywa Xavantinho Manhosinho que, na rede, informa morar em Campinápolis, no Mato Grosso, é um exemplo.

“Grandes desafios irão acontecer na minha vida, mas sei que sou guerreiro, filho do Brasil. Minha cultura é o meu orgulho. Ser índio não foi minha escolha...” escreveu no Facebook, acima de uma foto em que aparece pintado, de cocar e empunhando arco e flecha.

Postagem de Tsumeywa Xavantinho Manhosinho no Facebook. (Foto: Reprodução)
Postagem de Tsumeywa Xavantinho Manhosinho no Facebook. (Foto: Reprodução)

Comunidade conectada - Nascida e criada em Campo Grande, Sylmara Terena Cândida, de 23 anos, se considera uma “índia praticamente urbanizada”. A acadêmica de gestão de recursos humanos, que mora na comunidade Água Bonita, a 10 minutos da saída para Cuiabá, é mais uma que não consegue mais ficar sem a internet.

Eleita, em 2009, a mais bela índia de Mato Grosso do Sul, Sylmara se mostra, em desfiles e ensaios, mas também “dá a tapa a cara”, briga pela causa e vive compartilhando notícias de interesse das comunidades. “Eu uso mais para divulgar a cultura do meu povo, mas é claro que também bato um papo com meus amigos”, disse, ao comentar que “ninguém mais consegue ficar sem internet”.

Sylmara ao lado de Regina Casé, no programa Esquenta. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sylmara ao lado de Regina Casé, no programa Esquenta. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na avaliação da estudante, as redes sociais servem, neste sentido, para desmistificar a imagem que muita gente ainda tem dos índios. “Tem pessoas que acham que a gente fica no mato, não mora na cidade e não sabe nem mexer com celular, mas, com isso, percebem que é totalmente diferente”, comenta.

Ferramenta de interação e expressão - Graduada em direito e mestranda em antropologia social na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a terena Simone Eloy Amado, de 27 anos, moradora da aldeia Ipegue, em Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande, argumenta de maneira semelhante: “Muitas vezes somos vistos com aquela visão de colonização, onde temos que aceitar tudo o que nos é imposto quando, na verdade, avançamos, e muito”.

Simone comenta que tem percebido essa mudança de comportamento por parte das comunidades que, agora, vivem conectadas, buscando, nas palavras dela, “apoio para as suas lutas”.

Simone em selfie com a amiga. (Foto: Arquivo Pessoal)
Simone em selfie com a amiga. (Foto: Arquivo Pessoal)

“É uma forma que encontramos de denunciar o descaso que o Estado faz contra os indígenas”, disse. Essa é uma das funções do Facebook, explicou, mas a intenção vai além. A rede social é, também, é uma ferramenta de interação e expressão.

Os jovens que pintam o rosto e se mostram ao mundo, são pessoas, disse, que hoje frequentam a universidade e que, lá dentro, percebem a importância de divulgar a própria cultura. “Quando fazemos isso percebemos que tem pessoas querendo se juntar a nós para somar”, enfatizou.

Luta compartilhada - Essa busca por reconhecimento e valorização começa nas comunidades e acaba ganhando o apoio de importantes instituições. A UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), por meio do Neppi (Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas), é uma delas.

Em parceria com outras três universidades, o Núcleo coordena um projeto (Rede de Saberes) de incentivo à pesquisa e iniciação científica, laboratório de informática, suporte à participação e organização de eventos, entre outras atividades.

Em 2013, só na UCDB, 96 indígenas foram beneficiados. Quase todos os acadêmicos indígenas que participam do Rede têm e-mail e perfil no Facebook. A Rede de Saberes também mantém uma Fan Page, com 1.190 membros. As postagens são principalmente textos, livros e notícias sobre a temática indígena.

Já o perfil do NEPPI/UCDB tem 2.725 seguidores de diversas etnias e regiões do Brasil. Existem outros, coordenados pelos próprios indígenas, como o Aty Guassu e Resistência do Povo Terena.

O Núcleo também está desenvolvendo um projeto chamado Pontos de Cultura Indígena, que está em fase de implantação. A iniciativa, que conta com financiamento do Ministério da Cultura, prevê a implantação de Pontos de Cultura em cinco aldeias - Buriti, Te'yikue, Porto Lindo, Amambai e Panambi. A ideia é possibilitar a essas comunidades o acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação.

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