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Comportamento

Em tarde de ônibus lotado, dupla surpreende com canções de Luiz Gonzaga

Ângela Kempfer e Kleber Clajus | 13/11/2013 06:44
O casal canta para viajar o mundo falando sobre a água.
O casal canta para viajar o mundo falando sobre a água.

Em mais uma tarde de ônibus lotado, de repente uma dupla consegue lugar na multidão para lembrar Luiz Gonzaga. É a boa surpresa da tarde, porque além de cantar bem, o repertório é conhecido e animado.

Quem estava entregue ao cansaço, entra na cantoria para engrossar o coro e a viagem vira festa. Dentre as coisas estranhas que podem acontecer no transporte coletivo, a história dos músicos parece surreal, difícil de acreditar.

Os dois chegam e ela anuncia: “Vamos cantar para lembrar o quanto é bom cuidar da água”. A explicação vem só na conversa com o repórter.

Ana Paula Barreiros, de 31 anos, é de Salvador e resolveu mudar de vida depois de conhecer o sertão e ver de perto o quanto é difícil sobreviver sem chuva.

Ela colocou a mochila nas costas, o pé na estrada, e há 1 ano e 2 meses viaja pela América Latina cantando Luiz Gonzaga e “pregando” contra o desperdício de água. “Hoje só converso com a família pelo Facebook. Minha mãe ficou em Salvador, rezando por mim”, conta.

Lá pelas tantas, em um Centro Cultural do Equador, ela diz que conheceu o peruano Jhonatan Ocampo, 28 anos. Os dois passaram a namorar e viajar juntos.

Ele era mágico e malabarista, desses artistas de rua que pedem aqui, para sobreviver ali, e assim vão correndo o mundo. Saiu por aí com outros dois amigos, um artista de rua e outro “mestre” da meditação. “Mas a gente se perdeu na selva do Peru”, diz, como se fosse algo corriqueiro.

Agora, o rapaz toca pandeiro ao lado de Ana Paula, que canta ao som do “cuatro venezuelano”, instrumento folclórico que comprou na Colômbia.

Os dois conseguem conhecer novas culturas e também viver com o básico. Jhonatan ainda ajuda a filha de 7 anos que deixou no Peru, com 150 dólares por mês.

Ana Paula no ônibus lotado.
Ana Paula no ônibus lotado.

Os dois são vegetarianos, cozinham a própria refeição e se hospedaram na “Casa do Artista”, um imóvel onde se cobra valores mais baixos para artistas de rua que passam por Campo Grande.

Eles entraram em Mato Grosso do Sul na fronteira da Bolívia com Corumbá. “Chegamos com R$ 20,00, mas conseguimos R$ 200,00 cantando nos restaurantes e daí compramos as passagens de ônibus”, detalha Ana Paula.

O destino agora é novamente Salvador. Ana quer passar o Natal com a família na Bahia e apresentar o namorado à mãe. Os dois economizam para viajar de avião, por um motivo prático. “Sairia mais caro ir pegando ônibus”.

No futuro, a viagem será para o Ceará, onde o casal pretende conhecer famílias tradicionais de palhaços. Antes, Ana ainda quer voltar para a comunidade quilombola no sertão da Bahia, local que serviu de largada para a aventura pela América. “Quero cantar e ver se chove”, justifica.

O dinheiro para tantas idas e vindas surge na camaradagem, mas também pela vontade de retribuir à boa música.

Ao fim da apresentação no ônibus, a dupla pede: “Quem não tem moeda dá um sorriso, quem não tem dente dá um abraço”. Mas até mesmo quem sorri ou abraça, faz questão de colaborar.

“Dei 2 reais e se tivesse mais também daria”, elogia Adriele da Silva, de 19 anos. A dona de casa Elisa Domingues, 59 anos, não tinha moedas, mas garante que também gostou e colaborou. “Ajudei com a benção de Deus”.

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