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Comportamento

Entra eleição, sai eleição, e acesso ao voto continua problema para cadeirantes

Naiane Mesquita, Júlia Kaifanny, Paula Maciulevicius | 02/10/2016 10:43
Na Escola Estadual Teotônio Vilela as calçadas estão quebradas, o que dificulta a acessibilidade de pessoas com deficiência (Foto: Fernando Antunes)
Na Escola Estadual Teotônio Vilela as calçadas estão quebradas, o que dificulta a acessibilidade de pessoas com deficiência (Foto: Fernando Antunes)

Todo ano é a mesma coisa. Calçadas quebradas, falta de piso tátil, prédios sem elevadores e o que mais ferir os direitos básicos de milhares de pessoas que desejam votar e não conseguem. O problema é diário, mas durante as eleições recebem a visibilidade que merecem. A situação está presente em bairros de periferia ou bem no centro da cidade, o que sobra são exemplos de que o desrespeito continua firme e forte.

É o caso do bairro Universitário II. Na Escola Estadual Teotônio Vilela, que fica na rua Souza Lima, o acesso foi, no mínimo, complicado. A calçada está quebrada, dificultando a passagem de cadeirantes, idosos e pessoas com problemas de locomoção. Na escola, nem piso tátil para deficientes visuais tem. “É bem difícil o acesso, a calçada está bem comprometida”, afirma o eletricista Delfino da Costa Ortiz, 49 anos.

Cadeirante, Delfino precisou de cuidado para atravessar todo o percurso e exercer a sua cidadania. “Lá dentro está mais fácil, mas aqui fora”, diz.

Na Cesumar não tem elevador apesar dos dois lances de escada que dificultaram a votação de Ordaliria e Angel (Foto: Naiane Mesquita)
Na Cesumar não tem elevador apesar dos dois lances de escada que dificultaram a votação de Ordaliria e Angel (Foto: Naiane Mesquita)

Sentimento de raiva e frustração que atingiu em cheio Angel Campos Magalhães, 23 anos. “Eu sempre votei na Escola Padrão, na avenida Mato Grosso. Eu cheguei hoje de manhã para votar e a escola tinha mudado de endereço. Fomos no novo, na Joaquim Murtinho e descobri que na verdade quem era da Padrão votaria na Cesumar, na avenida Ceará com a Euclides da Cunha”, explica Angel.

No local não há elevador. “Uma senhorinha passou por mim, viu que eu estava com muletas e já avisou sobre as escadas. Não tinha como eu subir, precisei justificar em ata que eu fui e não consegui votar. Ou você sobe a escada ou não vota. É a primeira vez que acontece isso comigo, é um sentimento de desrespeito, impotência, irritação”, diz Angel.

No Jardim Ouro Verde, José Adilson foi o único que conseguiu votar sem problemas (Foto: Paula Maciulevicius)
No Jardim Ouro Verde, José Adilson foi o único que conseguiu votar sem problemas (Foto: Paula Maciulevicius)

O que fica é a lição de que milhares de pessoas estão passando por uma situação semelhante ou pior em todo o País. “Eu sofri meu acidente em 2013, hoje estou com muletas, mas fiquei cinco meses cadeirante, seria ainda mais impossível se estivesse de cadeira de rodas”, acredita.

No mesmo local que Angel tentou votar, Ordaliria Abreu Matos Santos, 53 anos, precisou da ajuda do marido Salustiano Jara, 47 anos, para conseguir exercer sua cidadania. Com Alzheimer, ela tem dificuldades para caminhar e precisou descer os dois lances de escada devagar e amparada. “Não tem nenhuma acessibilidade, eu tenho Alzheimer e não consigo descer direito”, explica.

A justificativa nem precisaria existir se o País levasse a sério um dos direitos mais básicos, o de ir e vir. “É uma falta de respeito, você tira o domingo para votar e no fim passa por esse tipo de situação”, afirma o marido, Salustiano.

Apesar dos flagrantes, há quem consiga votar sem problemas na cidade. Na escola Eduardo Olímpia Machado, no Jardim Ouro Verde II, a rampa e o acesso estavam em boas condições. “Foi tudo tranquilo”, se limitou a dizer José Adilson da Silva, 38 anos, cadeirante e desempregado no momento.

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