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Comportamento

Entre bolsas e sorrisos, neta tem muito mais da avó velhinha do que imaginava

Paula Maciulevicius | 23/03/2015 06:56
Ao vê-las falando e rindo, os trejeitos mostram que uma é o espelho da outra com a diferença para mais ou para menos nas décadas. (Foto: Marcos Ermínio)
Ao vê-las falando e rindo, os trejeitos mostram que uma é o espelho da outra com a diferença para mais ou para menos nas décadas. (Foto: Marcos Ermínio)

Vivian Amado Rodrigues Jorge é empresária, tem 24 anos e uma das caçulas entre os 12 netos de dona Maria Helena de Souza, de 73 anos. Avó e neta se enxergam uma na outra não só pelas semelhanças na aparência, mas também em como são independentes. Cada uma a seu modo.

Na série "Guarda-roupa" desta semana, o Lado B foi visitar a casa de Maria Helena, que mora com a filha, o genro, a neta Vivi e o irmão dela, no bairro Caiçara, em Campo Grande. Ao vê-las falando e rindo, os trejeitos mostram que uma é o espelho da outra com a diferença para mais ou para menos nas décadas.

- "De semelhança? Tudo. Ela sou eu velhinha: loirinha, bonitinha, de olho verde. Eu costumo falar que ela não sabe ser avó, ela é muito serelepe. Às vezes ela está lá para dentro e toca o telefone. Em vez de ela vir andando, não, ela vem correndo".

"Serelepe" não é uma característica só de Maria Helena não, a neta puxou o mesmo da senhorinha. (Foto: Marcos Ermínio)
"Serelepe" não é uma característica só de Maria Helena não, a neta puxou o mesmo da senhorinha. (Foto: Marcos Ermínio)

A descrição da neta é o modo como ela se vê na avó. "Serelepe" não é uma característica só de Maria Helena não, a neta puxou o mesmo da senhorinha e é tão agitada quanto. A avó, por sua vez, parece que volta ao passado quando o telefone toca, num tempo em que esperava que do outro lado da linha fosse um namorado ou uma amiga.

A mesma agitação e disposição que neta e avó tem se diferem em uma coisa: a energia só não é canalizada para os trabalhos manuais. Enquanto dona Maria Helena é a legítima avó, de coque no cabelo e óculos a costurar tricô, crochê e outros bordados, Vivi arruma os longos cabelos encaracolados e prefere às compras do que os serviços assim.

- "Ela é bem vaidosa, mas é a cultura também. Quando a gente é jovem, gosta de andar bem vestida, arrumadinha", brinca a avó.

À primeira vista fica claro a diferença entre as gerações. Dona Maria Helena tem cara de vó, exatamente o perfil de ter 12 netos, de costurar e cozinhar e de usar colônia com cheirinho de lavanda. A neta é jovem, bonita e diferente da avó, prefere saias mais curtas e roupas mais justas. Nada parecido com a série de vestidinhos no joelho, soltinhos e estampados que compõem o guarda-roupas de Maria Helena.

Os mesmos 24 anos que Vivi tem hoje, foram vividos pela avó entre filhos e a responsabilidade de criá-los. (Foto: Marcos Ermínio)
Os mesmos 24 anos que Vivi tem hoje, foram vividos pela avó entre filhos e a responsabilidade de criá-los. (Foto: Marcos Ermínio)

Os mesmos 24 anos que Vivi tem hoje, foram vividos pela avó entre filhos e a responsabilidade de criá-los praticamente sozinha, depois de ficar viúva. Já a neta, não se vê casada e nem dando sequência à geração tão cedo.

- "Ela amadurece muito mais rápido. Tenho 24 e não me vejo casada, com filhos", coloca a neta. Mais que depressa, a avó solta - "mas ela também é responsável", como quem quer dizer que as tarefas mudaram com o passar dos anos. A Maria Helena tinha à frente o trabalho em casa, Vivi tem o mundo a ganhar e escolheu o próprio negócio para começar.

E antes mesmo que o guarda-roupa se abra, as diferenças e semelhanças já nos saltaram os olhos. Não que seja preciso, para notá-las, estar com as portas do armário abertas. Só a proposta de mostrar as histórias, características e personalidades que se herdam dos antepassados ou as influências de hoje num convívio entre gerações, já desperta a fala, a percepção, do quanto não temos para onde fugir: seremos nossas avós no futuro e nos veremos, assim como elas, em nossos netos.

No caso de Vivi e Maria Helena, as bolsas são o ponto que se liga. Não só porque a neta trabalha com a venda, mas porque as duas se veem usando, até mesmo modelos iguais. A diferença é que a avó não varia tanto e também não usa até acabar. Mais cuidadosa, as alças sugerem que dona Maria Helena não tem mais pressa e nem tanta coisa a carregar consigo. Mais leve de material e também de alma.

- "Bolsa de vó? Que nada, as da minha avó, é ela quem escolhe. Ela usa assim, eu prefiro de outro jeito", explica Vivi. Olhando em cima da cama, não se sabe qual é de quem. Todas são de Maria Helena, com exceção de uma maior, bege e com estampa artesanal, trazida pela neta da Argentina.

- "Comprei para trazer muamba, sabe? Lá é tudo muito barato, quando eu vi minha avó tinha pego, mas foi para guardar sabe o que? As linhas dela de tricô!".

Evangélicas, as duas seguem igrejas diferentes. - "Eu brinco que a minha avó é da igreja de velhinha". Mas dona Maria Helena não deixa por menos, explicando que a colocação da neta é só porque ela segue uma doutrina mais tradicional. E as duas caem no riso.

Não temos para onde fugir: seremos nossas avós no futuro e nos veremos, assim como elas, em nossos netos. (Foto: Marcos Ermínio)
Não temos para onde fugir: seremos nossas avós no futuro e nos veremos, assim como elas, em nossos netos. (Foto: Marcos Ermínio)
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