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Comportamento

Era uma vez um pé de maçã que virou xodó na casa de ex-jogador de futebol.

Aline Araújo | 07/11/2014 06:23
A macieira tem 5 anos e ganhou um canteiro só dela. (Foto: Simão Nogueira)
A macieira tem 5 anos e ganhou um canteiro só dela. (Foto: Simão Nogueira)

Ela é uma das frutas mais comuns na nossa mesa e nas prateleiras dos supermercados, mas poucas pessoas já tiveram a oportunidade de conhecer uma macieira, talvez pelo clima e os cuidados que exige, a árvore é privilégio para poucos nestes lados do Brasil.

O Lado B ficou encantado com as fotos de um pé carregado em Campo Grande, em um quintal também bem especial. São cerca de 100 maçãs na Vila Sobrinho. A árvore dá frutos maiores, garante César Glauco dos Santos, de 79 anos, que cuida do pé diariamente. Ele sabe que tem “mão boa” e por isso tem a certeza que os primeiros sinais da fruta vão florescer todos os anos.

O aposentado, natural de Bela Vista, que mora na capital desde 55, foi jogador no Comercial, tem no joelho as marcas deixadas pelo esporte. “Quando o futebol foi ficando muito político, que tinha dinheiro que a diretoria embolsava, resolvi jogar na várzea, sempre gostei do esporte pelo esporte”, comenta, variando um pouco a assunto.

Conheceu a esposa em 1957, não demorou muito para casar. Morou em Vila Militar e depois na Vila Alba por alguns anos, mas sentia falta do quintal e decidiu mudar para casa que mora hoje, há 17 anos. Grande e acolhedora, a casa dificilmente fica vazia, com a companhia dos filhos, noras e netos que moram por perto.

No quintal, local onde passa a maior parte do dia, também fazem companhia um limoeiro, um pé de mamão, abóboras, brotos de maracujá e jabuticaba. Mas a árvore preferida da família é o pé de maçãs, com sabor adocicado, e que encantam de tão bonitinhas.

 

Cezar cuida da árvore todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)
Cezar cuida da árvore todos os dias. (Foto: Simão Nogueira)

Todos os dias ele acorda às 4h30 da manhã, hábito dos tempos do Exército. Levanta, faz o café e leva na cama para a esposa Nina Azuaga Braga, de 74 anos. “Não é porque eu tinha que levantar cedo que ela ia precisar sair da cama”, comenta, sobre o gesto repedido diariamente há 55 anos.

Depois, César sai para caminhar. Apaixonado por esportes, hoje ele se exercita em casa. “Meus filhos não deixam mais eu andar na rua tão cedo, pela idade eles acham perigoso, também porque eu perdi a visão do lado esquerdo do olho em uma cirurgia a lazer. Acabo correndo aqui em casa mesmo. Mas semana que vem eu começo a ir à praça do Papa, minha senhora vai caminhar comigo”, avisa.

Quando os primeiros afazeres do dia terminam, é hora de cuidar do xodó da casa, o pé de maças de 5 anos, que ganha cuidados especiais desde o dia que foi plantado.

A macieira é presente do genro português, esposo de uma filha de criação. Veio direto de Maringá (PR), onde um senhor produz as mudas. Para garantir que a árvore se desenvolva e continue com porte pequeno com as frutas ao alcance da mão, ele segue a risca as instruções do “professor” do interior de São Paulo.

Para garantir o desenvolvimento da árvore, se corresponde com um senhor que trabalha com mudas. (Foto: Simão Nogueira)
Para garantir o desenvolvimento da árvore, se corresponde com um senhor que trabalha com mudas. (Foto: Simão Nogueira)

As correspondências chegam por e-mail, mas como César não é muito familiar da rede, o filho que mora com ele imprime as mensagens. Com elas, foi trocando informações também em benefício da árvore.

É preciso regar duas vezes por semana com cerca 25 litros de água. Os cuidados são meticulosos. Ele lembra que já estava na hora da poda, mas com a árvore carregada, ele e os filhos ficaram com dó de descartar os frutos.

Os procedimentos tem dado certo, com um ano e meio a árvore deu 18 frutos, no segundo ano a média foi de 80, até chegar aos 120 que rendeu a leva atual.

Para conseguir o porte que árvore tem hoje com cinco anos, periodicamente, nas épocas de poda ele amarra garrafas pets com água para pesarem os galhos e garantir a envergadura que mantém a árvore baixa. Também amarra CD's no galhos para espantar os bichos que resolvem comer as maçãs, que ficam quase que reservadas só para a família.

Dali não sai nem doce e nem nenhum outro prato, não dá tempo, todo mundo come do pé. César faz questão de cuidar dos frutos de maneira orgânica, desde o adubo feito com esterco, as soluções para combater as pragas, que passam pela salmoura e outros métodos caseiros.

Todo ano, em outubro, para ser mais preciso no dia 10, ele também arranca as folhas uma por uma para a árvore crescer. “É duas semanas e ela está cheinha de novo. As maças dão o ano inteiro, só não entendi porque dessa vez elas ficaram tão pequenas. Acho que é porque o pé ficou cheio demais e a gente ficou com dó de tirar as maçãs” conta, transbordando simpatia.

A chegada aos 80 anos não pesa tanto nos ombros de César, que tem sorriso e alma de menino, apesar da sabedoria evidente. Deve ser por isso que a árvore vingou por ali.

Nessa leva nasceram mais de cem maçãs. (Foto: Simão Nogueira)
Nessa leva nasceram mais de cem maçãs. (Foto: Simão Nogueira)
Algumas ainda estão verdes. (Foto: Simão Nogueira)
Algumas ainda estão verdes. (Foto: Simão Nogueira)
A chegada aos 80 anos não pesa tanto o ombro de Cezar, que tem sorriso e alma de menino. ( Foto: Simão Nogueira)
A chegada aos 80 anos não pesa tanto o ombro de Cezar, que tem sorriso e alma de menino. ( Foto: Simão Nogueira)
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