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Comportamento

Escrito a giz, portador de HIV que pedia ajuda no sinal agradece aposentadoria

Aline Araújo | 30/06/2015 06:23
Marcos pede ajuda no sinal. (Foto: Pedro Peralta)
Marcos pede ajuda no sinal. (Foto: Pedro Peralta)

“Agradeço a todos vocês que me ajudaram a superar essa doença terrível, pois mês que vem eu vou estar aposentado. Obrigado de coração e que Deus abençoe”, a mensagem escrita a giz em uma placa de sinalização no cruzamento entre a Av. Noroeste e a Av. Júlio de Castilhos, é a forma que Marcos Nantes de 44 anos encontrou de se expressar.

Se você passa pela região é quase certo que já viu Marcos pedindo ajuda com um plaquinha indicando que ele é portador do vírus HIV e por isso está ali. Pode ser que você já tenha se perguntado porque ele foi parar no sinal para pedir esmolas. A história é longa e a resposta ele tem de cor.

Na placa ele agradece a quem ajudou ele, e avisa que conseguiu aposentadoria. (Foto: Pedro Peralta)
Na placa ele agradece a quem ajudou ele, e avisa que conseguiu aposentadoria. (Foto: Pedro Peralta)

A notícia da doença chegou no meio de um processo seletivo para trabalhar em uma construtora de São Paulo. “Eles são muito rígidos, e na bateria de exames que fizeram comigo descobriram que eu tinha HIV, não me contrataram. Quando voltei fui procurar atendimento médico, trabalhei por conta própria um tempo até o meu corpo não dar mais conta”, contou o pedreiro.

Sem saída, sem emprego e com as contas acumulando ele chegou ao desespero. “Fui pedir ajuda a uma pessoa que conhecia e ela fez essa plaquinha para mim. Muita gente acha que eu gasto o dinheiro com drogas ou bebida, mas eu tenho a minha consciência tranquila com Deus. A partir do mês que vem, quando começar a receber minha aposentadoria, vou fazer uns salgados, algo para vender e ficar tranquilo”, relata.

A aposentadoria é a sua grande conquista depois de dois anos tentando, nos órgãos competentes, conseguir o benefício, por isso a mensagem escrita na placa. “Não encontrei outra forma de agradecer a ajuda de todos a não ser em letras, é por conta dessas pessoas que eu sobrevivi e tive forças para conseguir a minha aposentadoria”, comenta.

A ajuda na rua veio como último recurso. (Foto: Pedro Peralta)
A ajuda na rua veio como último recurso. (Foto: Pedro Peralta)

Muita gente dúvida que Marcos tenha a doença, por isso ele carrega todos os exames em uma bolsa. Ao Lado B ele contou que pedir ajuda às pessoas foi o último recurso. Ele parou de estudar na quarta série, foi trabalhar em construção e depois que descobriu a doença, há cerca de dois anos e oito meses não conseguiu mais emprego, o preconceito sempre foi a maior dificuldade na hora de encontrar um trabalho, depois a saúde debilitada.

“Muita gente passa aqui me xingando, me chamando de vagabundo e mandando eu trabalhar, uma vez respondi para um senhor em uma camionete se ele me daria emprego. Porque eu só peço ajuda porque nenhum lugar contrata a gente quando sabe que a gente tem a doença”, desabafou.

No peito ele carrega um atestado da doença. (Foto: Pedro Peralta)
No peito ele carrega um atestado da doença. (Foto: Pedro Peralta)

Ele foi atrás da rede pública para conseguir o tratamento, conseguiu, mas sem emprego não tinha mais como pagar as contar de água e luz e comprar a comida para a casa que mora com os pais já idosos. É o que conta.

Apesar da hostilidade que recebe todos os dias ele deixa claro que não deseja o mal de ninguém, pelo contrário, quer o melhor e tem um sonho.

“Eu quero participar de palestras, servir de exemplo, porque o que atrapalha as pessoas é aquele pensamento 'Isso não acontece comigo', e acontece sim. Comigo foi só uma vez e mudou a minha vida para sempre”, conta.

“O que eu tenho para dizer é para os jovens sempre andarem com uma camisinha na carteira, porque uma vez é suficiente. Quem me vê aqui acha que sou forte para trabalhar, mas não é fácil, tem hora que a doença pesa”, comenta.

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