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Comportamento

Família jura que Ambrosina tem 111 anos, apesar de saúde para "lavar roupa"

Paula Maciulevicius | 06/03/2014 06:47
Dados por um tabelião na hora de expedir a primeira documentação, nome e idade foram mudados. (Fotos: Marcos Ermínio)
Dados por um tabelião na hora de expedir a primeira documentação, nome e idade foram mudados. (Fotos: Marcos Ermínio)

Ambrosina de Castro Ramos desde nascença é Aralzina Ramos no RG. No mesmo registro, 100 anos. Na afirmação da família, 111. A idade e até mesmo o nome foram ‘criados’. Dados por um tabelião na hora de expedir a primeira documentação de uma senhora já com anos vividos sem ter, ao menos na memória, uma data de nascimento.

“No documento ela tem 100 anos, mas na realidade, tem 111. Quando procurou para aposentar, ninguém sabia direito a idade dela. O tabelião ‘inventou’”, descreve uma das filhas caçulas, Ana de Castro Ramos, de 67 anos.

Nascida e criada em fazendas na região de Rio Brilhante, era fruto do primeiro casamento do pai. Foi mulher de peão já falecido e entre a enxada na lavoura e a labuta no fogão que criou 10 filhos. Veio para a cidade em 1978, quando passou a ‘existir’ no cartório.

Depois que estavam prontos os papeis, eis que no enredo de “afinal, que idade mamãe tem?”, um ex-patrão para quem a família trabalhou esclareceu quantos anos ela tinha. “Mas fizeram a identidade com o ano de 1913”, completa a filha.

O nome e a idade atribuídos à dona Ambrosina não lhe incomodaram. Quem nunca, até janeiro de 1980, como data a expedição do RG, teve o nome oficializado, não seria um papel que a tornaria Aralzina ou lhe traria mais ou menos anos de vida. “Mudar? Eu não. Não quis”, resume.

Quando perguntado se ela se sente com 100 anos, a resposta é um não "levanto 4h da manhã e lido até deitar de novo".
Quando perguntado se ela se sente com 100 anos, a resposta é um não "levanto 4h da manhã e lido até deitar de novo".

Com vestido verde de flores, brinco pequeno e discreto e calçando num pé uma rasteirinha e no outro uma botinha, Ambrosina é lúcida, ouve bem e entre uma foto e outra, revela pelos traços o rosto de milhares de brasileiros que nasceram e morreram em fazendas, onde o que valia era a lei do trabalho.

“Ela e meu pai eram dessas famílias que não registravam. Nós, quando já éramos mãe de filhos que procuramos registrar para tirar a aposentadoria. Aquele fazendeiro velho, não tive como perguntar nada, ele morreu logo. Em fazenda, não se ligava para isso. Se achava que tudo era daquele jeito, depois, morando na cidade, a gente viu que não podia ser daquele jeito”, narra Ana.

Ignorando a idade, seja ela qual for, dona Ambrosina não sente dores. Diz que só uns incômodos causados pelo modo como anda. De uns anos para cá, a senhorinha que até cozinha e lava roupa, ficou um pouco mais contida. À força. Um acidente fez com que parte do pé fosse amputado, mas bisturi nenhum pode levar a energia de quem se diz ser centenária.

Quando perguntado se ela se sente com 100 anos, a resposta é um não seguido de toda rotina que começa cedo, bem cedo. “Levanto 4h da manhã. Lido até a hora de ir deitar de novo. Eu não gosto de ficar parada, se tiver roupa para lavar, lavo. Se tiver que varrer, varro. Sento, esquento leite e vou comer. Depois, lá por 10h tomo mate e meio-dia é hora do tereré”.

Até pouco tempo ela ainda saía, ia de um bairro a outro, a pé, visitar uma filha. “Se teimar, eu vou”, a senhora fala como quem sabe que já é proibida pelos filhos.

E no final da reportagem, dona Ambrosina pede ao fotógrafo para ver a foto. “Está bonita”, diz a mim em tom de quem aprova a publicação.

Só para lembrar, a mulher mais velha do mundo tem 116 anos.

"Está bonita", diz sobre si mesma na fotografia. Ela quem pediu para ver.
"Está bonita", diz sobre si mesma na fotografia. Ela quem pediu para ver.
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