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Comportamento

Festa de igreja é local para a venda de bebida alcoólica? Vale o exemplo?

Elverson Cardoso e Anny Malagolini | 21/01/2013 08:00
Festa lotada no final de semana na São Sebastião. (Foto: João Garrigó)
Festa lotada no final de semana na São Sebastião. (Foto: João Garrigó)
Casal diz que bebe cerveja na festa católica porque ambiente familiar é espaço saudável. (Foto: João Garrigó)
Casal diz que bebe cerveja na festa católica porque ambiente familiar é espaço saudável. (Foto: João Garrigó)

Até quem não coloca uma gota de bebida na boca entra na discussão quando o assunto fica sério. O que fazer para as pessoas consumirem menos álcool, provocarem menos acidentes, menos encrencas, menos tragédias?

Há cerca de um ano, o arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas, resolveu tomar uma posição pública. Assinou um documento oficial pedindo reflexão nas paróquias sobre a venda de bebida alcoólica em festas realizadas nas comunidades católicas, mas a venda continua.

Parece que o fato de manter uma "Pastoral da Sobriedade" e ter na rotina tantos relatos dramáticos sobre o consumo da tais drogas lícitas fez o Igreja pensar.

Responsável pelo santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o padre Dirso Gonçalves diz que a discussão é polêmica e a Igreja Católica fica em um dilema. Precisa promover eventos para se manter e dar continuidade às obras, mas por outro lado, deveria ser exemplo e não incentivar o consumo.

Na avaliação dele, a atitude mais prudente seria entrar em consenso, decisão que depende da Arquidiocese.

Ou todas as paróquias assumem a comercialização e continuam a vender e garantir renda à comunidade ou proíbe-se a venda de vez, alternativa que, para ele, seria mais viável.

“Acho que tem outras opções. A bebida é só uma das coisas que se pode vender em uma festa. Daí entra a criatividade. Ficar dependendo da bebida para ter lucro é muito redutivo. Não é por aí”, avaliou, ao dizer que, na Perpétuo Socorro, nas festas, desde que assumiu a paróquia, são vendidos apenas água e refrigerante.

O problema, completou, é que se a Igreja deixa de vender cerveja, por exemplo, os eventos promovidos correm o risco de não ter o mesmo sucesso. “As pessoas não prestigiam. O pessoal, infelizmente, precisa disso. É quase uma tradição”, disse.

Padre Dirso não acredita que a polêmica prejudique a imagem da Igreja Católica e argumenta que, no senso comum, se for ver o histórico da religião, isso sempre foi claro.

Os próprios fiéis, segundo o padre, comentam o assunto e não vêem com bons olhos a possibilidade de proibição “Entre católicos uma pesquisa esmagadora vai achar que de deve ter. Nas vezes que tocamos no assunto eu percebi uma reação negativa contra o padre. Chamam de hipocrisia, de moralismo barato”, explicou.

Solange Oliveira resolveu tomar vinho.(Foto: João Garrigó)
Solange Oliveira resolveu tomar vinho.(Foto: João Garrigó)

No final de semana, na Paróquia São Sebastião, a festa em homenagem ao santo teve cerveja e vinho.

Entre as mesas com latinhas abertas e copos cheios, ninguém mais alegre do que deveria, pelo menos no início da noite. "Beber com inteligência e com limite", assim está permitido para a professora Solange Oliveira, de 60 anos, que não negou a origem italiana. Na mesa, duas taças de vinho.

Mesmo com histórico de alcoolismo na família e o drama que tudo isso pode representar, a professora conta que sabe a hora de parar e acredita que o problema está nas pessoas. “Não adianta não vender em festa religiosa, a cada esquina tem um bar, deve haver moderação”.

Em uma mesa, o casal de namorados Reginaldo Fernandes, 26 anos, e Mariana da Silva, de 22, aproveitam a tranquilidade da festa católica para uma cervejinha. “Aqui é um ambiente familiar, a igreja traz essa paz. Não há porque não vender”.

Padre Marcelo Tenório lembra que a Arquidiocese promoveu uma reunião que durou três dias, envolvendo sacerdotes, fiéis e Pastoral da Sobriedade. Ele conta que foi aconselhado para que em festas ligadas à igreja não houvesse comercialização de bebida alcoólica, mas isso quem iria definir será a própria paróquia.

"Optamos por continuar a vender bebidas alcoólicas". O argumento tem uma comparação estranha: “Há pessoas diabéticas, e por conta disso não iremos vender doces? Não vejo problema, festa é algo saudável e, a bebida também, contando não ultrapassar o limite. São Thomé de Aquino falou 'Bebe, mas evita a alegria'. Deve se beber enquanto há consciência”.

Frequentador da São Sebastão há 25 anos, o comerciante Sidnei Cunha, de 54 anos, participou dos noves dias de festa em homenagem ao santo. “Bebi os nove dias”, diz brincando. Para ele, não há problema em ter bebida em festas ligadas à igreja, por ser um ambiente familiar. “Nunca vi alguém saindo bêbado daqui”, garante.

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