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Comportamento

Filhas únicas por anos, elas viraram irmãs na marra com reencontro dos pais

Paula Maciulevicius | 12/04/2015 07:12
Filhas únicas de Jislaine e Altamiro, Ana Luiza e Camila se tornaram irmãs com o casamento dos pais, 14 anos depois de término de namoro. (Foto: Fernando Antunes)
Filhas únicas de Jislaine e Altamiro, Ana Luiza e Camila se tornaram irmãs com o casamento dos pais, 14 anos depois de término de namoro. (Foto: Fernando Antunes)

Uma visita e um e-mail para o amor interrompido por 14 anos voltar à tona e fazer com que Ana Luiza e Camila se tornassem irmãs. Filhas únicas de Jislaine e Altamiro, cabe à caçula Júlia, de 7 anos, explicar que Camila é filha do pai dela e Ana, da mãe.

Camila e Ana Luiza têm hoje 19 anos. As meninas passaram a ser irmãs há 5 e com a ajuda dos pais se recordam como foi o primeiro encontro. "Eu vi no aeroporto, era setembro de 2005, diz que eu já cheguei e peguei na mão dela 'agora vamos ser irmãs para sempre'", lembra Camila Barbieri Barbosa.

"Eu lembro que a gente trocou presente. E eu te dei um negócio super legal, que eu queria e você me deu uma cotoveleira e joelheira, porque na época eu fazia vôlei", lembra Ana Luiza Guilhermino Pereira. O presente era um caderno de ímã com vestidos para montar o look da Barbie.

As meninas juntas, no casamento dos pais. (Foto: Fernando Antunes)
As meninas juntas, no casamento dos pais. (Foto: Fernando Antunes)

Com 42 dias de diferença entre as datas de nascimento, Camila é filha de Altamiro Nogueira Barbosa. Nasceu em fevereiro, na cidade de Rio Brilhante e hoje estuda Jornalismo, enquanto Ana Luiza, filha de Jislaine Guilhermino Barbosa, nasceu em março, no Rio de Janeiro e se dedica à faculdade de Medicina.

De imediato, Ana conta que já queria que Camila morasse com ela. "Eu sempre quis uma irmã, meus pais se divorciaram eu tinha 5 anos", justifica. Mesmo que tenha demorado quase uma década, o sonho de Camila também se realizou naquele instante. Do Rio de Janeiro veio para a menina de Rio Brilhante, uma irmã. "Irmão é legal, não veio na infância, mas deu tempo da gente brincar".

O Lado B chegou até elas durante uma festa de aniversário. As duas são completamente diferentes tanto fisicamente quanto na personalidade. Mas tem em comum a cumplicidade de irmãs. Quando uma dizia que "fulana" esperou ela aquele dia e que as duas iriam para casa juntas, não aguentei e perguntei o que uma era da outra. Entre risos, elas contaram, mesmo 'cansadas' de explicar que foi a partir do casamento dos pais que elas se tornaram irmãs, 'na marra'.

Até Camila e Ana nascerem, muita coisa aconteceu com o casal. Altamiro e Jislaine namoraram durante a faculdade, entre os anos de 1989 e 1990, em Bandeirantes, interior do Paraná, cidade natal dela e onde ele cursou a faculdade de Agronomia.

Foi pelo e-mail de Altamiro que o reencontro com Jislaine aconteceu. (Foto: Fernando Antunes)
Foi pelo e-mail de Altamiro que o reencontro com Jislaine aconteceu. (Foto: Fernando Antunes)

No encontro das meninas, a cena que ficou na memória de Altamiro, hoje com 46 anos, foi das duas correndo pelo posto "Platinão". Depois de pegar a namorada e a enteada no aeroporto em Campo Grande, ele as levaria até a sua cidade natal, Rio Brilhante. "Elas já foram da mãos dadas e a Camila dizendo 'minha irmã, minha irmã'".

Quando a menina chegou na casa do avô foi logo dizendo que a tradição de presentear os 10 netos, no próprio aniversário, com um envelope com dinheiro, teria um acréscimo: Ana Luiza. "Foi a primeira coisa que ela falou, 'vô, você vai ter que dar 11 envelopes no seu aniversário", conta a madrasta de Camila, mãe de Ana, Jislaine. Ainda criança, Camila queria que Ana Luiza fosse mais que sua irmã e também ganhasse de sua família um avô.

A preocupação era de que, ao escreverem um novo capítulo de uma história que não tinha chegado ao final, Altamiro e Jislaine tivessem de lidar com ciúmes e até mesmo a desaprovação entre as filhas. "A gente pensava: 'será que elas vão se dar bem? Ou vão ficar com ciúmes de ver o pai com outra mulher, a mãe com outro homem?' Mas foi tão natural a reação delas", lembra Jislaine, agora com 45 anos. De cara, rolou uma afinidade de quem não precisa ter o mesmo sangue para ser irmã.

Para contar a história das irmãs, temos de voltar ao passado. Altamiro era amigo da irmã de Jislaine. Ela cursava Farmácia em Maringá, mas sempre voltava para a casa da família em Bandeirantes. Os dois começaram a namorar em 1989, o que justifica as fotos do casal junto na formatura dele.

Casal namorou em 1990. Fotografia é da formatura dele, na cidade natal dela. (Foto: Arquivo Pessoal)
Casal namorou em 1990. Fotografia é da formatura dele, na cidade natal dela. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Ela tinha 19 e eu 20, namoramos até julho de 1990", conta Altamiro. Mesmo que eles tivessem na cabeça que após a faculdade iriam se casar, numa época em que não existia a comunicação de hoje, ficou tudo mais difícil. Depois de formado agrônomo, ele voltou para Mato Grosso do Sul e ela continuou no Paraná.

As dificuldades em se falar - o diálogo se resumia apenas às trocas de cartas - e também o começo da carreira de Altamiro tornaram os encontros mais raros. Até que Jislaine disse que não era mais para ele ir vê-la.

A vida se encarregou de dar a eles rumos diferentes e os dois formaram famílias. Jislaine era completamente "urbana" e seguiu a linha de pesquisa em Farmácia no Rio de Janeiro. Totalmente rural, Altamiro seguiu trabalhando no interior do Estado.

"O engraçado é que cada um foi seguir a vida e você acaba se envolvendo no presente. O tempo passou, mas aquilo ainda era um caso mal resolvido. Todo dia 4 de setembro, que é aniversário dela, eu ficava me lembrando...", descreve o agrônomo.

Durante 14 anos eles não tiveram notícias um do outro. A única possibilidade era um encontro em Bandeirantes, cidade que ligava os dois de alguma forma. Em 2004, depois de se separar, Altamiro viajou com sobrinhos para aquelas bandas e resolveu bater à porta da casa que na época era da mãe da Jislaine. Foi recebido pela irmã dela, sua velha amiga.

Entre as conversas de como estava a família, de pronto a irmã contou que Jislaine também tinha uma filha, da mesma idade que a dele e que estava separada. Imagino eu que a notícia trouxe à tona todo um sentimento guardado por uma década. Meio sem graça, ele não pegou telefone, mas ficou com a referência do trabalho da ex-namorada, na Fundação Fiocruz.

Em casa ele passou a procurar até achar o e-mail. Enviou uma mensagem que foi respondida dois dias depois. A 'demora' foi justificada. Jislaine queria saber se por trás das palavras havia algum interesse. Até que no terceiro e-mail, Altamiro conta que soltou que havia sim. "Aí eu escancarei, disse que todo aniversário dela eu me lembrava".

Depois de conversas por telefone, ele pegou um avião às 3h da manhã de um sábado de junho para ir até o Rio de Janeiro. Mas antes passou na floricultura e comprou um buquê com 14 rosas. Cada uma delas representava um daqueles 14 anos em que eles tiveram separados.

Em dezembro daquele ano, eles noivaram. Três meses depois de Camila e Ana Luiza se conhecerem. O destino providenciou coincidências e Jislaine veio transferida para Campo Grande, onde a família toda mora desde então. Júlia, a caçula do casal nasceu há 7 anos.

Com a mesma troca de olhar, carregado de cumplicidade, que hoje as três filhas do casal - Camila, Ana e Julia escutam a história que as uniu e foi sim, o melhor presente que as duas mais velhas poderiam ganhar, de se tornarem irmãs, garantem.

Com o mesmo olhar, carregado de cumplicidade, que hoje as filhas do casal - Camila, Ana e Julia escutam a história que as uniu. (Foto: Fernando Antunes)
Com o mesmo olhar, carregado de cumplicidade, que hoje as filhas do casal - Camila, Ana e Julia escutam a história que as uniu. (Foto: Fernando Antunes)
 O destino providenciou coincidências e Jislaine veio transferida para Campo Grande, onde a família toda mora desde então. (Foto: Fernando Antunes)
O destino providenciou coincidências e Jislaine veio transferida para Campo Grande, onde a família toda mora desde então. (Foto: Fernando Antunes)
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