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Comportamento

Histórias de um dos guardadores de carros mais queridos e famosos da cidade

Aline Araújo | 26/11/2014 06:13
"Bigode" já trabalha há 30 anos na rua da Paz. (Foto: Alcides Neto)
"Bigode" já trabalha há 30 anos na rua da Paz. (Foto: Alcides Neto)

Um carro passa e o motorista acena, eles correspondem com outro aceno e um sorriso. É a rotina regada a bom humor que começa às 8h da manhã e vai ficando cada vez mais agitada para a dupla Hélio Pereira da Silva, de 70 anos, que carrega o apelido de Bigode, e Antônio Justino, de 63.

Eles auxiliam na busca por vagas e cuidam dos carros de quem vai almoçar na Cantina Romana, um dos restaurantes mais tradicionais de Campo Grande. Quem passa na Rua da Paz, já deve ter percebido a presença dos dois há décadas. Viraram personagens do lugar, principalmente, Bigode, há 30 anos no mesmo serviço.

Com colete de segurança e até boné ao estilo de policial de filme americano, os dois senhores recebem quem chega com toda a pompa e cordialidade. A cara sisuda é só fachada. O que faz a dupla brilhar mesmo é a simpatia e a leveza ao demonstrar que os anos já vividos não pesam tanto nas costas.

Helio viu a Rua da Paz, entre a 25 e a Rua Bahia, se transformar ao longo das 3 décadas que trabalha ali. Antônio está lá há menos tempo, 12 anos, mas o suficiente para conhecer e ser conhecido por quem passa pelo lugar com frequência.

“A maioria a gente conhece a fisionomia, e tem muita gente nova. Mas é sempre assim, a gente trata as pessoas bem e graças a Deus tô aqui há tanto tempo”, comenta Antônio. Ele é contratado pelo restaurante, antes trabalhou de vigia na empresa, mudou para São Paulo, ficou um ano por lá, voltou e foi recontratado para trabalhar como guardador de carro.

Antônio está há 12 anos no serviço.
Antônio está há 12 anos no serviço.

Trabalhando ali conheceu Helio, que tem uma história bem longa com o lugar. Prestes a completar 71 anos, fica óbvio que o que ele tem é amor pelo trabalho. “Mesmo aposentado eu trabalho, porque o dinheiro me ajuda e se eu parar de trabalhar adoeço. A gente tem se ser útil”, ensina.

A aposentadoria veio meio sem querer, por “invalidez”, depois de uma cirurgia na próstata que teve como sequela incontinência urinária. O problema foi o que levou ele à atual função, apesar do gasto com medicamento, há 7 anos seu Hélio tem um sorriso enorme pelas surpresas que a vida lhe reservou.

Criado em uma fazenda em Bela Vista, e trabalhador desde os 12 anos, ele veio para Campo Grande aos 19, recém casado e com um filho de colo. “Mudei porque as crianças iam precisar estudar, justifica”.

O amor já dura 51 anos, marcado pelo companheirismo, “graças a Deus”, reforça. Começou ainda na adolescência, ele tinha 17 anos e ela 15. “Ela teve que mentir a idade para a gente casar. Hoje a gente tem 17 netos”, conta orgulhoso.

Seu Hélio começou a trabalhar na Rua da Paz em 1984, naquela época, o chão ainda era de terra vermelha. Os terrenos onde hoje estão os prédios, pareciam mais chácaras. Foi contratado para trabalhar como segurança na casa do patrão Aladir Escobar.

Quando ele faleceu, passou a ser porteiro de uma agência de publicidade no mesmo quarteirão e depois foi trabalhar como guardador de carros. Fez curso e tudo, e hoje apresenta com orgulho a carteirinha de guarda.

Seu Hélio no trabalho.
Seu Hélio no trabalho.

“Ficou no meu coração e na minha memória a terra vermelha que era aqui, o ônibus da linha Santa Fé que passava e, principalmente, a bicharada da casa do seu Lúdio Coelho. Tinha vez que eles fugiam e era um alvoroço só”, lembra sobre a casa que ficava na esquina com a rua Bahia e tinha de pato a cervo. Cercada de tela, a casa tinha um lago, além dos animais criados pelo ex-prefeito da Capital e também ex-senador.

Hélio também aponta para o prédio do Fórum e recorda quando era um presídio ali. “Lembro do dia em que foi removido, foi outro alvoroço”, comenta.

Ele se vira para o outro lado da rua e diz que ali tinha um “goiabal”. “Mudou muito, hoje é tudo prédio”.

Por fim, pede licença e vai atender a um dos clientes que chega, mas antes explica. “Sou evangélico, cresci aprendendo a tratar todo mundo bem, com o dom de cuidar”, diz senhor antes de se despedir.

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