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Comportamento

José pagou mais pela casa só para ter uma árvore que agora querem derrubar

Thailla Torres | 18/11/2016 06:05
José e Maria, curtem a maturidade cheios de alegria e amor pela natureza. (Foto: Marina Pacheco)
José e Maria, curtem a maturidade cheios de alegria e amor pela natureza. (Foto: Marina Pacheco)

É lindo de ver o sorriso de seu José para dona Maria, quando os olhares se encontram debaixo do pé de copaíba, na frente da casa onde moram. Na rua pequena no Bairro Carandá Bosque, de longe a cor viva do verde destoa do céu azul na primavera. Quando buscaram uma vida tranquila em Campo Grande, a árvore de quase 30 metros de altura ganhou significado especial na vida dos dois. 

José Tosta Nunes tem 83 anos e já mora há seis no bairro, depois uma vida trabalhando em fazendas no interior do Estado. Ele veio junto com a esposa, Maria de Lurdes da Costa Nunes, de 80 anos.

Quando chegou aqui, comprou a casa na região pela calmaria. Mas a árvore teve peso na negociação, tanto que convenceu José a investir um pouco mais, só pela beleza do pé de copaíba na porta de casa. "Eu vim para comprar a casa e ela não estava pronta. Conversei com o construtor e ele queria um preço, mas eu queria um valor a menos. Só que daí quando a gente resolveu fechar o negócio eu decidi pagar R$ 500,00 a mais só por conta dessa árvore", lembra.

Todo atencioso, José ao lado da esposa, aproveitando a sombra da árvore. (Foto: Marina Pacheco)
Todo atencioso, José ao lado da esposa, aproveitando a sombra da árvore. (Foto: Marina Pacheco)

Quem gosta de natureza, se encanta até pela forma da árvore, parecida com um bonsai gigante. Das flores aos pássaros, os galhos se tornam morada de tucanos e araras a cada amanhecer. Mas é a sombra que conquistou o coração do seu José. "Aqui é sombra o dia todo, a hora que o sol escapa, as folhas cobrem a varanda. Eu achei que dava muito certo morar aqui debaixo dela, porque é bonita e os vizinhos colocam o carro embaixo dela", diz.

Além do frescor, seu José acredita no poder medicinal que a árvore tem. Conta que já melhorou usando o óleo de copaíba. Ali, nunca extraiu, mas revela que já ganhou de presente da filha. "Esse galho aqui não tem óleo, mas minha menina trouxe um vidrinho pra mim. Eu estava com um problema no dedo, enjoado de antibiótico e depois que passei melhorou", acredita.

Apesar de tanta beleza, a árvore gigante acabou se tornando um impasse entre seu José e vizinhos, que pediram a retirada. Sem nenhuma intenção de incomodar a vizinhança, com olhar triste, José diz que não vai impedir se for autorizado o corte, apesar de lamentar muito. "A gente não quer incomodar ninguém, eu gosto muito dessa árvore, mas tem vizinho que pediu para cortar. Eu até cheguei a ver tudo, conseguimos autorização, mas no papel da Prefeitura dizia que eu era responsável por tudo. Então eu não assinei, não quero que derrube", diz.

Ele sabe do trabalho que dá manter o pé, mas isso é problema pequeno perto da felicidade em ser dono de umas das árvores mais lindas que já viu. "Ela traz muita sujeira, é verdade, mas tenho tempo e eu mesmo limpo. Só que eu passo mais tempo aqui na varanda do que dentro de casa. Essa sombra é um presente, eu falo que é o nosso oxigênio e a nossa saúde".

No fundo de casa, para não ficar longe da natureza, José cultiva palmeiras e laranjeiras. (Foto: Marina Pacheco)
No fundo de casa, para não ficar longe da natureza, José cultiva palmeiras e laranjeiras. (Foto: Marina Pacheco)

Casados há 65 anos, a decisão de morar na cidade foi para curtir a velhice, e a árvore ajuda, afirma José. "A gente toda vida morou na fazenda. Só que eu não aguento mais trabalhar e não aguentava ficar lá sem nada pra fazer. Quando eu ficava uma semana lá, os filhos tinham que me levar direto para o médico quando eu chegava, porque não conseguia ficar parado". 

Cheio de saúde, curtir a chegada da idade levando uma vida tranquila sempre esteve nos planos dele. "Era muito trabalho, tanto pra mim, quanto pra ela. Trabalhava com criação de gado, tirava leite, fazia queijo e requeijão para vender. Não tinha máquina e tudo era feito na mão. Só que eu nunca me imaginei morrendo novo, eu já fazia o serviço pensando em algo para viver minha vida depois de velho. Aquela coisa de arrumar a cama para depois deitar sabe", comenta.

Hoje, pai de 4 filhos, avô de 10 e com um casal de bisnetos, José aproveita a sombra da árvore e cuida das plantas no fundo do quintal. "Essa árvore recorda muita coisa boa. Era um tempo gostoso, que eu trabalhava pegando terra com mão. Tanto que até hoje o que mais assisto é leilão de gado, não assisto nem jogo e nem novela", conta.

Cheia de folhas e bem cuidada na frente de casa, tudo que seu José torce é para que a árvore continue alegrando a família e conquiste também os novos vizinhos. "É muito bonita e todo mundo aproveita. Antigamente tinha orquídea plantada no tronco, mas levaram. Muita gente já parou para tirar foto e eu não me importo. Ela é boa pra gente".

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O verde destoa do azul do céu em plena primavera. (Foto: Thailla Torres)
O verde destoa do azul do céu em plena primavera. (Foto: Thailla Torres)
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