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Comportamento

Longe de tudo e de todos, grupo tenta acabar com anorexia sexual e social

Paula Maciulevicius | 30/09/2013 06:48
A oração da serenidade é o começo e o fim da reunião dos que sofrem a compulsão de evitar relacionamentos.
A oração da serenidade é o começo e o fim da reunião dos que sofrem a compulsão de evitar relacionamentos.

De repente você pega um papel, passa os olhos, e se vê diante de uma enxurrada de ‘sim’. Passa longos períodos sem se envolver num relacionamento amoroso e sexual? Sem atividades sociais? Fica deslocado em grupos? Tem medo de ser notado? Evita relacionamentos com o sexo oposto ou com o próprio sexo? Quando está em um relacionamento, percebe que por um longo tempo não experimentou o romance, a sexualidade, intimidade, ou amizade?

Longe de querer dar um diagnóstico, mas são perguntas que abrem uma caixa de sentimentos onde ninguém sabe o tamanho, a profundidade e nem o que se esconde dentro dela.

Foi mais ou menos assim que a advogada de 48 anos percebeu, ou melhor, admitiu para si, que sofria de anorexia emocional. “Eu conhecia a anorexia de alimento, não de relacionamento”. A dificuldade começava desde tocar as pessoas. Um abraço ou aperto de mão então era do que ela mais queria fugir. Na igreja, contava os minutos entre o término do sermão, até o pastor se dirigir à porta para cumprimentar o público. Ela saía antes que tivesse de passar por isso. “Coloquei um blindex. Não me relaciono, não nutro, não crio laços. Passei a me autoboicotar. E se ele só quiser isso? Então eu fui lá e falei, além de me levar para cama, o que mais você quer?”

Na contramão de quem vive o drama da compulsão pelo sexo, há os que se encaixam em outra dependência. Como uma desordem alimentar, definida pela maneira compulsiva de evitar comida, no amor e no sexo, a anorexia é a compulsão em evitar o dar e o receber. Onde se diz não para a nutrição social, sexual e emocional. A doença atinge muito mais gente do que se pode contabilizar. Não é só aquele tímido do grupo, pode também estar lá dentro da alma de quem vive rodeado de amigos.

O grupo que discute os pontos extremos da dependência do amor e do sexo se baseia nos 12 passos do AA.
O grupo que discute os pontos extremos da dependência do amor e do sexo se baseia nos 12 passos do AA.

O anoréxico não é só quem se abstém. Ele pode estar sem um relacionamento há anos, ou viver um com o dilema de não estar junto emocionalmente. As vítimas se mantêm longe de experimentar o amor ou fazem de tudo para não entrar no campo sinistro que tende a ser a intimidade. Uma das causas pode estar no medo da rejeição.

No automático, ele não faz, não acredita, não se compromete e nem se entrega. Faz do medo da intimidade uma atitude constante. É a recusa de se permitir. E para levar isso adiante, se utiliza do autoboicote como ferramenta.

“Tenho medo de me doar. É medo da rejeição, então eu nem me doo. Eu não entro em um relacionamento profundo, eu fico nas bordas. Emocionalmente eu estou fechada e foi difícil entender que eu era impotente nas minhas emoções”.

O relato é da companheira de 54 anos, vinda de São Paulo. Neste final de semana, ela esteve no Dasa, grupo de Dependentes de Amor e Sexo Anônimos de Campo Grande, para explicar que a anorexia também é uma dependência.

“A compulsão e a anorexia não são opostos. Os dois derivam as mesmas emoções não preenchidas, quando a nossa mente pensa se eu for por aqui, eu chego na dor, pelo excesso ou pela anorexia”.

Há 7 anos no Dasa ela desmistifica o termo e joga na roda o que já passou pela nossa cabeça, o que coloquialmente, damos o nome de paranoia. “Nunca me achei suficiente para alguém e nem merecedor de relacionamentos. Você pensa vai que eu gosto dele e ele me rejeita? Então eu vou rejeitar primeiro. Eu crio um blindex, eu me distancio para me proteger”.

O grupo que discute os pontos extremos da dependência do amor e do sexo se baseia no programa de recuperação em 12 passos do AA. Começa e termina com a oração da serenidade e numa sala de 40 pessoas, o que se ouve e se fala ficam restrito aquelas quatro paredes.

A terapia segue os chamados cinco recursos básicos para por um basta às consequências que a dependência nos submete: sobriedade, apadrinhamento e reuniões, passos, serviço e espiritualidade.

O primeiro passo é de admitir para si. “Admitimos que éramos impotentes perante a Dependência de Amor e Sexo - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas”.

Num trabalho de 12, o passo final é a missão que cada um passa a ter de levar os ensinamentos para todos os campos. “ Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos, procuramos transmitir esta mensagem aos dependentes de amor e sexo e praticar estes princípios em todas as áreas de nossas vidas”.

O Dasa se reúne todos os sábados, às 17h30 na rua Maracaju, 136.

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