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Comportamento

Mãe descobriu câncer na gravidez, perdeu cabelo e ganhou vida com João Vicente

Paula Maciulevicius | 25/09/2015 06:23
Grávida, mãe teve a companhia do filho na quimioterapia durante toda gravidez. (Foto: Studio Mais Fotografia)
Grávida, mãe teve a companhia do filho na quimioterapia durante toda gravidez. (Foto: Studio Mais Fotografia)

O resultado dos exames confirmaram dois nódulos na mama esquerda e a necessidade de uma cirurgia o quanto antes para retirá-los. Diante da notícia, um filme passou na cabeça da mãe. Professora, casada, mãe de um menino de 1 ano, Grassieli tinha vivido há pouco a experiência da morte provocada pela doença com o pai e agora se via no centro de um novo capítulo dentro do mesmo enredo e ainda acompanhada de um bebê que estava crescendo com ela.

"Eu tinha acabado de saber da gravidez, o médico falou que ia ter de ver com o anestesista como iria operar. O nódulo cresceu rápido com a gravidez e eu precisava ser 'efetiva'", relembra Grassieli Ramalho Giraldelli, de 33 anos, as palavras do médico. A história começa em Três Lagoas e termina em Campo Grande. De mudança, a família toda veio para a Capital.

Foi na sessão de fotos que Grassieli tirou e jogou os lenços para cima, pela primeira vez. (Foto: Studio Mais Fotografia)
Foi na sessão de fotos que Grassieli tirou e jogou os lenços para cima, pela primeira vez. (Foto: Studio Mais Fotografia)

Ao mesmo tempo em que ela tinha medo, a esperança mandava dizer que não era nada. As perguntas quanto à gravidade dos nódulos, o tipo e se era ou não a doença só foram respondidas no centro cirúrgico. Isso porque os últimos exames nem passaram por ela, foram direto para as mãos do cirurgião.

"Eu perguntava no quadrante ou na mama? É câncer? E ele me respondeu é câncer". "Quando acordei, a primeira coisa que veio foi: estou com câncer. Foi tudo tão rápido", relembra. As falas de Grassieli reproduzem dois momentos, na sala de cirurgia e já na recuperação, após passado o efeito da anestesia.

Chorar ela sabia que não ia resolver. Tratar era a saída para quem tinha um filho e um bebê a caminho. Até então Grassieli nunca tinha visto e nem ouvido falar de grávidas tratando um câncer. O tratamento decidido após a retirada da mama foram de seis quimioterapias que se transformaram em oito. No final, ela iria para a radio, mas só depois do nascimento do bebê.

"Como o câncer era agressivo eu não poderia para o tratamento, porque corria risco de voltar", explica. E foram nas sessões de quimioterapia que ela e o bebê se aproximaram ainda mais. Sempre às quartas-feiras, primeiro no braço e depois no peitoral através de um cateter, os remédios entravam e dias depois a reação vinha sem perdoar. Eram dores, diarreias e vômitos.

Agraciado por Deus, João Vicente veio como aquele que vence. (Foto: Studio Mais Fotografia)
Agraciado por Deus, João Vicente veio como aquele que vence. (Foto: Studio Mais Fotografia)
Na selfie, a última quimioterapia feita em setembro. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na selfie, a última quimioterapia feita em setembro. (Foto: Arquivo Pessoal)
O beijo do irmão na saída da família para a maternidade. (Foto: Arquivo Pessoal)
O beijo do irmão na saída da família para a maternidade. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Eu nunca fiquei sozinha, ele sempre me fazia companhia. Não ficava agitado", lembra. Os médicos explicaram a ela que parte da medicação entrava na placenta e que um dos riscos, era do bebê nascer prematuro. "Tinham várias possibilidades, ninguém sabia precisar o que podia ou não acontecer", conta.

Paralelo ao tratamento, veio a queda do cabelo. De início, deixada de lado, mas que depois ganhou peso quando Grassieli via no espelho e sentia com as mãos os tufos que caíam. Os lenços, apenas um deles comprado por ela e o restante, presentes de amigos, faziam parte da rotina até na hora de dormir.

Eram apenas 3 anos de casada e ela chegou até a dizer ao marido que ele poderia se separar dela. "Ele era novo, bonito... Mas ele me disse que no casamento, o padre tinha dito na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E ele ficou o tempo todo do meu lado", narra a professora.

A intenção era fazer a cesariana quando Grassieli chegasse nas 38 semanas. Era o tempo exato da pausa entre a quimioterapia e o nascimento do filho. O mínimo sugerido pelos médicos era um intervalo de três semanas. A última quimioterapia foi dia 3 de setembro de 2014. O caçula da família viria dia 25, mas quatro dias depois de ela deixar o hospital, foi a vez de correr para a maternidade.

O menino adiantou e escolheu o dia que queria nascer, feriado de 7 de setembro. "Minha bolsa estourou com 35 semanas, praticamente 8 meses. O problema de ele nascer logo depois da quimio era a baixa imunidade. Quando eu fazia a sessão, a minha ia lá embaixo. Ele ainda na minha barriga estava protegido, mas fora...", descreve a mãe.

As dores que indicavam que estava na hora, de início, foram confundidas com a reação da quimio. Grassieli estava acostumada a senti-las, então não percebeu que eram contrações.

João Vicente nasceu dia 7 de setembro de 2014, com 2.210 kg. (Foto: Arquivo Pessoal)
João Vicente nasceu dia 7 de setembro de 2014, com 2.210 kg. (Foto: Arquivo Pessoal)
A felicidade registrada: o primeiro beijo no filho "que venceu". (Foto: Arquivo Pessoal)
A felicidade registrada: o primeiro beijo no filho "que venceu". (Foto: Arquivo Pessoal)

Após ser examinada, era mesmo a hora de João Vicente nascer. O medo passou a ser o de o pequeno ter de ir para a UTI. "Ele nasceu pequenininho, magrinho. Quando me trouxeram ele, era tanta alegria. Meu coração estava tão feliz, era felicidade, de ele ter vindo bem". E João foi direto para o quarto.

A mãe teve pouco leite e não chegou a amamentar o filho, de fato. Uma dor para ela. Mais uma no currículo. As sessões de radio começaram quatro semanas depois do parto e foram 25 delas. No dia do aniversário de 2 anos do primogênito, Theo, ela tinha um motivo a mais para soprar as velinhas: a alta.

Desde então, Grassieli faz exames a cada três meses como "manutenção". Assim como na sessão de fotos da gravidez de João, os lenços foram jogados para cima e ela viu os cabelos começando a nascer de novo. Junto com uma nova vida. 

"Os dois primeiros anos são delicados, mas por enquanto, graças a Deus, não tem nada", diz. O tratamento é para sempre e a vontade de ela viver, também. Quando ouve por aí que a história que ela protagonizou é das mais tristes já contadas, Grassieli retruca.

"Não foi triste, olha o meu presente. Eu tive que passar, mas deu tudo certo". O medo agora é o de dizer que está curada. Grassieli entendeu por que do câncer ser traiçoeiro. "Você está bem hoje, mas amanhã... Quando você tem que ter, não tem para onde fugir. Ele desenvolve rápido". 

A definição de "vencer" a doença, ela deixa de lado. Por incômodo, prefere dizer que passou por essa. A vitória veio com outro nome. Quando descobriu que seria um menino o companheiro de quimioterapia, ela foi buscar o significado da indicação do pai: Vicente.

"Quando vi que era 'aquele que venceu', pronto". Junto de Vicente veio o primeiro nome João, uma homenagem ao avô paterno de Grassieli. "Significa agraciado por Deus. João Vicente venceu e teve a graça da vida". 

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Grassieli e os dois tesouros: João Vicente e Théo. (Foto: Gerson Walber)
Grassieli e os dois tesouros: João Vicente e Théo. (Foto: Gerson Walber)
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