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Comportamento

Me chamam de lésbica só porque decidi viver sem garotos e solteira aos 23 anos

Thailla Torres | 09/08/2016 08:32
Bárbara se dedica aos livros, filmes e a religião. E ainda por cima, se diz mais feliz sem os garotos. (Foto: Fernando Antunes)
Bárbara se dedica aos livros, filmes e a religião. E ainda por cima, se diz mais feliz sem os garotos. (Foto: Fernando Antunes)

Aos 23 anos, e com uma experiência pequena em relacionamentos, a jornalista Bárbara Cavalcanti decidiu seguir um caminho diferente do convencional para a idade dela, graças a algumas desilusões amorosas. O que para alguns soa como drama, para a jovem é uma escolha. Ela diariamente vai contra os argumentos que tentam a convencer de ser diferente. Parece até improvável quando se fala de sentimentos. No entanto, morando sozinha, Bárbara leva firme o desafio e fala sobre a vida solteira aqui na Voz da Experiência.

O coração partido chegou cedo e tudo que ela deseja é ser repeitada pela escolha de viver sozinha. (Foto: Fernando Antunes)
O coração partido chegou cedo e tudo que ela deseja é ser repeitada pela escolha de viver sozinha. (Foto: Fernando Antunes)

“Eu sei que muita gente vai me julgar dizendo que daqui uns dias eu vou aparecer casada. Mas eu já não me importo, eu só acredito que as pessoas precisam respeitar a decisão e a maneira de ser feliz de cada um.

Mesmo que eu seja nova, a maioria das minhas experiências amorosas foi na adolescência e sempre fui eu que gostei do menino primeiro. Em poucos casos fui correspondida e, por fim, eu tinha que dar um jeito de deixar de gostar. 

Hoje, confesso que eu sou boa nisso. Mas foi um processo, até eu aprender e ver que não precisava estar com ninguém para ser feliz.

Nasci em Recife, fui criada pela minha avó. Meus pais também não viveram juntos. Quando eu tinha 10 anos, minha mãe cansou daqui, largou tudo e decidiu viver uma nova vida na Alemanha. Eu claro, fui junto. Diferente de mim, que hoje vivo sozinha, minha mãe acabou se envolvendo em outros relacionamentos. 

Quando cheguei lá, o choque cultural foi enorme. Nunca fui de ter muitos amigos e em um país que não conhecia, foi um desafio maior ainda. 

O primeiro relacionamento sério foi aos 16 anos. E a primeira desilusão também. Eu conheci um garoto assim que cheguei na Alemanha, aos poucos nos tornamos amigos, era meu único amigo.

Passamos anos juntos assim, até que um dia, quando eu já tinha 15 anos, ele decidiu que deveria namorar comigo por tudo nessa vida. Dá até vergonha, mas ele fez de tudo para me conquistar e até fez cena de filme. Um dia me levou em um lago, com aquele cenário de outono, folhas caídas no chão e uma cena que faria qualquer adolescente desmaiar.

Não demorou nenhum ano pra decepção. A gente ficava pouco juntos, tive uns problemas de família e quando você tem o namorado, sempre espera que ele esteja ao seu lado nas horas difíceis. Mas não, naquele período o meu padrasto faleceu e em um dos momentos mais difíceis pra mim, ele se envolveu com uma amiga minha. Supostamente amiga né, porque eu descobri a traição dos dois lados e que já vinha acontecendo há um bom tempo.

Depois das dores, minha mãe quis que eu viesse embora para Brasil. Eu já estava com 17 anos, vim morar em Campo Grande para estudar. Quando cheguei aqui foi outra realidade, os meninos começaram a se interessar por mim e um deles foi quem me ensinou o que era ficar. Parece bobo não saber, mas eu mal tinha namorado direito.

Só que mais uma vez esse e outros relacionamentos mostraram que eles não queriam nada comigo da maneira mais clássica possível, ficando com outras meninas. Um deles até se relacionou com uma das meninas que eu era amiga e isso acabou me magoando mais. Eu esperava mais dela e isso trouxe a sensação de traição.

Definitivamente, esse meu passado de nunca dar certo e nunca ser correspondida, contribui para eu pensar sobre os relacionamentos hoje. Porque realmente nunca deu nada certo.

Hoje eu penso duas vezes se eu quero gostar de um menino. Decidi que não quero. Não sou infeliz por isso e também não sou lésbica. As pessoas duvidam da minha sexualidade por isso, mas foi uma escolha que eu fiz.

O problema é que ninguém me deixa ser feliz solteira e sem garotos. Diariamente todo mundo me desmerecesse, dizendo que eu não passei por nada, cheio de julgamentos pela minha escolha, pela minha idade e até minha sexualidade.

Também não é falta de amor, sempre escuto alguém dizer “mau amada”, mas não é isso. O meu conceito de amor e de estar com outra pessoa é bem diferente do que a maioria acha. Para mim, o amor é você escolher voluntariamente, aturar outra pessoa. É você aceitar que cada um tem seus problemas e se esforçar para viver com essa pessoa. Sendo assim, você vai colocar princípios em prática para fortalecer o amor.

Sem me relacionar com alguém há 4 anos, não ligo mais quando as pessoas falam. Me cansei do que todo mundo fala. E comecei a observar, quando uma pessoas está gostando de alguém, o que parece é que ela não aceita nenhum outro tipo de felicidade. Eu sei e vejo isso com as minhas amigas. A maioria está namorando, casando e até tendo filhos na minha idade. Mas eu não julgo e pelo contrário, fico feliz pela realização delas. Mas isso não é minha felicidade.

Quando eu falo para as pessoas que não quero ninguém. Me dizem coitadinha e acham que eu fico sozinha em casa. E eu digo que sim, porque eu amo levar minha vida desse jeito.

É uma rotina diferente, eu sei, mas foi uma escolha minha. Não vou para a balada, não fico em bares, não saio nas mesmas turmas toda semana. Realmente não tenho um circulo de amizade comum. 

E eu sou feliz, tenho momentos de solidão, é verdade. Mas é fácil pra mim lidar mais com a solidão do que com uma pessoa. Então, se todo mundo pensasse que o importante é ser feliz, eu e qualquer outra pessoa não receberiamos tanto julgamento.

Eu só quero ser feliz solteira, porque fica um drama tão grande em cima da vida de solteira, que as vezes o clima fica até pesado. Só acho que cada um pode ser feliz do jeito que acha certo. Se você tem plena consciência de que é aquilo que você quer e isso é o que te faz feliz. Qual o problema?"

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