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Comportamento

Me libertei radicalmente de uma vida amarrada ao escritório das 8h às 18h

Ângela Kempfer | 06/04/2016 06:56
Bruna em uma das paradas pelo Brasil, em Cumuruxatiba, na Bahia.
Bruna em uma das paradas pelo Brasil, em Cumuruxatiba, na Bahia.

O texto é enorme porque o que não falta ultimamente na vida de Bruna Morales são acontecimentos. A menina, que começou no mundo do trabalho de forma super convencional, de repente, achou outro rumo. Largou o emprego, foi morar em um hostel e mudou até a alimentação. Bruna resolveu compartilhar o que aprendeu nesse caminho de descobertas aqui no Voz da Experiência.

 

Eu me formei em jornalismo no final de 2010, em Campo Grande, fui trabalhar na Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e, movida pelo desejo de me descobrir profissionalmente e também pela curiosidade em fazer um curso de teatro, mudei para São Paulo em fevereiro de 2013.

Assim que cheguei consegui um emprego como assessora de comunicação em uma importadora e me matriculei no curso técnico de arte dramática do Senac, que só começaria em junho. Acontece que, após um ano da minha chegada, todas as minhas angústias profissionais estavam de volta, junto com a certeza de que estava no lugar errado. Pra mim não fazia o menor sentido ficar amarrada em uma cadeira, dentro do escritório, das 8h às 18h.

E quando os domingos à noite passaram a ser sinônimos de crises de ansiedade pela iminência da segundona, foi a hora de chamar o chefe pra conversar. No final de agosto de 2014, saí sem qualquer perspectiva, apenas com algum dinheiro guardado, mas muito feliz e aliviada. De mais a mais, o curso de teatro entrava na reta final e eu teria mais tempo pra me dedicar a ele.

Porém, em meados de fevereiro do ano seguinte, o desespero foi batendo bonito: o curso de teatro tinha chegado ao fim, não sabia o que fazer com essa formação (e confesso que continuo sem saber, apesar de gostar muito), meu relacionamento não estava bem, não tinha uma renda fixa e as economias estavam no fim.

Meditação na Floresta Nacional do Tapajós, em Santarém (PA).
Meditação na Floresta Nacional do Tapajós, em Santarém (PA).

Entre tropeços, choros e colos das amigas, em abril saí de casa, abri uma MEI (microempreendedor individual) e no início de maio cheguei para trocar hospedagem por trabalho no hostel Ô de Casa, na Vila Madalena. Magicamente ou não, no mesmo dia que decidi me mudar, consegui fechar um trabalho mensal para uma agência de comunicação.

E depois? Depois achei que viveria por lá só até encontrar uma pessoa massa para dividir um apartamento. Só que não. Morei quase três meses nesse hostel, conheci um outro universo, o da troca, e mais um tanto de gente que me deixava desconfiada de que, na verdade, existiam mais estilos de vida.

Aí foi fácil decidir fazer uma coisa que sempre gostei: v i a j a r.

O meu serviço para a agência era home office, pela internet, e então eu conseguiria ter a liberdade para isso. O segundo passo foi arrumar as minhas duas malas de rodinhas, cheias de roupas novas, porque nesse meio tempo participei do programa “Esquadrão da Moda”, e partir para a estrada.

Eu tinha um roteiro de cidades, mas a coisa meio que se transformou no caminho e de 14 de agosto a 25 de novembro de 2015 passei por Fortaleza, Juazeiro do Norte (e arredores), Jericoacoara, Belém, Santarém, Alter do Chão, Manaus e acabei na Bolívia. Lá fui para Santa Cruz, Sucre, Tupiza, tour para o Salar de Uyuni, La Paz e Lago Titicaca. Voltei para o Brasil por Corumbá e em Campo Grande fiquei até para as festas de fim de ano, só absorvendo tudo o que tinha vivido e recarregando as energias no colo da família.

Uma das viagens foi até Inhotim, em Minas Gerais.
Uma das viagens foi até Inhotim, em Minas Gerais.

Acabou? Não.

Nessa primeira etapa da viagem descobri que o mundo era abundante e justamente por isso, em dezembro, não me descabelei com o súbito fim da minha prestação de serviço para a tal agência. Eu não tinha porque enlouquecer. E sim só seguir - e dessa vez com uma mochila só.

Em janeiro parti para São Paulo, em seguida veio Belo Horizonte, Ouro Preto (fui e voltei de carona. Experiência incrível!), Inhotim (maior museu a céu aberto de arte contemporânea da América Latina), Rio de Janeiro (estou aqui agora) e Serra Grande, Bahia, de onde voltei há um mês.

Olha, se você já foi para a Bahia, sabe que ela não é brincadeira. Junto com a Floresta do Tapajós, no Pará, e Inhotim, em Minas, foi um dos lugares que mais mexeu comigo, me revirou mesmo.

Eu fui para participar de um projeto de bioconstrução e ver mais de perto o que seria a permacultura, temas que surgiram para mim no ano passado, durante a viagem. E dentre muitos aprendizados de vida que tive lá, como por exemplo, como é conviver no coletivo, não esquecer de levar em conta o tempo e a vivência do outro... entendi que é totalmente possível realmente viver permeada dos assuntos que gosto e acredito demais: a sustentabilidade, o respeito ao meio ambiente e ao próximo, aos sagrados (feminino e masculino) e a desescolarização.

Fato é que após dez meses da mudança para o hostel, muita coisa se transformou dentro de mim. Hoje, por exemplo, não penso mais que os veganos são malucos, parei de comer carne vermelha e de frango, e estou com minha entrada confirmada para um retiro de meditação chamado Vipassana (aquele do livro Comer, Rezar e Amar).

Aliás, o retiro é no final de abril, até lá preciso arrumar alguns freelas para juntar dinheiro e começar a pensar para aonde vou depois... Tenho aqui algumas coisas em mente, mas por enquanto nada definido. Inclusive, se você quiser ir descobrindo comigo, pode me seguir no Facebook (brunagmorales e Contagie-se) e acompanhar meu blog.

Enfim. Para mim isso tudo foi uma descoberta absurda, sabe? E eu sei bem o tanto que caminhei para chegar até aqui e conseguir entender essa outra realidade.Quando saí de Campo Grande para me “descobrir profissionalmente”,na verdade estava era saindo em busca de mim mesma. Só que agora eu aprendi que, ainda que o ato de buscar seja algo fundamental para a nossa vida, também chega aquele momento no qual precisamos nos desapegar dessa busca, para que o encontro seja possível. E não é lindo que seja assim?

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