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Comportamento

Mestre das agulhas, Marcelo "crocheta" há 14 anos sem medo de preconceitos

Num mundo em o machismo está ganhando cada vez mais evidência, Marcelo põe a cara à tapa diariamente e sai de Jundiaí para ensinar homens e mulheres a fazerem crochê

Paula Maciulevicius | 15/02/2017 06:25
Descoberta do crochê veio a partir de tapete que ele viu e quis fazer igual em casa. (Foto: Alcides Neto)
Descoberta do crochê veio a partir de tapete que ele viu e quis fazer igual em casa. (Foto: Alcides Neto)

Já é a quarta vez que Marcelo Nunes desembarca em Campo Grande para um curso de crochê. Considerado mestre das agulhas, crochetar é com ele mesmo. Queridinho das alunas, o paulista manda recado "crochê não tem sexo e nem idade, é uma arte".

Aos 42 anos, Marcelo é uma simpatia. Distribui sorrisos e beijos a cada senhorinha que se despede. Na turma que o Lado B acompanhou, na manhã dessa terça-feira na loja Moniday, só tinham mulheres, mas ele garante que já ensinou crochê para crianças e homens.

A gente foi até lá porque num mundo em o machismo está ganhando cada vez mais evidência, Marcelo põe a cara à tapa diariamente e sai da cidade onde mora, Jundiaí, no interior de São Paulo, para ensinar homens e mulheres a fazerem crochê em todo País.

Marcelo dá a cara à tapa todos os dias, ensinando crochê no País todo. (Foto: Alcides Neto)
Marcelo dá a cara à tapa todos os dias, ensinando crochê no País todo. (Foto: Alcides Neto)

Quando ainda era cozinheiro, 15 anos atrás, Marcelo viu um tapete que gostaria de ter em casa. "Eu nem sabia que era feito de crochê, fui descobrir com a minha mãe e a minha tia, que me ensinaram os primeiros pontos: correntinha, ponto alto e baixo", lembra. 

Depois disso, ele se apaixonou. "O crochê é assim, quando a gente não conhece ainda, se apaixona. É uma arte milenar e que a cada ano se renova e aparecem produtos novos para se trabalhar", defende. 

De crocheteiro são 14 anos, de crochê designer pelo menos seis. Produzindo para fora e ensinando o público em workshops, Marcelo percebe que a costura é vista como passatempo, terapia e também ganha pão. 

"Eu mesmo aprendi na raça. Nunca fiz aula de crochê e digo até hoje 'será que eu faço do jeito que tem de fazer'?", se pergunta. E ele produz de caminhos de mesa até roupas com técnicas que ele mesmo vai aprendendo. "Quando dá certo, passo para frente", diz.

Agulha anda no bolso de professor. (Foto: Alcides Neto)
Agulha anda no bolso de professor. (Foto: Alcides Neto)
Ferramentas do trabalho. (Foto: Alcides Neto)
Ferramentas do trabalho. (Foto: Alcides Neto)
Marcelo nunca sofreu preconceito, embora saiba que ele existe na profissão. (Foto: Alcides Neto)
Marcelo nunca sofreu preconceito, embora saiba que ele existe na profissão. (Foto: Alcides Neto)

Preconceito, por ser homem, Marcelo afirma que nunca enfrentou, mas sabe que existe. "Até hoje eu agradeço muito, porque meu trabalho tem sido visto por todos. Homens, crianças, mulheres. Sou muito bem recebido em todos os lugares que chego", admite.

O nome dele já virou marca e Marcelo estampa revistas e tem até uma linha da EuroRoma associada ao seu nome. A profissão na qual ele se apresenta também é criação sua. "Crochê designer? É devido a elaboração da peças. O ponto de crochê já existe, mas a execução dos modelos que você acaba fazendo um design em cima daquilo", explica. 

Democrático, Marcelo ainda ergue a bandeira e procura mostrar que "crochê não tem sexo e nem idade, é uma arte que qualquer um pode fazer". "Crianças que a mãe vem dizer que depois que eles viram homem fazendo na TV, quiseram aprender", conta.

E em Campo Grande, até a mais velha aluna do curso está de prova da 'democracia' que o crochê carrega nas agulhas. Dona Elisa de Fátima Dutra, tem 73 anos e faz crochê há pelo menos quatro décadas. Aprendeu com a mãe e depois foi se qualificar para ensinar.

"Desde que me conheço por gente e depois me formei em trabalhos manuais, para ensinar", conta. Sobre homens aprendendo e até ensinando, ela não tem nem o que questionar. "Se eu estranhei? Não, de jeito nenhum. Até porque já dei aula para muitos homens. Se eles são melhores? Isso vai da dedicação de cada um, mas tem quem tenha talento sim", acredita.

Com uma agulha que carrega no bolso, Marcelo acrescenta que onde chega, se puder, começa a crochetar. 

"Quando fiz meu primeiro crochê, nunca imaginei que ia tornar isso uma profissão", confessa. E se o nome dele vende tanto hoje justamente por ser homem, Marcelo responde que não sabe ainda o que o fez chegar onde está.

"Às vezes eu me faço essa pergunta mesmo. Como estou onde estou hoje? Acho que é porque faço com amor e tudo o que eu sei, procuro ensinar com amor. Esta é a grande diferença", reforça.

Quanto à mãe e a à tia que lhe ensinaram os primeiros, pontos, hoje dona Lourdes e dona Nair quem aprendem as técnicas com ele.

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Alguns dos tapetes feitos pelo mestre do crochê. (Foto: Alcides Neto)
Alguns dos tapetes feitos pelo mestre do crochê. (Foto: Alcides Neto)
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