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Comportamento

Motivos para se ter alegria numa semana com tantas tragédias pelo mundo

Andrea Brunetto | 27/07/2014 08:34
Euforia de Duda em viagem à Europa.
Euforia de Duda em viagem à Europa.

Saindo do metrô, na estação Concorde, um rapaz cego estava parado, sozinho. Ao passar por ele, perguntei a minha amiga: vamos oferecer ajuda? A estação tem muitos caminhos para outras linhas, escadas; pensei que não conseguiria sozinho. Achei que ele escutou ou entendeu que se referia a ele. Riu. Continuei, minha amiga me desestimulou. Subi uns degraus, parei e voltei. Será que posso te ajudar em algo? Queres subir? Ele novamente riu, disse que não precisava, que estava tudo bem. E ainda acenei, dando tchau e subi. Minha amiga estava certa: ele não estava com feições de alguém perdido ou desamparado.

No dia anterior, em outro metrô, em pé, perto da porta, estava um homem árabe, jovem, com uma expressão desamparada, perdida. Por que, foi o que fiquei me perguntando. Algo pessoal ou também o que está acontecendo na Faixa de Gaza influencia seu sofrimento? Um rosto jovem e bonito, mas devastado por uma dor; um rosto com total desesperança.

Estou em Paris para alguns dias de férias e vários de congresso. A Faixa de Gaza é tema onipresente na cidade. Vários debates com especialistas nos programas de entrevistas, muitíssimas cenas nos telejornais, Meus colegas psicanalistas de Israel não puderam chegar ao congresso; manifestações nas ruas. Paris tem muitos árabes, mas não apenas eles acham que é um absurdo ataques a escolas, crianças mortas, civis mortos, funcionários da ONU mortos. Isso já ultrapassou os limites. E os tratados internacionais.

Três aviões caem em uma semana, na pior semana para a história da aviação. Vejo na televisão histórias dos franceses que morreram. Por exemplo, no avião que caiu em Taiwan estavam dois jovens estudantes de medicina que iriam fazer um estágio no hospital de lá. Um programa parecido ao Ciência sem fronteiras.

E ainda tem os três que se foram essa semana no Brasil: Rubem Alves, João Ubaldo Ribeiro e Ariano Suassuna.
Estou nessa viagem com várias amigas psicanalistas e outra que nos acompanha só para passear. E também de sua filha. Duda tem nove anos. Ao chegar diante do Monte San Michel eu disse, estupefata diante da grandeza desse trabalho humano feito há mais de dez séculos: nem acredito que estou aqui. Duda responde: e eu nem acredito que estou na França. Isso foi há seis dias, agora ela já acredita. E anda saltitando pelas ruas de Paris numa alegria contagiante.

Diante dessa semana difícil – com o massacre em Gaza, a queda do avião abatido por um míssil, e as dos aviões de Taiwan e agora Argélia – nos dois primeiros casos se evidencia a limitação humana para tratar essa aptidão para a violência. Nos outros, evidenciam-se as condições metereológicas e a pequenez do ser humano diante delas.

Para amenizar esses sofrimentos que parecem sem fronteiras fico lembrando do rapaz cego e tranquilo, rindo de minha confusão ao tentar ajudá-lo. E da grandiosidade do Monte San Michel, construído há séculos, pedra sobre pedra, levadas para cima de uma montanha, de uma ilha tomada pelas marés. E da alegria de Duda, que se expande dia a dia.

Motivos para se ter alegria numa semana com tantas tragédias pelo mundo
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