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Comportamento

Na experiência de ser Noelete por 1 dia, descobrimos como nasce trauma de Natal

Naiane Mesquita | 11/12/2016 08:58
Isabelly até ganhou bala, chegou perto, mas sentar eu não consegui convencer (Foto: Fernando Antunes)
Isabelly até ganhou bala, chegou perto, mas sentar eu não consegui convencer (Foto: Fernando Antunes)

São três camadas de roupa para "vestir" literalmente o personagem de Mamãe Noel ou Noeletes. Meia-calça branca, short, blusa e um vestido por cima. Sim, o traje é quente. Para finalizar, uma tiara nos cabelos, que estão sempre soltos e bonitos. Tudo o esforço é para dar um ar ainda mais angelical a quem assume a responsabilidade de deixar os olhos das crianças brilhando de alegria.

Tudo bem, que nem sempre é assim. Durante as horas de trabalho é comum ouvir os pais falarem "se não sorrir o Papai Noel não dá presente" ou o clássico "se não se comportar não vai ganhar a bicicleta". Apesar de negarem nas entrevistas, durante o momento de maior tensão, ou seja, convencer a criança a tirar uma foto com o bom velhinho, acontece de tudo. E assim surgem os primeiros traumas natalinos, da pressão infundada em cumprir com o protocolo. Bom mesmo é deixar as crianças livres. 

Sara sentou, mas ficou bem longe. A mãe tem uma desilusão grande com o Natal, desde que descobriu que Papai Noel não existe (Foto: Fernando Antunes)
Sara sentou, mas ficou bem longe. A mãe tem uma desilusão grande com o Natal, desde que descobriu que Papai Noel não existe (Foto: Fernando Antunes)

Para a equipe que está trabalhando vale pensar e agir positivamente. Nada de ameaças, pelo contrário. As Noeletes do Bosque dos Ipês precisam ser educadas, gentis e sempre agradar as crianças. Normalmente, não só os pequenos se assustam, mas os pais também ficam dando voltas, meio sem jeitos de chegar pertinho, perguntar se é gratuita a foto.

Alguns, inclusive, chegam com seus traumas muito bem definidos. Elidiane Szimanskm da Silva, 30 anos, descobriu na infância que Papai Noel não existia e isso acarretou um trauma para o resto da vida. "Na verdade eu nunca quis que ela acreditasse no Papai Noel. Ela que decidiu vamos ver o Papai Noel. Nós fomos levando aos poucos e esse ano ela pediu para sentar do lado. Sem muita expectativa", afirma Elidiane.

Jade nem entrou na área vermelha, negou até a morte e saiu andando sem olhar para trás (Foto: Fernando Antunes)
Jade nem entrou na área vermelha, negou até a morte e saiu andando sem olhar para trás (Foto: Fernando Antunes)

Segundo os pais, em casa não tem essa de acreditar no Papai Noel ou Coelhinho da Páscoa. "Nós explicamos que é um personagem", explica o pai, Eduardo Silva Escrivano, 33 anos, funcionário público.

Mesmo assim, contrariando os pais, a menina chegou sorrateiramente e conseguiu uma aproximação com o bom velhinho, com direito a bala e foto para a posteridade. Enquanto isso, quem auxilia precisa ficar atento e sempre receber e se despedir da criança corretamente, sendo gentil e abaixando para falar com o pequeno. Ajuda bastante.

A movimentação costuma atrair curiosos. Alguns chegam em bando, outros tem crianças ou não. A maioria só quer dar uma olhadinha na decoração completa. As meninas que trabalham no shopping são bem novinhas e o pré-requisito é gostar de criança.

Vale usar a voz mansa e conversar com eles. Há quem seja animado. Corre para o bom velhinho sem nem olhar para trás. É o caso da pequena Sofi Figueiredo Leandro Gomes, 1 ano e 9 meses, que até manda beijo de longe para o Papai Noel.

"Ano passado ela morria de medo, olhava para ele com pavor, mas tinha uns sete ou oito meses, ela não queria ficar perto. Mas, hoje ela chega e quer ficar conversando. É o Papai Noel. Ele até conhece ela, se eu não venho com a Sofi aqui, ela faz um escândalo", conta a mãe Luciana Figueiredo Leandro, 23 anos.

Durante meu período de Noelete no Shopping Bosque dos Ipês das 16h às 18 horas, os meninos pareceram os mais sociáveis com o Papai Noel. Nada de crise. Podiam até ficar mais tímidos, mas sediam, sentavam na cadeira e davam um sorrisão para a foto.

Um caso bem sucedido, todos calmos e tranquilos (Foto: Fernando Antunes)
Um caso bem sucedido, todos calmos e tranquilos (Foto: Fernando Antunes)

Os pais também se comportaram bem. Fora algumas excessões, não rolaram muitas ameaças. O filho que rejeitava tinha todo o direito de sair caminhando sem olhar para trás. Para o Papai Noel, é muito importante que os pais não forcem o pequeno.

"Alguns pais não educam direito a criança e querem transferir a a responsabilidade para personagens como o Papai Noel. Isso não deve acontecer. Eu converso, falo sobre o comportamento, mas são regras simples, como comer direitinho, escovar o dente. Tento fazer a criança entender que ela vai ganhar presente de qualquer jeito, mas se tiver bom comportamento, um melhor pode vir", garante.

Nem com essa promessa Jade Palácio Fernandes, 2 anos e sete meses, tirou foto com o Papai Noel. Decidida, ela balançou a cabeça e saiu caminhando. "Tenho mais duas filhas, ela não tinham medo. Não sei se a Jade tem medo, acho que ela não tem medo, só fica encabulada, porque com o outro Papai Noel ela tirou foto, o que é um boneco", explica Janaina Palácio, 44 anos, mãe da pequena.

A magia do Natal vence (Foto: Fernando Antunes)
A magia do Natal vence (Foto: Fernando Antunes)

Mesmo rejeitando a figura natalina, Janaina diz que a filha aceitou a foto ao lado de um amiguinho da mesma idade em outro Shopping e garante que foi sem ameaça. "Não falo que ela não vai ganhar presente ou que a polícia vai prender. Não acho isso saudável", diz.

O que fica da experiência de levar uma criança pelas mãos e acompanhá-la até os braços do bom velhinho é receber um pedido como o de Isabelly Alburquerque Brites, de 4 anos. "Quero escrever uma carta para o Papai Noel", pediu, apontando para a caixa de correio vermelha.

Carinhosa, com direito a abraços repentinos e uma mãozinha gordinha, a pequena que mora no Jardim Columbia adorou a bala, a Noelete, mas saiu de lá calada e sem conseguir sentar na cadeira do Papai Noel. Apesar disso decretou: "Eu gostei da sua roupa". Vanilda Francisca da Silva, amiga da mãe de Isabelly que acompanhava a criança no passeio diz que ela é bem faladeira. "Ela é carinhosa. Um amor mesmo".

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