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Comportamento

Na fila por um fígado, Roberto ganhou a vida novamente e hoje batalha por doação

"Durante consultas presenciei muito sofrimento. Pessoas que estavam há anos aguardando na fila e morreram longe de qualquer chance pela falta de doador"

Thailla Torres | 25/06/2017 07:05
Roberto torce pela conscientização sobre doação de órgãos. (Foto: Alcides Neto)
Roberto torce pela conscientização sobre doação de órgãos. (Foto: Alcides Neto)

Foram 5 anos e meio de espera, longe da certeza que teria outra chance de vida. O economista Nelson Roberto Pina, de 52 anos, viveu momentos de angústia antes do transplante de fígado no ano passado. Com o quadro avançado por conta de um tumor, antes da cirurgia, ele só tinha 30% de funcionamento do órgão. Por isso, hoje ele agradece e insistentemente vem lutando para que outra pessoa ganhe a vida novamente. Sobre esse processo de transformação, ele conta no Voz da Experiência como é o projeto que nasceu em Campo Grande e pode salvar a vida de muita gente em todo País.

Na saída do hospital após o transplante. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na saída do hospital após o transplante. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Estava com 47 anos quando comecei a sentir muitas dores. Era 2011 e eu já era portador da Hepatite C. Após exames fui diagnosticado com um nódulo no fígado de mais de 5 centímetros e uma cirrose viral, acometida pela Hepatite. Foi com esse quadro que recebi a noticia de que precisaria receber um transplante.

Na época, passei a lutar na fila de cirurgia, na esperança que um novo fígado surgisse para me salvar. Recomendado por médicos, deixei Campo Grande rumo a São Paulo para seguir com o tratamento até uma nova chance surgir. O tratamento consistia em diminuir o tumor, já que ele cresce a cada 80 dias. Se eu esperasse até o transplante, eu não resistiria.

Comecei a fazer quimioembolização hepática intra-arterial, por meio de um cateter. Cheguei a fazer 8 procedimentos para diminuir o tamanho e continuar na fila. Em 2012, veio a notícia que eu já estava perto de transplante. Larguei o emprego, aluguei um apartamento próximo ao hospital e por amor, contei com todo apoio da família.

Mas até 2016 fiquei sem repostas, apesar de estar no 13º lugar da fila de espera pelo órgão. Nessa época eu só 30% do meu fígado funcionando no corpo.

Foi em julho do ano passado que tomei a iniciativa de viajar para Fortaleza (CE) e começar o tratamento no Hospital Universitário de lá, lugar que atualmente realiza mais transplantes no País. Lá a oferta é maior e a fila de espera também, diferente de São Paulo, que a fila só aumenta, apesar da oferta.

Em pouco tempo, recebi a notícia que estava em primeiro lugar para receber o transplante. Foi uma emoção, porque eu caminhava os dias na base da fé. Naquele momento, foi muito bom saber que eu poderia continuar vivo.

Durante todo caminho, a esposa sempre esteve do lado. (Foto: Alcides Neto)
Durante todo caminho, a esposa sempre esteve do lado. (Foto: Alcides Neto)

Cheguei no hospital no dia 10 de agosto e no dia 13 veio a chance de uma nova vida. Um rapaz de 19 anos havia falecido em um acidente de moto no interior do Estado, foi a única informação que até hoje recebi a respeito doador.

Minha cirurgia durou cerca de 6 horas e eu só acordei horas depois. Sou extremamente medroso com hospital, confesso, e na hora que acordei, enxerguei a minha mãe de casaco, numa cidade cheia de calor. Naquele instante achei que tivesse morrido, mas de repente senti os movimentos e as dores, percebi que estava vivo.

Continuo fazendo o tratamento para a Hepatite C, mas hoje tenho o vírus controlado a base de medicamento. É claro que minha vida precisou mudar muito, inclusive o controle da alimentação, porque depois do transplante, adquiri intolerância a lactose. Isso são consequências e tudo que faço é viver normalmente. Me alimentando melhor, caminhando 4 quilômetros por dia e cuidando da saúde.

E com toda essa experiência, meu sonho é ver o número de transplantes aumentar no País. Por isso, desenvolvi um projeto que envolve ações beneficentes com intuito de divulgar a importância da doação de órgãos. A proposta é elaborar uma cartilha com experiência de vida e todas as informações necessárias para quem deseja ser um doador.

É como plantar uma sementinha da doação dentro de cada família, sobre a importância deste ato e levantar a bandeira de que um doador pode atender até 14 receptores (pessoas) que precisam.

Durante consultas presenciei muito sofrimento. Pessoas que estavam há anos aguardando na fila e morreram longe de qualquer chance pela falta de doador. Gente que não tem condições de continuar o tratamento antes da cirurgia e também acaba morrendo na fila de espera.

Por isso, a ideia é disseminar a importância de ser um doador. O projeto é simples, mas relevante, porém preciso de apoio. Quero aproveitar a chance que eu tive de transplantar e conseguir mostrar para as pessoas a relevância do assunto, com dados e informações precisas, começando por Campo Grande".

Quem quiser ajudar no projeto de Roberto, pode entrar em contato pelo email: roberto.pina@hotmail.com

Tem uma história transformadora para contar, envia pra gente no Facebook do Lado B.

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