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Comportamento

Na garupa do mototáxi, a "dona da sanfona" descobre a cordialidade

Lenilde Ramos | 23/11/2014 07:42
Na garupa do mototáxi, a "dona da sanfona" descobre a cordialidade

Quem lê minhas histórias pode até pensar que não são da mesma pessoa: uma hora com artistas, personalidades, um dia em Roma, Nova Iorque, Pantanal e em outro, por exemplo, na garupa de um mototáxi.

Essas contradições ainda se devem à falta de habilidade para lidar com dinheiro. Estou tentando aprender e espero que tenha tempo para ver se valeu a lição. Tenho bons amigos entre os mototaxistas. Alguns me conhecem só de dizer alô e perguntam: "É a dona da sanfona?".

Já escapei de poucas e boas em garupa de moto, de dia e nas madrugadas. Vi amigos acidentados, como o Antônio na Zahran e o Florentino, todo quebrado no hospital. Quando tinha uma sanfona menor, saía para tocar na noite com o estojo apoiado na perna ou espremido entre o piloto e eu. Quantas vezes saí de moto levando teclado, apetrechos e pastas de música.

Teve uma época que eu viajava toda semana: Bonito, Pantanal e Presidente Prudente, levando violão, sanfona, mochila, pastas de música e até teclado. O mototaxista chegava, coçava o capacete e perguntava se eu tinha certeza que não queria duas motos...

Nunca nenhum se recusou a me carregar e por milímetros não cheguei a cair das motos. Uma vez pedi pra parar porque estava com uma roupa lisa e quase fui pro chão. Outra vez foi o rapaz que parou e disse: "Dona, me desculpe, mas a senhora está sentada em cima da minha lanterna...".

Uma vez Irmã Silvia chegou em casa a tempo de me ver a caminho da rodoviária e... simplesmente não acreditou.

Pena que não tirou nenhuma foto. Ensinei alguns amigos a perder o medo e a discriminação de andar de mototáxi.

Hoje saio de táxi para tocar , mas no dia a dia, as motos quebram um galhão, por isso quero deixar registrada minha vida com mototáxis e com os amigos que dão duro nessa profissão.

*Lenilde Ramos é sanfoneira, jornalista e conta suas histórias aqui no Lado B

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