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Comportamento

Na lista de clichês, mais um: "o que uma mulher como você está fazendo sozinha?"

Vania Galceran | 11/01/2015 07:38
"E quem disse que estou? Meus pensamentos, minhas ideias, minhas ações, nunca me deixam sozinha". (Foto: Arquivo Pessoal)
"E quem disse que estou? Meus pensamentos, minhas ideias, minhas ações, nunca me deixam sozinha". (Foto: Arquivo Pessoal)

"O que uma mulher como você está fazendo sozinha?”

Já caí nessa cantada barata, há muitos anos e duas vezes. Hoje não acho que seja cantada, pelo menos quando me perguntam. E nem barata. Custa articular todas essas palavras com um tom interrogativo.

De sábado para domingo fui “obrigada” a responder à questão duas vezes. Na realidade respondi porque quis. Em situações assim, minha vontade é dizer: "não sei fazer papel de idiota por muito tempo". Mas fui bem educada e continuo tentando manter a linha, quando possível.

Respiro fundo, conclamo a professora de educação infantil que há dentro de mim, e explico da forma mais suave: sou mãe, de 4 filhos, e jornalista, ou seja, olhos e ouvidos treinados mais do que polígrafo para detectar qualquer mentira, expressão de dúvida, desapontamento, desaprovação, etc.

Meu pior mal é a sinceridade. Se te achar chato, esnobe, mal educado, conquistador, infantil e imaturo, vou dizer imediatamente. Gosto de estar com pessoas que gostam das mesmas coisas que eu: música (nem sempre as mesmas pelo amor de Deus. Busquemos coisas novas e resgatemos as antigas) arte, leitura, um bom filme, ou comédia romântica bobinha de cotidiano (só para rir), teatro, exposições. Se você não gostar de tudo isso e mais um pouco, está descartado.

Gosto de ficar sozinha pensando na vida. Não gosto que me incomodem nesses momentos. Adoro sair para dançar. Essas são as coisas boas. Mas tem as ruins: meus hormônios me causam crises de estresse profundas, tenho TPM e, para piorar, estou sem grana para a terapia. Também estou sem pique. Começo as coisas e não termino. Típico de quem está precisando de uma sacudida.

Não cozinho, não arrumo bagunça masculina e nem a minha, enquanto ela - a minha bagunça, claro - não se tornar insuportável. Não tenho medo de dirigir. Não mesmo. Odeio academia. O-D-E-I-O. Não vou nem pagando, mas gosto do ar livre. Amo pé no chão, correr na areia.... Estou sem vontade, mas amo.

Adoro ser mimada. Sou extremamente comunicativa. Tenho muitos amigos, homens, de décadas, que já chegam agarrando. Então, se você se ofender, o azar é seu. Detesto rodinhas femininas de festas onde o tema é: meu marido ganha X, comprei Y, ou onde as perguntas giram em torno de "que espinha é essa no seu rosto?"; "por que você não fez as unhas hoje?"; "viu o peso de fulana?"; "que cabelo é aquele de ciclana?".

Agora me coloquem numa roda masculina para ver. Os assuntos são deliciosos: política, livros, impressões sobre o panorama mundial, aquele lançamento revolucionário que vai valer a pena, negócios, economia (não pão durismo) local, nacional e mundial.

Gosto de conversar com os que tem aproach para falar, esclarecer, compartilhar e ensinar o que eu não sei sobre o assunto. Minhas amigas dizem que assusto porque sou muito sincera. Assusto mesmo.

Mas, voltando à pergunta inicial que gerou esse texto todo. A conversa com os dois sujeitos que fizeram o tal comentário terminou assim:

- Me dá seu celular e anota o meu.

- Anote o meu, não tenho costume de ligar para homens. De vez em quando é bom um pouco de cavalheirismo, não?, respondi, da forma mais assustadora possível.

E ainda me perguntam: Por que uma mulher como eu está sozinha? E quem disse que estou? Meus pensamentos, minhas ideias, minhas ações, nunca me deixam sozinha. Estar com alguém apenas para dizer “sou aceita” não tem nada a ver comigo. Aposentadoria emocional já!

* Vânia Galceran é jornalista.

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