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Comportamento

Namorando em público, eles descobriram que campo-grandense é “até tranquilo"

Ângela Kempfer | 01/10/2013 06:14
Gabriel e Pedro de mãos dadas.
Gabriel e Pedro de mãos dadas.

Poucas coisas são tão transgressoras em Campo Grande quanto um casal gay ir ao shopping e trocar carinho em público. Dar um selinho na escada rolante, passear de mãos dadas, abraçar um ao outro como em uma relação convencional é de fazer o trânsito parar por aqui. Não é?

Gabriel Alonso e José Pedro decidiram há alguns meses fazer isso e tiveram uma surpresa boa. “As pessoas são tranquilas. Acham mais diferente do que errado”, comentam, antes de entrar em uma sessão no cinema.

Observar os dois de longe ajuda a reforçar essa tese. Por mais que o passeio seja em uma segunda-feira de pouco movimento, em um percurso considerável, o abraço carinhoso na escada, ou o selinho não fizeram ninguém ficar de boca aberta, o que já é um começo. “Tem horas que uma menina aponta nós para a outra e ri, mas a gente se acostuma”, diz Pedro.

É a civilidade ou respeito à diversidade? Para os meninos, depende do ambiente escolhido para namorar. Nem todos são assim "de boa". “Um dia, estávamos no terminal, esperando o ônibus, e o motorista pediu para a gente ir se beijar em outro lugar. A gente estava em um canto e tinha um casal de menino e menina bem lá no meio fazendo a mesma coisa, mas ele só veio implicar com nós dois”, lembra Gabriel.

Em 5 meses de namoro, eles já enfrentaram muitos desafios juntos. Primeiro assumiram o relacionamento para os pais, uma condição para viver o romance de forma escancarada. “Não achava certo ter que ficar escondido”, justifica Gabriel, o mais experiente nesse tipo de relação.

Há cinco anos ele contou à família que é gay. Não houve revolta em casa, mas aceitar mesmo, sem encanação, a mãe só aceitou este ano. “Hoje ela chama o Pedro de filho, recebe ele em casa e adora”, conta o rapaz de 20 anos, acadêmico de Letras.

Pedro agora enfrenta tudo que o namorado já digeriu com o passar do tempo. Só quando conheceu Gabriel é que decidiu “sair do armário em casa”, lembra. Aos poucos, ele tentou preparar a mãe para a notícia, mas o efeito foi inverso. “Eu dava evidências, deixava os presentes que o Gabriel me dava à mostra, para ela ver, mas não adiantava. Ela começou a falar justamente o contrário, que eu estava escondendo alguma coisa”.

Quem acabou de vez com as dúvidas foi o pai, que em uma conversa do tipo “de homem para homem” fez a pergunta clássica: “Qual é a sua?”. Depois de alguma pressão, Pedro admitiu que é gay. A choradeira foi geral, mas não passou disso. “Acho que hoje o medo deles é muito mais pelo que pode acontecer comigo, com a violência, do que pela minha escolha”, avalia o garoto de 17 anos, que se prepara para o vestibular de Biologia.

Abrir o jogo com os pais e os irmãos foi um bom começo, mas sair de mãos dadas por aí foi a real prova de fogo. “Tinha vergonha”, resume ele.

Os dois dizem conhecer poucos casais gays com o mesmo comportamento. Quando lembrar de alguns, são sempre formados por meninas. “Para elas é mais fácil, as pessoas acham mais normal. Falo isso, mas poucas vezes as pessoas foram agressivas com nós dois. Sempre quando alguém fala alguma coisa, eu respondo que, nesse caso, não vou abrir mão da minha felicidade por causa dela”, ensina Gabriel.

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