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Comportamento

Não é porque sou gay que vou esfregar na cara deles. Me assumi e saí de casa

Elverson Cardozo | 21/04/2015 07:23
"Do momento em que me assumi, até hoje, me sinto no ápice". (Foto: Arquivo Pessoal)
"Do momento em que me assumi, até hoje, me sinto no ápice". (Foto: Arquivo Pessoal)

Na oitava reportagem da série “Saindo do Armário”, o Lado B conta a história do Operador de Caixa David Bialvo, 22. Primeiro e único filho entre cinco irmãs, ele descobriu cedo a própria sexualidade, mas só encontrou coragem para se assumir aos 19 anos. “Pisando em ovos”, David chegou à mãe e, entre palavras escolhidas a dedo, descobriu que ela já sabia de tudo.

“Meu filho, eu sei que você é gay”

Sou o primeiro e único filho homem da minha mãe. Tenho cinco irmãs e fui criado pela minha avó. Desde pequeno, eu me via como uma criança diferente. Não gostava das mesmas brincadeiras que os meninos da minha idade gostavam. Nunca fui fã de jogos e muito menos de esportes.

Minha família, conservadora e rígida, me olhava com outros olhos. Cresci ouvindo minha avó dizer que criava homens. Meu pai sempre foi amigo e parceiro, mas se mostrava homofóbico. Só que eu nunca liguei para isso. Sempre tive a personalidade forte.

Com 10 anos, já me sentia atraído por meninos. Aos 12, beijei um garoto pela primeira vez. No início, não quis aceitar. Tive algumas namoradas como disfarce, mas nenhuma deu certo. No fundo eu sabia que era gay, mas tinha medo de me assumir. Achava que seria uma barra e tanto, mas daí, aos 19, tomei coragem e contei para a minha mãe.

Me lembro até hoje como foi. Fui visitá-la em Anastácio, no interior do Estado. Quando cheguei, chamei para conversar e disse que o assunto era muito importante e urgente. Ela se assustou, coitada. Entramos no quarto, sentamos na cama e eu comecei a falar:

David saiu do armário aos 19 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)
David saiu do armário aos 19 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Sei que sou o filho mais velho e deveria servir de exemplo para os mais novos, mas não consigo esconder minha opção, mãe. Por mais que minha escolha te deixe triste, não posso mais carregar essa culpa”.

Ela me interrompeu e disse: “Meu filho, seu sei que você é gay. A mãe vai te amar do jeito que você for e da maneira que você quiser porque você é meu filho, isso nunca vai mudar e nada e ninguém vai diminuir isso”.

Aquilo, para mim, foi um baque. Fiquei sem chão. Não sabia o que dizer. Só chorava e abraçava a minha mãe. Desde então, decidi tomar o rumo da minha vida. Me assumi abertamente para todos e saí de casa. Não é porque sou gay que vou ficar esfregando na cara deles. Muitos fazem isso e se acham no direito. Tudo bem, mas eu não concordo.

Do momento em que me assumi, até hoje, me sinto no ápice. Quando saímos do armário parece que nascemos de novo, da maneira que escolhemos ser. Deixei de fazer tudo escondido, na moita. Antes vivia fechado. Não falava com quase ninguém. Hoje, só não falo com os papagaios, mas nem por isso ando com um cartaz dizendo que sou gay. Procuro manter a “pose”.

Minha família aprendeu a me respeitar. Meu pai e minha avó não aceitam, mas respeitam e eu sei que não é esfregando na cara que vou mudar a opinião deles, até porque em momento eles passaram por cima da minha escolha.

Envie seu relato - Se identificou com o relato de David? Quer contar a sua história? Mande um e-mail para ladob@news.com.br

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