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Comportamento

Não parece, mas senhorinha japonesa é fera no "gatebol", assim como na vida

Paula Maciulevicius | 30/01/2017 06:10
Dona Matsuko, senhorinha japonesa que tem tanta energia quanto brilho nos olhos. (Foto: Paula Maciulevicius)
Dona Matsuko, senhorinha japonesa que tem tanta energia quanto brilho nos olhos. (Foto: Paula Maciulevicius)

Com o chapeuzinho tampando os olhos, só dá para ver o sorriso de dona Matsuko. A senhorinha é "fera" no gatebol e tem por trás do taco uma linda história de vida. Sozinha, depois que o marido morreu, foi ela quem resolveu por si só aprender a ler e escrever em português e se matriculou nos esportes e na dança. 

Dos 91 anos de idade, 63 deles já são passados aqui, em terras brasileiras, depois de deixar o Japão num cenário de guerra junto do marido e da primeira filha, à época com 2 aninhos. Na labuta, passou a vida em chácara em meio às hortaliças, frutas e granjas e foi assim que formou os seis filhos.

O encontro com o Lado B acontece na Associação Nipo Brasileira, onde duas vezes na semana dona Matsuko vai jogar "gatebol", esporte japonês que consiste em impulsionar a bola com um taco, fazendo-a passar sob três arcos. Explicando assim pode até parecer fácil, mas exige concentração, pontaria e um olhar que só dona Matsuko tem.

As fotos que contam um pouquinho da sua trajetória.
As fotos que contam um pouquinho da sua trajetória.

"Na primeira vez, no primeiro gate, já passou. Dois meses depois me chamaram", conta dona Matsuko Nishikawa. Quando ela ficou viúva, aos 64 anos, resolveu que iria viver a vida que nunca tinha tido, fosse pela guerra que deixou para trás no Japão ou pelas obrigações de uma mãe de família.

Sozinha, soube pelas associações da comunidade japonesa do esporte e se inscreveu. Não só se tornou jogadora, como é capitã do time e também faz as vezes de árbitra, com curso de formação e tudo mais. 

O esporte é praticado quatro vezes por semana, faça chuva ou faça sol. Competitiva, ela não gosta de perder e a prova está nos 20 troféus que acumula em casa. Paralelo ao esporte, começou a procurar atividades e mais recentemente, descobriu os centros de convivência do idoso. É lá que ela solta toda sua performance, nas fotografias de arquivo, dona Matsuko aparece vestidinha de japonesa, "malandro" e marinheira. 

De número 1, Matsuko é a menorzinha, pronta para jogar gatebol. (Foto: Arquivo Pessoal)
De número 1, Matsuko é a menorzinha, pronta para jogar gatebol. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela no karaokê. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela no karaokê. (Foto: Arquivo Pessoal)
E no samba, de "malandro". (Foto: Arquivo Pessoal)
E no samba, de "malandro". (Foto: Arquivo Pessoal)
Eleita Miss Simpatia em meados de 2000.
Eleita Miss Simpatia em meados de 2000.

Depois de mexer com o corpo, ela solta a voz. Campeã também nos karaokês japoneses, a senhorinha adora cantar. Com tantos talentos, não foi à toa que recebeu a faixa e o título de Miss Simpatia em meados dos anos 2000.

A conversa corre com a ajuda da filha mais velha, Elizabeth Nishikawa, que quando necessário faz a tradução. O pouco domínio da língua portuguesa nunca foi empecilho para ela fazer amigos. Mas depois dos 70 anos, resolveu que iria se alfabetizar no idioma do país que a acolheu.

Durante sete anos frequentou o curso sem uma falta sequer. "No Japão só estudei oito anos. Fui aprender português, a ler e a escrever", conta. A rotina é toda feita sem depender de ninguém. De ônibus, muitas vezes dois deles, dona Matsuko chega em qualquer lugar.

"Às vezes a gente traz e ela até poderia vir conosco, mas prefere vir sozinha para chegar cedo", revela a filha. A vida no Brasil foi tão intensa e é tão maior do que a vivência no Japão, que o apego está aqui e não há nostalgia. 

"A vida dela começou aqui. Lá na infância, a comunidade dela era aquela coisa muito pobre, simples. Ela casou e veio e aqui que começou a vida, então eu percebo que ela não tem um saudosismo", explica a filha. 

Não mesmo. O negócio dela é jogar, dançar e cantar. Vida longa à dona Matsuko Nishikawa.

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Se preparando para jogar.
Se preparando para jogar.
Jogo exige técnica, paciência e pontaria.
Jogo exige técnica, paciência e pontaria.
Objetivo é fazer a bola passar pelo arco.
Objetivo é fazer a bola passar pelo arco.
Não parece, mas ela tem 91 anos.
Não parece, mas ela tem 91 anos.
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