ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 29º

Comportamento

Ñemyrõ, mbyasy...só um monte de letras para quem não se importa com significados

Ângela Kempfer | 19/04/2016 15:11
Ñemyrõ é o “estado bastante melancólico, quando uma profunda tristeza abate-se sobre a pessoa. (Foto: Marcos Ermínio)
Ñemyrõ é o “estado bastante melancólico, quando uma profunda tristeza abate-se sobre a pessoa. (Foto: Marcos Ermínio)

Descobri hoje uma expressão guarani que fala muito sobre a sensação que tenho em relação à luta indígena em Mato Grosso do Sul, apesar de viver longe de qualquer aldeia, só geograficamente.

Fiquei tocada pelo significado da palavra ñemyrõ. Para os índios, é o “estado bastante melancólico, quando uma profunda tristeza abate-se sobre a pessoa que não vê mais solução para seus problemas”.

Se for olhar só para o nosso umbigo, é também como muitos brasileiros dizem se sentir em relação ao País hoje.

Mas chega a ser desrespeitoso recorrer a essa palavra para traduzir emoção que não seja de um guarani. Para os índios, ñemyrõ é também o estado de espírito que, geralmente, precede o suicídio.

Na língua deles, depois de morte tão trágica, o coração é tomado pela mbyasy, “a tristeza por ter perdido um ente querido ou algo muito valioso”. Uma condição que leva às lágrimas e muitas vezes, à bebida. Sobra então na família o jahe’o, “sentimento que é resultado de perdas, estado de choro, lamento constantemente”.

O ex-aluno indígena da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Tonico Benites, colocou todos esses sentimentos no E-book Avañe'e, de língua guarani, lançado nesta terça-feira (19) para comemorar o Dia do Índio.

Ele é guarani-kaiowá e cresceu em Tacuru, uma das regiões mais pobres do Estado. Conquistou o diploma de graduação e não parou mais.

É invejável o currículo de Tonico. Aos 44 anos, já concluiu o mestrado e o doutorado em Antropologia Social, com ênfase em Educação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Agora, faz o pós-doutorado, com estudos no Brasil e na universidade Sorbonne, na França. É o primeiro índio de Mato Grosso do Sul a cursar o pós-doutorado.

O dicionário criado por ele é dirigido ao não-índio e foi feito ao lado do professor do Curso de Letras, Adilson Crepalde, com apoio do guarani Adão Ferreira Benites.

O livro surgiu para simplificar as coisas. "Muitos profissionais da saúde, do turismo, que trabalhavam com comunidades indígenas na área de fronteira do Brasil com o Paraguai, me procuravam porque eu falava guarani. Eles queriam informações, queriam aprender a língua", explica Tonico.

O E-Book ensina de sentimentos, ao básico para uma conversa. “Mba’éichapa nde réra?”, por exemplo, significa “Qual é seu nome?”

E, apesar da melancolia que abre este texto, o livro também fala de “Vy’a”, na tradução para o português, de “alegria, de contentamento”.

Veja aqui o E-Book guarani.

Nos siga no Google Notícias