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Comportamento

No calor do ataque postei "Je suis Charlie" e botei a carroça na frente dos bois

Lenilde Ramos | 17/01/2015 07:52
 O caminho de vida que abracei me propõe um aprendizado diário de condução da vida com respeito.
O caminho de vida que abracei me propõe um aprendizado diário de condução da vida com respeito.

Foi no calor do ataque aos chargistas franceses que postei a frase "Je suis Charlie", pensando no quanto sempre gostei de humor e humoristas, do quanto curti o "Pasquim" e a luta escancarada que empreendeu contra a ditadura militar e tantos outros combativos pensadores que sempre enfrentaram os desmandos da classe dominante, na ponta do lápis.

Quando menina eu era atraída pelas charges da revista "Tico Tico" que meu pai colecionava e pelo lendário "Amigo da Onça", da Revista O Cruzeiro, sempre alfinetando falcatruas. Também aprendi que este mundo foi dividido em territórios de etnias e classes sociais, logo eu, criança negra dos anos 1950.

O Brasil, a duras penas, tenta aprender a lidar com essas diferenças, ao contrário da resistência dos países do Primeiro Mundo. Não foi por acaso que a primeira música que fiz falava sobre os conflitos dos negros americanos em 1968. "O amor vence a cor" ganhou o Festival de Glorinha Sá Rosa no Clube Surian em 1969 e assim, entrei oficialmente para o mundo da música falando de racismo e intolerância. Penso que essa pendenga começou a ganhar corpo nos tempos das Cruzadas com as chamadas "guerras santas".

Meu interesse precoce pela História me fez ver o quanto de profano havia na dominação dos poderosos contra os diferentes e suas diferenças. E assim caminhou a humanidade e nos dias de hoje pouca coisa mudou. Quando fui à Europa pela primeira vez, em 1985, os amigos de lá me alertavam para evitar os bairros de imigrantes. Ninguém se misturava.

Hoje, pensando no ímpeto que me levou a botar a carroça na frente dos bois, revejo as charges do Charlie Hebdo, fico com vergonha do que está desenhado ali e repenso conceitos de liberdade de expressão. Sou pacifista por natureza, contra terrorismo armado e desarmado. O caminho de vida que abracei me propõe um aprendizado diário de condução da vida com respeito, limite e bom senso, sempre em busca de ser um instrumento de paz. É esse caminho que quero trilhar, vivendo e aprendendo.

*Lenilde Ramos é sanfoneira, jornalista e conta suas histórias aqui no Lado B.

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