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Comportamento

No julgamento do assassino do marido, ela queria ter abraçado mãe do condenado

Paula Maciulevicius | 13/03/2015 06:25
Anésia, de fala mansa, tem uma bondade que brota da alma, é do bem por essência, não apenas devido à religião. (Foto: Alcides Neto)
Anésia, de fala mansa, tem uma bondade que brota da alma, é do bem por essência, não apenas devido à religião. (Foto: Alcides Neto)

Seis anos se passaram desde que o marido foi morto a tiros, numa lanchonete em Costa Rica. A execução do advogado Nivaldo Nogueira de Souza mudou a vida de duas famílias que até poderiam ter sido amigas. Em 2013, depois de três audiências, a sentença do mandante do crime foi dada: os 19 anos de prisão ao pecuarista Oswaldo José de Almeida condenaram não só ele, como também os pais.

Naquela terça-feira do dia 25 de junho, no Tribunal do Júri, foi que Anésia, mulher de Nivaldo sentiu quem havia sido a vítima do crime. "A minha vontade era de levantar e ir abraçar a mãe dele. Ela chorava tanto", diz. 

Nivaldo era advogado do pecuarista e as desavenças começaram por honorários, depois de não receber o combinado, Nivaldo passou a advogar em casos contra Oswaldo. Mais que um acerto de contas, o crime teve vingança como motivação. 

No julgamento, passou o vídeo que Oswaldo havia gravado uns dias antes, em que narrava com detalhes toda trama que terminou na morte de Nivaldo. "A hora que o mandante deu o depoimento de 2h, onde ele, que teve o maior envolvimento, foi contando que perseguiu, que fez tudo, a mãe dele dizia: 'meu filho, mas como pode?' e chorava", reproduz Anésia dos Santos Nogueira de Souza, hoje com 58 anos.

No julgamento, passou o vídeo que Oswaldo narrava detalhes do crime. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)
No julgamento, passou o vídeo que Oswaldo narrava detalhes do crime. (Foto: Arquivo/Marcos Ermínio)

As palavras repetidas por aquela mãe entre lágrimas não lhe saíram da memória e como quem revive a cena, Anésia conta tudo de novo. "Ele, o Oswaldo, estava muito magro, emagreceu mais de 35 quilos, tinha marcas de cortes na garganta, nos braços. Não se sabe se foi tentativa de homicídio ou suicídio".

"Eu fiquei mal, eu passei mal. Comecei a chorar. Fiquei com dó de ver a mãe, o pai ali. Ela de cabelinho branco, ele velhinho... E comecei a fazer oração, a minha vontade foi de abraçar ela".

Vontade que ainda não passou. Apesar de todo sofrimento em reviver o caso no júri, Anésia reforça que diante do Tribunal, ela estava confortada. "Meu marido, devido a minha crença, eu sei que ele está bem". Anésia é espírita, vem de família que segue o Espiritismo e sempre foi envolvida em ações pelo bem do próximo antes mesmo de todo crime acontecer.

Foram três audiências até a sentença final. A condenação saiu depois de horas naquela terça de junho. "Ela olhou para trás sabe? Ela sabia quem eu era. Antes da gente entrar, fica todo mundo lá fora, todo mundo se vê e ali eu vi que ela era a vítima e eu também. De um lado eu estava sofrendo e do outro, estava ela. São duas famílias separadas por uma atitude..."

Nivaldo, marido de Anésia, assassinado em 2009. (Foto: Arquivo Pessoal)
Nivaldo, marido de Anésia, assassinado em 2009. (Foto: Arquivo Pessoal)

Já tem alguns anos que conheço Anésia. De fala mansa, tem uma bondade que brota da alma, é do bem por essência, não apenas devido à religião. Por trás da dor da saudade, nunca veio a ela o desejo de vingança. "Foi um grande choque pra mim. Em nenhum momento eu pensei em vingança. Procurei todos os meios legais e colaborei ao máximo, desde o delegado até a Justiça. Nas idas e vindas a Costa Rica, eu estava sempre em oração, pedindo a Deus que eu tivesse a melhor ideia, para fazer justiça sem vingança".

Depois do júri, após ser decretada a sentença, Anésia deu também para si o caso por encerrado. Pergunto se houve perdão da parte dela aos condenados, porque além de Oswaldo, houve a participação do pistoleiro, de quem indicou onde Nivaldo estava... A resposta dela é firme e carregada de um sentimento tão superior que eu não encontro palavras para explicá-lo.

"Eu nunca tive ódio, nunca foquei eles. Foquei no processo de fazer com que eles se voltassem e vissem o que fizeram. Todos os dias, eu tenho até hoje dentro do meu evangelho o nome deles. Eu oro por eles. Foquei, desde o começo que: houve um assassinato, os culpados, as vítimas. Mas dentro da nossa cultura, quem são as vítimas? Foi quando eu vi a mãe dele".

Os 19 anos de condenação de Oswaldo foram dados a ele e também para seus pais, três horas depois de terminada audiência. "A hora que ela me olhou, no fundo, no fundo, ela sentiu a mesma coisa que eu senti. Vítima? Não é meu marido que morreu, não é o filho dela que matou".

"Não podemos nem ser amigas, mas se um dia eu tivesse a oportunidade de ir visitar aquela família, eu iria. Não teria problema nenhum, porque entre nós não houve nada. São duas famílias, nós duas que estamos aqui chorando".

Depois do júri, após ser decretada a sentença, Anésia deu também para si o caso por encerrado, com exceção do abraço que gostaria de ter dado. (Foto: Alcides Neto)
Depois do júri, após ser decretada a sentença, Anésia deu também para si o caso por encerrado, com exceção do abraço que gostaria de ter dado. (Foto: Alcides Neto)
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