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Comportamento

No ring de boxe, Wellington vai mostrando como um autista consegue ir longe

Paula Maciulevicius | 02/04/2016 07:12
Leide e Wellington, mãe e filho autista. (Foto: Fernando Antunes)
Leide e Wellington, mãe e filho autista. (Foto: Fernando Antunes)

Lá se foram quatro aulas, todas no final de semana, quando a academia dos pais não recebe alunos. O som costumeiro de malhação foi substituído por Naldo ou um CD sertanejo, tudo para tornar o espaço um ambiente especialmente produzido para Wellington. Aos 24 anos, os movimentos repetitivos característicos do autismo, no caso dele, foram parar no saco de boxe. Filho de instrutora da modalidade, Wellington está dando os primeiros socos no esporte.

O homem-menino fala alto, animado e responde de cabeça várias coisas. A idade é que deixa dúvida e ele precisa perguntar para a mãe: - quantos anos eu tenho mesmo? O diagnóstico de autismo veio depois dos 4 anos, quando a família percebeu que o caçula de casa era diferente, o levou até a Pestalozzi, onde o garoto foi encaminhado para exames que constataram que ele era autista. 

"Demorou para andar, mas falar não. Foi rápido e ler também. Ele já lia aos 4 anos. Eu achava que era porque ele tinha visto na TV e memorizado, mas quando passei a dar jornais para ele, o Wellington também foi lendo", conta a mãe, instrutora de academia, Marileide Coelho, de 47 anos. Talvez tenha sido por influência da mãe que o menino descobriu o mundo das notícias. Ele é fã de programas de rádio, acessa e lê jornais online pelo tablet. 

Wellington a postos, pronto para a aula de boxe.
Wellington a postos, pronto para a aula de boxe.

"No começo eu fiquei meio sem chão, sem saber o que fazer e como lidar, mas os profissionais e professores foram explicando e você vai aprendendo também com as mães, quando cada uma fala da experiência que tem com o seu filho", explica Leide.

Wellington se levanta do sofá quando as perguntas param de ser dirigidas a ele e fica diante da TV para - acredito eu - prestar mais atenção ao noticiário. Mas volta os olhos quando precisa responder. "Estudo, na AMA (Associação de Pais e Amigos do Autista), fica na Rua Bandeirantes, antes da 26, perto do Sesi", indica. As coordenadas ele sabe de cor, mas o que o incomoda é a proximidade. O menino adora andar de ônibus e faz, por vezes, a mãe fazer o trajeto no coletivo, mesmo quando caminhar era opção.

O que gosta de fazer? Assistir TV e ouvir rádio. Acorda todos os dias às 6h e sabe a diferença de horário de entrada entre segunda e quinta. Primeiro 7h10, depois 7h50. É sistemático com horários, organizado a ponto de reconhecer que algum radinho de sua coleção foi colocado fora do lugar na hora de tirar o pó.

Sobre o esporte, diz que está no início. "Agora que eu comecei a fazer boxe, mas semana passada eu andei até o aeroporto", conta. A mãe confirma que a caminhada foi tranquila e parece ter sido a primeira, de muitas. O filho até já pediu para participar de uma caminhada e corrida em Terenos.

Resumo do treino do jovem nos finais de semana, quando a academia está vazia.
Resumo do treino do jovem nos finais de semana, quando a academia está vazia.

As aulas de boxe estão começando devagar. "É complicado, com muita gente, ele pode estranhar", desconfia a mãe. Não estava nos planos, mas vai que o negócio engrena e Leide passa a abrir uma turma só para autistas? "Trabalhar com crianças, quando a pessoa já tem uma, é melhor. Sabe como lidar", deduz a mãe.

O passatempo da hora tem sido as viagens e pescarias para o Pantanal. Incluídas na rotina dele recentemente pelos pais. "Antes era só escola e a chácara que a gente tem em Rochedo, agora ele conheceu o Pantanal e gostou de pescar", narra a mãe. "Pesquei, peguei um pacu", detalha.

Para a mãe, o preconceito ainda é muito difícil. E o sonho dela era uma convivência e uma interação. "Entre aspas, dentro do que é normal", fala a mãe.

Wellington percebe que é 'diferente'. A mãe conta que quando tentou matricular o filho na escola, ele se negou a sair da AMA. "Disse que os garotos iam rir dele, não sei se ele já viu isso e ficou triste", conta.

Wellington mudou a vida da família e Leide, não tem dúvida nenhuma de que ele tinha que vir na vida dela. "Eu precisava dele, digo sempre isso, precisava".

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Exibindo o que fez na escola, o que mais gosta de andar: ônibus. (Foto: Fernando Antunes)
Exibindo o que fez na escola, o que mais gosta de andar: ônibus. (Foto: Fernando Antunes)
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