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Comportamento

No Santo Antônio, baile funk “Proibidão” lota casa de shows toda sexta-feira

Ângela Kempfer | 19/08/2013 06:45
No baile, som é automotivo. (Fotos: João Garrigó)
No baile, som é automotivo. (Fotos: João Garrigó)

Para quem está acostumado com o circuito de bares na Afonso Pena, ir ao baile funk “Proibidão” do bairro Santo Antônio é entrar em um mundo estranho, uma surpresa que garantiu na sexta-feira passada um das minhas noites mais interessantes dos últimos tempos em Campo Grande.

Por fora, lá pela 1 hora da madrugada, a impressão é de que a casa noturna “Empório Santo Antônio” é mais um daqueles clubes decadentes, sem muita animação. Mas é só cruzar a porta principal e perceber que a falta de movimento na rua é na verdade a vontade de estar lá dentro, descendo até o chão.

A imagem de um galpão lotado, com 99% das pessoas dançando, empolga até quem é recebida com letras do tipo: “Vamos se juntar nós 3 e taca, taca, taca, taca, taca pica nessa novinha”. O ouvido fica chocado na primeira estrofe, mas depois se acostuma, faz a gente rir, até porque tudo parece uma grande brincadeira, com mulheres dançando de um lado e homens de outro, quase sem se misturar. Eles fazendo passinho, elas rebolando muito.

Apesar de mulheres não pagarem nada até a meia noite, 70% do público é masculino. Depois desse horário, elas pagam R$ 10,00 e eles R$ 15,00. Detalhe: ninguém pede a Carteira de Identidade para verificar se tem adolescente entrando.

“As meninas vem com as amigas e ficam com elas a noite toda. Pode ver: tem grupos só de homens ou só de mulheres. Se encontrar um cara legal, rola, senão, é só pra curtir o funk mesmo”, explica a cabeleireira Jussara Lima, de 33 anos, que vem do bairro Santa Emília para o “Proibidão” de sexta-feira.

Uma das mais velhas no grupo de quatro loiras, ela se veste como a prima de 19 e quase todas as garotas no lugar, com short jeans curto, blusa colorida justinha e salto alto. “Nem penso em sair de casa com a roupa que eu trabalho todo dia. Noite tem de ter cara de noite e não dá para dançar funk parecendo uma velha, né”, comenta.

Para as meninas, o estilo exige short curto e salto.
Para as meninas, o estilo exige short curto e salto.
para descer até o chão.
para descer até o chão.

Todo mundo parece ter o mesmo guarda-roupa, mas não há uma pessoa sem estilo no Empório. Entre os manos, é raridade algum deles sem boné ou corrente de ouro falsa. Quem não tem tatuagem à mostra, exibe um corte de cabelo diferente ou um alargador de orelha.

Entre as meninas, a roupa é quase sempre muito curta, justa, decotada, apesar do frio de 8 graus da última sexta-feira. “Você acha que hoje lá na Valley as gurias estão vestidas diferente? Deve tá todo mundo assim, pelada”, ri o estudante Wallyson Freitas, de 19 anos.

A princípio, ainda tentando me adaptar em uma nova tribo, a opção foi ficar nos camarotes, localizados à direita e à esquerda da pista de dança. Mas a fotografia exigia uma entrada mais agressiva e, apesar do receio preconceituoso de ir até aquele amontoado de gente desconhecida, se jogar na pista foi a atitude mais esclarecedora da noite.

Só chegando bem perto percebi 3 veículos estacionados em frente ao palco, com os porta-malas escancarados. O som do baile é automotivo, com a aparelhagem de uma caminhonete e de dois carros. O repertório tem muito funk pesado e quase nenhum comercial, do tipo Anitta. O “Pre-pa-ra” da cantora carioca também rola, mas a loucura é mesmo com o som de MCs como Magrinho e Daleste, assassinado em julho.

Entrar na pista, me fez ver como a periferia tem uma cor difícil de encontrar nos lugares badalados de uma cidade por vezes chatinha e também desmistificar muitas coisas.

Primeiro: não, ninguém fica se amassando como se estivesse fazendo sexo em público. Os homens não passam a mão na mulherada, nem nas mais despidas ou naquelas que encaram o “quadradinho de 8”. Pisar no pé de um garoto mal encarado também não gera automaticamente uma confusão generalizada.

"Funk respeita mais a mulher dos outros do que sertanejo", avalia o proprietário de uma das equipes de som em apresentação no baile, Kenny Vicente, que também diz ser empresário de dupla sertaneja.

Segundo: sim, você pode encontrar muito gente capaz de pedir desculpas após um esbarrão no meio daquela muvuca. As pessoas pedem para ser fotografadas, assim como em qualquer outra baladinha e agradecem sorridentes. A bebida no bar é das boas, com vodka e energético como de uma casa noturna convencional, com preços também normais. Uma cerveja Skol, por exemplo, custa R$ 4,50 e uma dose de vodca Smirnoff sai por R$ 7,00.

Ao lado da casa há estacionamento, por R$ 10,00. Na noite de sexta, eram mais de 100 motos e poucos carros, em uma contagem "de olho".

Entre os meninos, quase 100% usam boné.
Entre os meninos, quase 100% usam boné.

Talvez você se incomode com o banheiro sem portas e a sujeira no chão dos sanitários. Talvez você sinta uma tensão no ar ou ache as letras das músicas ofensivas, por isso tem de ir disposto a se divertir. “Não sei porque o povo poderia reclamar daqui. Você vai em bar chique e fica horas na fila. Aqui é lotado, mas não tem nenhum metido escolhendo quem entra. Não tem fila nem para entrar, nem para comprar ficha do bar”, lembra Wallyson.

Realmente, ninguém precisa esperar para entrar em longas filas e a educação do menino que atende na bilheteria também é de animar quem chega ao Empório.

Para não dizer que tudo é um mar de rosas, dá para sentir um cheiro de maconha e na saída, já às 3 horas da madruga, um principio de confusão fez os seguranças agirem. Na hora, é inevitável pensar: “pronto, eu sabia”.

A briga, entre mulheres, fez os garotos também entrarem na discussão, mas por incrível que pareça, para aquele bando de meninos de boné do Corinthians, cara amarrada e muito palavrão saindo da boca, bastou um pedido do segurança para uma das turmas dar meia volta e deixar o local. “Vocês sabem que se entrarem vai dar briga.Os caras vão partir pra porrada. Então, deixem para vir na semana que vem”, recomendava um dos funcionários.

Lá fora, dois moto-taxistas que tinham acabado de deixar o grupo, reforçavam a recomendação, como se conhecessem a turma de outros carnavais. No fim da noite, tudo deu super certo e olha que ninguém disse que era da imprensa quando chegou.

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