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Comportamento

No tempo de poucas grifes por aqui, boutique vestia até elenco de novela

Elverson Cardozo | 26/08/2014 07:52
No tempo de poucas grifes por aqui, boutique vestia até elenco de novela
Loja foi inaugurada em 1985. (Foto: Marcelo Victor)
Loja foi inaugurada em 1985. (Foto: Marcelo Victor)
Descendente de italianos, Sidney Volpe nasceu no interior de SP, mas adotou Campo Grande. (Foto: Marcelo Victor)
Descendente de italianos, Sidney Volpe nasceu no interior de SP, mas adotou Campo Grande. (Foto: Marcelo Victor)

Pouca gente sabe, mas a boutique Doce Delírio, na 14 de Julho, vestiu atores e atrizes da novela “Ana Raio e Zé Trovão”, produzida pela extinta TV Manchete e, por várias vezes, fechou a via para apresentação de desfiles abertos ao público, no Centro. Do outro lado da rua, a Luiza Boutique já contabiliza 41 anos. É mais antiga que Mato Grosso do Sul. É tanto tempo na ativa, que as duas lojas ajudam a contar a história de Campo Grande de um outro ponto de vista.

Criada pela empresária de moda Sidney Volpe, a Doce Delírio foi inaugurada há 28 anos, no dia 5 de setembro de 1985 e nunca mudou de endereço. Com o passar dos anos, a empresa se consolidou com um espaço que vende moda clássica, plussize e vestidos de gala, mas o início foi mais modesto.

A paulista, radicada em Mato Grosso do Sul, abriu a empresa com a intenção de vender roupas causais, para mulheres, mas no dia da inauguração ela apareceu no mais tradicional estilo country, com direito a franja e tudo. Na época, o estilo era “febre” entre os brasileiros.

Não deu outra. Quem entrava na boutique, relembra, perguntava, elogiava e queria um look igual. “Foi aí que, depois de 10 dias, comecei a fabricar roupas country”, conta. Nesse meio tempo, a amizade com uma amiga, figurinista do Rio de Janeiro, que trabalhava na TV Manchete, rendeu a parceria com a emissora.

Figurino da nova Ana Raio e Zé Trovão foi feito pela Doce Delírio. (Foto: Marcos Ermínio)
Figurino da nova Ana Raio e Zé Trovão foi feito pela Doce Delírio. (Foto: Marcos Ermínio)

“Eles me descobriram por ela. Na época, tinha sido convidada para ir ao aniversário da filha dela que iria completar dois anos, mas não pude. Aí fiz uma roupa branca country, saia e jaquetinha de franjas, e mandei. Quando ela recebeu, me perguntou de onde era e aí eu falei que eu mesma fazia. Foi aí que comecei”, diz.

Sidney vestiu atores e atrizes em diferentes papéis e trabalhava com encomendas. “Eles descreviam a cena como ia acontecer, e eu produzia a roupa e elevava. Viajava a cada 20 dias. Deu muito certo”. Foi assim até o final da novela. “Foi uma fase tão romântica, tão gostosa”, relembra.

Depois de 6 anos, a empresária precisou se reinventar e, diante de uma necessidade pessoal da filha, que buscou um vestido e não encontrou o que queria, resolveu mudar o foco. Passou a vender, junto com a moda country, roupas de festas.

Mais tarde, resolveu que era hora de trabalhar com o plus size. “Comecei por causa da minha mãe. Ela é bem cheinha, tem o manequim avantajado e, na época, queria comprar uma bermuda, mas não encontrou e comprou uma de homem. Ela chegou brava porque não tinha roupa para gordinha e aí eu comecei a mandar fazer. Foi um sucesso”, afirma.

Sidney Volpe promoveu muitos desfiles abertos ao público. Nos finais de ano, em datas próximas ao Natal, ela costumava fechar a 14 de julho, entre a Marechal Rondon e Dom Aquino, para os eventos.

“Como nessas épocas as lojas ficam abertas até mais tarde, a gente geralmente fechava de 10 a 15 minutos. O pessoal gostava de ver. Era uma atração. Já fiz um na Estação Ferroviária e trouxe a Solange Frazão e Maria João para abrirem. Deu 2,6 mil pessoas, entre homens e mulheres”, conta, ao dizer que hoje “está mais tranquilo”.

“Desfile não está mais em alta. É muito informação. Tem moda toda hora na internet. Ninguém mais sai de casa para ver novidades não. É mais convidativo você chamar para um chá e apresentar a nova coleção”, completa.

Loja também vende moda plus size. (Foto: Marcos Ermínio)
Loja também vende moda plus size. (Foto: Marcos Ermínio)

Luiza Boutique - Na época em que grandes lojas de departamento, como Riachuelo e Pernambucanas, vendiam tecidos, a empresária Luiza Mitico Matsusita, hoje com 76 anos, entrou no mercado comercializando roupas prontas, que vestiam de crianças a adultos.

Quem tem mais de 40 anos e boa memória, recorda bem das propagandas da Luiza Boutique e dos desfiles que a empresa participava, como o “Garota Jeans”, evento “da moda” que chamava bastante a atenção.

Na ausência de um shopping e de outras opções, a Luiza Boutique era um dos espaços frequentados na década de 70 e 80. Era o local onde os clientes encontravam mercadorias de marcas conhecidas, como Pierre Cardin, Gucci, Pitt, Raph, Liz, Valisere, Du Loren, Darling, Sonhart, Malwee, Paulienne, Catalina, entre outros.

Hoje, a loja que já foi símbolo de requinte, continua buscando a mesma qualidade, mas não tem mais o mesmo brilho. Fica “escondida” no meio de outras grandes lojas da rua 14 de Julho, no Centro, mas, mesmo assim, preserva a tradição de vender roupas com cortes mais clássicos e ainda trabalhar com duplicatas, apesar da “vantagem” ser exclusividade dos clientes mais antigos.

Luíza começou vendendo roupas como ambulante. Juntou estoque e, depois de cinco anos, abriu primeira boutique. (Foto: Marcos Ermínio)
Luíza começou vendendo roupas como ambulante. Juntou estoque e, depois de cinco anos, abriu primeira boutique. (Foto: Marcos Ermínio)

A empresa foi inaugurada em 1973, mas para abrir as portas, dona Luiza precisou batalhar. O início, em 1968, foi como ambulante. Na época, ela trabalhava como cabeleireira, profissão que exerceu por 15 anos.

“Atendia no salão, que ficava em casa mesmo, sexta, sábado e domingo. Segunda, terça, quarta e quinta eu saia para a rua vender, carregando sacolas, como sacoleira. Vendia roupas, tanto infantil, adulto, masculino, calçados... tinha uma variedade grande”, relembra.

O esforço garantiu, depois de 5 anos, o estoque para abertura da primeira boutique, na Rua 14 de julho, perto de uma padaria, onde ela ficou por 17 anos. A inauguração foi um verdadeiro evento para cidade, que esperava algo mais requintado. “Veio parentes, amigos, gerentes do Banco América do Sul, no Banco do Brasil...”, recorda.

Antes de fechar esta, Luíza abriu outra, de 400 m², na esquina das ruas Antônio Maria Coelho com a Rui Barbosa. Ficou lá até 1997, ano em que se mudou para o atual prédio, também na 14.

“O forte eram as roupas, mas eu tinha de tudo. Como não existiam concorrentes grandes, eu vendia tudo o que você pudesse imaginar, desde o recém-nascido. Só não tinha berço e carrinho, mas o resto... Calçados, malas, ternos, gravatas, artigos de presente, inox e até um pouco de cristais... Tinha uma gôndola enorme de bijuterias, lenços, carteiras para festas...”, diz.

Empresa ainda trabalha com duplicatas, mas para clientes antigas. (Foto: Marcos Ermínio)
Empresa ainda trabalha com duplicatas, mas para clientes antigas. (Foto: Marcos Ermínio)

Ela vendia de tudo e vestia famílias inteiras, gente conhecida e da alta sociedade campo-grandense. Foi assim por, pelo menos, duas décadas, mas aí a cidade começou a se modernizar, os concorrentes aparecerem e o boutique, para não ficar para trás, precisou se readequar à nova realidade.

“Na medida em que o comércio foi ficando difícil, com muitas lojas especializadas para recém-nascidos e gestantes, a gente viu que as mercadorias não saiam, não batiam com o pagamento. Venciam as duplicadas e as mercadorias ainda estavam lá. Minha filha, que assumiu o comércio, foi cortando. Hoje estamos praticamente só com as linhas masculina e feminina. Infantil já fechou. Não vendemos mais”.

A decisão garantiu a sobrevivência da empresa, que entrou para a história de Campo Grande. “Se não tivéssemos acompanhando a situação, a gente já tinha fechado. Estamos em pé porque sempre acompanhamos. O que não dava retorno a gente parava de vender. Muitos fecharam a porta porque não acompanharam”, conclui, ao dizer que a Luiza Boutique é, para ela, a realização de um sonho.

“Tenho que agradecer muito minhas funcionárias, a dedicação delas, porque a gente não faz nada sozinha”. E empresária conta com apoio de oito colaboradoras, a maioria delas tem mais de 15 anos de empresa.

Fachada da Luiza Boutique, na 14 de Julho.
Fachada da Luiza Boutique, na 14 de Julho.
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