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Comportamento

Novela sem cenas de sexo é líder de audiência entre comerciantes da Calógeras

Anny Malagolini | 29/05/2014 06:33
No balcão, computador transmiti em tempo real notícias do oriente médio (Foto: Marcos Ermínio)
No balcão, computador transmiti em tempo real notícias do oriente médio (Foto: Marcos Ermínio)

Longe da terra em que nasceram, libaneses que vivem em Campo Grande acompanham o Oriente pela TV a cabo, assim vão preservando a cultura e mostrando por aqui como são as coisas do outro lado do mundo. Ao andar pelo comércio tradicional no Centro da cidade é possível descobrir muito sobre a programação que vem de lá, inclusive, que novela quase não tem beijo na boca naquele canto do planeta.

Na loja do comerciante libanês Karin Abboud, de 50 anos, simultaneamente é possível ver a programação da televisão brasileira e da árabe, transmitida ao vivo pela internet. Ele conta que há dez anos usa o computador para assistir ao telejornal do Líbano e atrações de humor, mas afirma que não deixa de ficar sabendo o que acontece por aqui também.

Desde os 24 anos de idade ele mora em Campo Grande e explica o motivo de querer se informar sobre o que acontece bem longe. “Se esquecermos nosso passado, não temos futuro, por isso me ligo a minha raiz mesmo depois de tanto tempo”.

Faz tantos anos que a comerciante Siham Haddad, de 67 anos se mudou com a família para o Brasil (1947), que apesar de ser libanesa, considera o português como língua “mãe”. Mas ainda hoje tenta manter a conversação em árabe, ensinada pelo pai. A solução é assistir aos programas da TV egípcia, desde novelas, até a MTV.

Ela explica que o Egito possui diferentes sotaques e gírias e por conta disso assistir aos programas não é uma tarefa fácil. "Mas eu insisto", comenta.

Siham conta que está acompanhando uma novela. Sem beijo na boca, a trama tem brigas de família por conta da herança. “Não tem história de amor como as que passam aqui, lá é tudo em volta do dinheiro, briga por terra”, descreve.

Enquanto as novelas brasileiras são destaque no mundo não só pelas superproduções, as histórias que são próximas a realidade, e até um beijo gay em horário nobre, esse tipo de coisa é algo distante da realidade árabe. “A novela do Egito não pode nem chegar perto, tem seus pudores”, explica.

A novela assistida por ela é uma reprise. Foi gravada há seis anos e tem um cenário de cerca de 30 anos atrás. “Imagino que seja isso, eles não usam celular, e percebo pelas roupas e carros”.

Siham diz ser cristã, diferente da programação que assiste, que é muçulmana, mas isso não é motivo para impedir o “entretenimento”. Tanto é que a programação da TV já foi decorada por ela “Dentro de um mês, tem início o Hamadan e então toda a programação muda”, comenta.

A comerciante ainda mantém contato com algum parentes que moram no Líbano, como irmã, tias e primas, mas as conversas mantidas pelo telefone não envolvem comentários sobre nada do País, com medo de que os telefones estejam grampeados. “Fico sabendo da notícia, mas conversamos coisas aleatórias”.

A TV que no mundo todo tem a programação dedicada aos jovens, a MTV, para a comerciante, é o canal que mais a diverte. “Dou risada o tempo todo”, conta.

Além de clipes, são transmitidos programas com personalidades locais, que discutem cultura e há também apresentações artísticas.

Programas jornalísticos são preferência.
Programas jornalísticos são preferência.
Mas também há novelas e séries de TV.
Mas também há novelas e séries de TV.

A libanesa Amira Food, de 70 anos, é prima de Siham e também é comerciante. Mantém uma loja de sapatos na avenida Calógeras. No balcão, tem uma TV, mas Amira adianta que o aparelho quase não é ligado, pela falta de tempo. Desculpa que também usa para assistir pouca televisão em casa. Mas quando tem algum tempo, o entretenimento fica por conta do canal 209, da Net.

Ela mora em Campo Grande desde 1953, veio com a família para o Brasil. Como era criança, a cultura brasileira é mais forte, apesar de ainda carregar o sotaque árabe. Amira confessa que apesar de gostar de ver o que acontece sobre a sua origem, dá preferência aos jornais locais.

Já no quesito dramaturgia, a TV é ligada às 19 horas para os capítulos da novela do Oriente. Ela gosta de acompanhar e cita a diferença em relação áas brasileiras. “Não tem beijo ou sexo, contam a história da vida”, resume.

O passeio pela Calógeras rende conversa sobre a programação árabe. Outro libanês, vizinho, o comerciante Nassif Asmar, de 46 anos, chegou no Brasil jovem, com 28 anos e para manter os laços com o outro País o jeito que ele encontrou também foi pela televisão. Ele conta que entre as preferências na programação árabe, além dos jornais, são os programas musicais, assim como “The Voice”. “Assisto de tudo, mas os árabes são uma forma de matar a saudade”, explica.

Nassif assiste a noticiários árabes para manter os laços (Foto: Marcelo Victor)
Nassif assiste a noticiários árabes para manter os laços (Foto: Marcelo Victor)
Apesar da TV na loja, Amira afirma que só assiste novela em casa (Foto: Marcelo Victor)
Apesar da TV na loja, Amira afirma que só assiste novela em casa (Foto: Marcelo Victor)
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