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Comportamento

Num mundo onde todo mundo só critica, amigos têm em Glauber um grande incentivo

Paula Maciulevicius | 29/03/2016 06:12
Aos 21 anos, Glauber Portman é incentivador dos amigos desde muito cedo. (Foto: Fernando Antunes)
Aos 21 anos, Glauber Portman é incentivador dos amigos desde muito cedo. (Foto: Fernando Antunes)

A drag queen que ainda não tinha encarado o público no bate cabelo ou a mãe tatuadora que desejava seguir carreira na arte têm em comum o empurrãozinho que faltava. As personagens que já tiveram as histórias contadas aqui no Lado B realizaram grandes sonhos depois de serem incentivadas por um amigo: Glauber. 

Num mundo onde se joga mais pedras do que flores, quem exalta qualidades e caminhos tem algo mais nobre dentro de si. Ficamos curiosos para saber o que move quem quer ver o sucesso do outro, sem cobrar nada por isso. 

Aos 21 anos, com um sorriso enorme no rosto, Glauber Portman responde que ser incentivador está dentro de si desde muito cedo. Foi a forma que encontrou de reverter a negativa que tinha dentro de casa.

"Meus pais, de uma certa forma, bloquearam o meu campo artístico. Não de forma vasta, mas aquilo que eu queria. Então sempre busquei nos meus amigos dar esse apoio", explica. De registro, Glauber se chama Nascimento de Barros, de nome artístico, Glauber Portman, produtor cultural, fotógrafo, poeta e estudante de Artes Visuais.

Na pele, as primeiras tatuagens que o amigo Kalebe fez. (Foto: Fernando Antunes)
Na pele, as primeiras tatuagens que o amigo Kalebe fez. (Foto: Fernando Antunes)

A primeira "poda" que sofreu foi em relação ao curso, teve de encarar por escolha da mãe três anos e meio de TI (Tecnologia da Informação). Pura exatas, quando ele respirava as artes. Para deixar a vida acadêmica mais leve, incorporou à grade, por conta própria, projetos de humanas como poesia, fotografia e performance, onde colocava os amigos juntos para atuar.

"Eu tenho esse comportamento com os meus amigos. Busco fazer essa participação de incentivo a eles, coisas que eu não tive". Mas o lance não vinha só da família e sim do que ele chama "habitat em geral".

Depois de se aventurar na Geografia, na Publicidade e Propaganda, Glauber se encontrou nas Artes Visuais, curso da UFMS. As mudanças de percurso nunca o afastaram de olhar para o outro. "A minha prática de incentivo está em todos. Participo de vários trabalhos de amigos meus, no processo de composição, exposição, divulgação", descreve.

A forma prática de incentivar é abrir espaço para expor os trabalhos nas festas que promove, além de mostras de fotografia que realiza e coloca os amigos ali. Há quanto tempo ele faz isso? Glauber não percebeu os dias passarem. Talvez tenha sido antes de entrar no primeiro curso, de TI. "Eu tenho essa posição por não ter recebido tanto apoio. É uma necessidade que tenho para com os meus amigos. É crucial para mim dar esse apoio a eles. Me sinto nessa responsabilidade.

Glauber e a amiga que ele incentivou a virar tatuadora, Elisângela Mazzini. (Foto: Arquivo Pessoal)
Glauber e a amiga que ele incentivou a virar tatuadora, Elisângela Mazzini. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na prática, funciona assim, ele vê talentos devido ao bloqueio que viveu. O apoio não vem só na fala, de fazer isso, aquilo, estudar, trabalhar e produzir. "É dizer que eu vou dar ajuda no que você precisar. É o processo de só incentivar o ponto criativo, o que eles vão trabalhar, o que vão por na obra, isso faz parte da vivência deles", enfatiza.

O papel de dar o empurrão atribuído a ele se resume em despertar coragem. "O sonho da mãe tatuadora, por exemplo, era dela. Quando construído, o filho Kalebe viu que também poderia ser o dele, que ele gostava daquilo. A primeira tatuagem dele são essas. Fui um grande incentivador, porque diante da insegurança de não ter modelo, eu disse: faça em mim. Isso faz com que aflore nas pessoas a confiança, alguém está se dispondo a se dar por ele".

Outro exemplo foi com a drag Rafa Spears, foi na frente de Glauber que ela realizou a primeira performance. "Só eu vi e ali eu vi um futuro todo por causa da alegria, ela tem toda aquela essência que a drag precisa", descreve. Foi na casa dele, durante uma festa, que Rafa fez o primeiro show em público. "E não foi um empurrão? Ninguém nunca tinha dado essa oportunidade. Eu disse: vai, arrasa, eu preciso de você".

E do outro lado? Quando Glauber pegou para si essa responsabilidade, acabou percebendo que se trata de uma via de duas mãos. Enquanto ele dá, também recebe. E a devolutiva vem no mesmo carinho e velocidade. "Acho que isso é uma troca. Eles veem o apoio que eu dou e retribuem da mesma forma. Se eu falo que quero fazer uma exposição, eles se mobilizam, todos os tombos que eu dou, eles estão fortes, junto comigo".

Os amigos que têm o apoio dele são ligados ao cenário criativo das artes, como poesia, dramaturgia, núcleos de atuação e até produção de desfiles. Opções que o próprio estudante se inseriu para ter entendimento e saber como ajudar. 

Como o mundo seria se as pessoas ao redor fizessem o mesmo? Ele responde de supetão, numa só palavra, para depois descrever o que sente: "incrível".

"Falta incentivo em tudo, não só na arte. Falta incentivo para você ser quem você é, desejar como você quer desejar. A sociedade é algo obscuro e insano e ela não te dá abertura para nada. Se não correr, não consegue e correr sozinho, é muito mais difícil. Correr acompanhando por uma pessoa que incentiva e vai estar te dando água é meu trabalho, é o que eu gosto de fazer pelos meus amigos".

E mais, Glauber diz que para dar aquela força, não precisa de nada mais que amar. "Amar é o principal. Amar estar ajudando os outros, estar com eles, eu cresço junto deles, porque mais que minha participação esteja contando mais, são eles que me ajudam muito. Eu sou incentivado por estar incentivando. Isso é o mais gratificante".

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Como o mundo seria se as pessoas ao redor fizessem o mesmo? "Incrível". (Foto: Fernando Antunes)
Como o mundo seria se as pessoas ao redor fizessem o mesmo? "Incrível". (Foto: Fernando Antunes)
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