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Comportamento

O Manual do Homem Bacana segundo a geração de mulheres tolerância zero

Naiane Mesquita | 08/03/2016 06:23
Meninas relatam casos de assédio e confessam que não toleram mais assédio físico e moral (Foto: Alan Nantes)
Meninas relatam casos de assédio e confessam que não toleram mais assédio físico e moral (Foto: Alan Nantes)

No dia em que se celebra as conquistas femininas das últimas décadas, mulheres ainda são capazes de descrever abusos e assédios cotidianos com facilidade. No caminho de casa, na balada, caminhando ao lado da filha, elas escutam quase todos os dias ofensas disfarçadas de “elogios” e declaram: não toleramos mais esse comportamento.

Entre as bandeiras dessa geração de mulheres modernas e independentes está o fim das cantadas cheias de palavras de baixo calão e desrespeito. Enquanto milhares dizem que não suportam mais esse comportamento, homens de todas as idades ainda se perguntam como fazer então, nesse caso, para conquistar uma mulher.

Por isso, o Lado B, convidou as novas feministas para responder essa incógnita que aparentemente alguns meninos e até meninas não conseguem entender. Elas não gostam do conceito "manual", mas mesmo assim tentamos traduzir nesse caminho o que pode e é abominado pela geração tolerância zero.

A psicóloga e cantora Karoline Modeira de Oliveira, 24 anos, afirma com toda a convicção, que não tolera mais as cantadas nas ruas. “Quando os homens dizem 'gostosa', ' vem ficar comigo', como se eu precisasse, tivesse a necessidade de ficar com alguém, de pegar alguém o tempo todo. A mulher contemporânea, moderna, sabe o que quer. Vai dar sinais, pelo olhar ou até chegando na pessoa de que ela está interessada em uma conversa”, acredita.

Para ela, o mais absurdo é quando a mulher recusa a iniciativa de um homem e mesmo assim ele continua forçando um contato, seja agarrando pelo corpo ou cabelo. Bárbara Albino, 36 anos, professora infantil de consiciência corporal, vai mais longe. “Não é porque eu sou mulher que isso significa que eu sempre estou aberta a homens. Não sou retardada, quando eu quiser vou demonstrar, os homens que cometem assédio continuam com as 'cantadas' mesmo quando dizemos não”, frisa.

Jéssica tem 25 anos e o desejo de parar de testemunhar casos de violência contra a mulher todos os dias (Foto: Alan Nantes)
Jéssica tem 25 anos e o desejo de parar de testemunhar casos de violência contra a mulher todos os dias (Foto: Alan Nantes)

Bárbara diz que sempre vai às feiras alternativas vender produtos artesanais. Costuma levar a filha de cinco anos. “Um dia vi um homem olhando minha filha, enquanto ela pegava uma flor no chão. Aquilo já me deu medo e eu peguei um toco que estava perto, pronta para agir, se necessário. É isso que estou ensinando para minha filha, que ela vai sentir medo e precisa se defender? Não precisava ser assim se houvesse respeito entre os gêneros”, ressalta.

O que elas querem é que, ao invés de homens priorizarem o contato direto, físico e sem respeito pelo corpo feminino, optem pela conversa e principalmente, tenham sensibilidade para perceber se realmente existe uma paquera. “Nós temos o direito de ir e vir sem ter medo. De curtir a balada com as minhas amigas sem precisar me preocupar. Tem um momento no sábado, durante o show de uma rapper que eu gostaria que não tivesse homem nenhum, fazendo comentários de como sou gostosa ou do meu cabelo”, deseja Karoline.

Segundo a professora de Língua Portuguesa Jéssica Cândido de Oliveira, 25 anos, o fato de ser negra agrava a situação. “Existe toda a questão da sexualização da mulher negra. As cantadas e ofensas nas ruas são piores. Mas, o que mais me incomoda nisso tudo é o assédio físico. O toque, o abuso e a violência que milhares de mulheres sentem todos os dias, nesse minuto. No caminho para a entrevista eu testemunhei uma mulher sendo xingada e até cuspida pelo companheiro em um ponto de ônibus, chegou a pegar em mim. Ofereci ajuda e ela só chorava”, relata.

Essa não é a única história com final triste que Jéssica conhece. No último final de semana ela saiu com as amigas e chegou a ver um carro sendo jogado contra elas no estacionamento de uma convêniencia, quando pararam para comprar água. “Um homem parou ao lado do nosso carro e começou a tentar iniciar uma conversa. Dizemos que não e ele continuou com o assédio. Quando ameaçamos que anotaríamos a placa do carro e denunciaríamos como assédio, ele sinalizou que ia embora, mas voltou e jogou o carro contra a gente. Só não acertou porque puxamos umas as outras”,

O comportamento masculino mais próximo do ideal seria construído com respeito. Não importa a roupa que a mulher está vestindo, seu cabelo ou cor da pele. Se está sozinha ou em grupo, isso não dá o direito de um homem iniciar uma paquera na base da ofensa e do toque forçado. Antes disso, é bom ele se certificar de que a mulher deseja uma paquera e a melhor forma de se observar isso é por meio do diálogo, sempre com respeito. Ao ouvir um não, siga em frente e não perturbe.

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