ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, SEXTA  29    CAMPO GRANDE 23º

Comportamento

O Natal pode ser triste, mas também muito feliz se essa for a sua escolha

Naiane Mesquita | 24/12/2016 07:05
Família Moraes reunida ainda com a matriarca e todos os netos (Foto: Arquivo Pessoal)
Família Moraes reunida ainda com a matriarca e todos os netos (Foto: Arquivo Pessoal)

Todos os anos Elenice Moraes, 54 anos, abre as portas do apartamento para receber a família. O Natal é de longe o momento mais feliz para ela e a irmã, Edmara, que mantém a tradição há mais de três décadas. Com amigos ocultos e outras brincadeiras que deixavam as crianças eufóricas, elas não se abalaram nem mesmo com a morte da idealizadora e matriarca, Alice, em 2011. "É como se a gente a mantesse viva de alguma forma", sorri Elenice.

Quando todos se unem em uma única onda de pensamento, que visita os sentimentos de perdão e bondade, o Natal se transforma na data festiva mais importante do ano. Independente de crenças, o nascimento de um personagem que prega justamente o amor sem preconceitos ou julgamentos, a sociedade se beneficia por uma onda de esperança e recomeço.

Elenice é quem recebe todo mundo no apartamento, igual a mãe ensinou (Foto: Fernando Antunes)
Elenice é quem recebe todo mundo no apartamento, igual a mãe ensinou (Foto: Fernando Antunes)

"O Natal é extremamente importante, todo mundo percebe que no Natal independente da religião todos ficam envolvidos com pensamentos de perdão, receber e doar perdão, além de festejar o nascimento de um personagem que todo o mundo conhece, que busca levar a mensagem da benevolência", explica a psicóloga, Raquel Icassaty Almirão, 44 anos.

Com quase duas décadas de experiência na psicologia, Raquel sabe de perto que as festas de fim de ano tem o poder de deixar as pessoas mais tristes. A lembrança de quem partiu, os desafetos familiares e até os encontros que não podem ocorrer, carregam a data com um peso que ela não deveria ter.

"Este ano em especial pode entristecer mais as pessoas por causa das inconstâncias políticas e econômicas. Muitas pessoas podem não estar com problemas financeiros, mas tem um parente passando pela situação, ou amigos, em outros estados do País, que não poderão integrar as reuniões familiares. Atendi um caso de um paciente que estava abatido por isso", explica Raquel.

Elenice, por exemplo, sentirá a falta da irmã que não virá de Goiânia para as festas de fim de ano. "Vou ter que fazer o tutu de feijão sem ela. Nunca deixamos de fazer a ceia, nunca falhou um ano. Minha mãe cozinhava muito bem e sempre foi na casa dela. A tradição era o tutu de feijão, porque ela era de Minas Gerais, perto de São Paulo, então sempre tinha", relembra.

Quando existem boas lembranças, é nelas que toda a família deve se aproximar. Dos encontros calorosos com quem mora longe, os amigos ocultos regados a carinho e das pegadinhas que deixavam as crianças elétricas.

"A união é muito importante. Sempre tem a ceia de Natal, os pratos tradicionais, sobremesa, aquela comilança. Depois ainda fazemos o almoço de Natal, amigo oculto e o Lalau, que é o Amigo da Onça. Cada um compra um presente, que nem sempre é um bom presente, coloca em cima da mesa e você pode ir roubando os presentes de acordo com o sorteio. As crianças nunca se conformavam", ri Edmara Moraes Veloso, 54 anos, irmã de Elenice e professora de inglês.

Dona Alice cozinhava para todo mundo e sempre fazia o tradicional tutu de feijão (Foto: Arquivo Pessoal)
Dona Alice cozinhava para todo mundo e sempre fazia o tradicional tutu de feijão (Foto: Arquivo Pessoal)

É ela que divide a experiência de cuidar da ceia de Natal e não deixar os encontros morrerem. "Meu pai faleceu nossa irmã caçula tinha um ano de idade. Nós temos 20 anos de diferença da rapa do tacho. No outro ano decidimos que teria Natal e assim foi. Quando minha mãe faleceu em 2011 fizemos mesmo assim, lógico que não foi com aquela alegria. Mas, tentamos manter o máximo mesmo um ano depois. Ela gostava de fazer o Natal e a gente segue exatamente o que ela fazia", descreve Elenice.

Desse sentimento de gratidão pelos ensinamentos da mãe e esperança de um futuro, que os encontros dão certo. "Se precisa conversar algo com a família não vai ser no dia do Natal, só depois. O Natal é sagrado", ensina.

Para a psicóloga, por mais que o Natal envolva encontros de família, uma proximidade e tem lembranças que possam remeter a tristeza, o essencial é seguir em frente. "Solucionar esse sentimento é o ideal. Se você tem alguma questão com um ente querido, por exemplo, fale sobre a situação, não sobre os sentimentos, isso ajuda na clareza das ideias, o acontecimento fica em primeiro ponto, o porquê daquilo ter acontecido, e a emoção é amenizada. A questão ganha outro significado e o Natal se torna mais agradável", aconselha Raquel.

O ideal é oferecer e receber perdão, de si, dos outros e para o próximo. Enquanto a véspera do Natal não chega, aproveite para realinhar os pensamentos e buscar a esperança. Um novo ano chega, com várias possibilidades de renovação. "Isso faz com que sejamos mais livres", acrescenta.

Nos siga no Google Notícias