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Comportamento

Pai Nosso causa discórdia no Vovó Ziza e senhoras não podem mais rezar

Paula Maciulevicius | 23/03/2015 14:33
Era de praxe que as senhorinhas acima dos 60 anos se reunissem para rezar o Pai Nosso e a Ave Maria antes ou depois da aula. (Foto: Marcelo Calazans)
Era de praxe que as senhorinhas acima dos 60 anos se reunissem para rezar o Pai Nosso e a Ave Maria antes ou depois da aula. (Foto: Marcelo Calazans)

Até segunda-feira passada as aulas no Centro de Convivência Vovó Ziza, no bairro Tiradentes, em Campo Grande, começavam ou terminavam com um "amém". Era de praxe que as senhorinhas acima dos 60 anos se reunissem para rezar o Pai Nosso e a Ave Maria. Iniciativa que vinha delas mesmo, como costume de anos, para pedir bençãos diárias.

Há uma semana elas receberam uma ordem que lhes trouxe uma certa revolta e chama atenção para uma discussão ainda maior: intolerância religiosa. Há quem levante a bandeira que o Estado é laico, que o município também deveria ser... O fato é que as alunas fizeram isso a vida toda e que agora, por incômodo de alguns, tiveram de suspender a oração.

"É porque é reza de 'católico'", justifica a economista aposentada Lúcia Vilar Chaves, de 65 anos. Aluna já pelo segundo ano de hidroginástica do Centro, nas aulas dela aconteciam as orações. "Alguém que reclamou, acho que algum crente, não sei, estou falando por mim, tá? Agora falaram que é pra dizer 'Obrigada Senhor', que serve para todas as religiões", acrescenta.

Lúcia sustenta que a maioria dos idosos gostam sim de rezar. (Foto: Marcelo Calazans)
Lúcia sustenta que a maioria dos idosos gostam sim de rezar. (Foto: Marcelo Calazans)

Lúcia sustenta que a maioria dos idosos gostam sim de rezar. "Mesmo que cada pessoa tenha uma crença diferente, mas gostam de sempre agradecer", comenta.

Dona Maria Arlete Carriço, de 62 anos, foi uma das que se revoltou com a nova 'norma'. "A gente, como católica praticante, achou muito ruim. Mas disseram que é ordem lá de cima. Só falaram que quem quiser fazer oração, melhor fazer fora da aula. Ficamos revoltadas, mas infelizmente aconteceu e tem que aceitar".

Para a aposentada Vanda Gonçalves, de 64 anos, era uma das melhores coisas da aula. "Era muito bom, mas agora não pode mais. Cada um faz a sua, por que? Porque tem muito evangélico", reforça.

O coordenador do Centro, Valdir Gomes, explica que não é proibição, mas que por reclamações de próprias alunas, teve de retirar a figura do professor do contexto. "Aqui há muito tempo todos os professores fazem uma oração, o Pai Nosso, que é unificado. Como tem uma idosa que não gosta e não quer, reclamou. No currículo do Vovó Ziza não tem religião e nem política, pode rezar, mas professor não reza mais", sustenta Valdir.

Entre os alunos são variados os segmentos religiosos. "Não é que nós proibimos, mas não quero professor reunido para fazer oração, assim acaba o problema. Pode rezar se quiser até no banheiro. Foi uma decisão que tomei com o colegiado, deixei elas livres para orar, rezar...", completa o coordenador.

Nos nove anos à frente do Vovó Ziza, Valdir diz que o Centro não discute religião e nem política, mas que chegou a ser confrontado por familiares de idosos quanto ao fato. "O filho veio questionar se no currículo se pergunta sobre a religião do idoso. Isso não existe, mas para evitar, agora cada uma faz a sua oração".

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