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Comportamento

Papai Noel recebe pedido de presente mágico para fazer menina autista feliz

Paula Maciulevicius | 10/12/2015 06:23
Estefânia com a mãe Vânia e a professora, Maria Ozenilde. (Foto: Gerson Walber)
Estefânia com a mãe Vânia e a professora, Maria Ozenilde. (Foto: Gerson Walber)

A letra que assina a cartinha não é só de Estefânia. O nome sai a quatro mãos, porque apesar de muito aprendizado, ela ainda não escreve sozinha. Sem falar, é pelo convívio e amor que ela é compreendida pelos pais e também pela professora Maria Ozenilde, que assina junto com a aluna uma cartinha para Papai Noel, dessas enviadas aos Correios para adoção. O pedido pode parecer comum se tratando de uma criança, mas para Estefânia, funciona como mágica.

A menina tem 10 anos e um diagnóstico de autista dado aos 4. É vitoriosa desde o nascimento, prematura, passou por cirurgias por conta de uma cardiopatia. Sobreviveu à seis paradas cardíacas e do hospital já saiu encaminhada para atendimento na APAE. Quando a mãe estranhou muito o comportamento dela, um tanto agressivo, insistiu com os médicos até encontrar a resposta: a filha é autista.

Caçula dos três filhos de Vânia Odete, ela quem traz angústias e também as maiores alegrias à mãe. Vânia sorri do início ao fim da entrevista, com cara de menina, ela tem 47 anos de idade e uma vida dedicada à Estefânia. Ela é dona de casa, o marido, pintor e junto dos outros dois filhos, moram numa casa simples do bairro Tarumã. 

Aluna da escola municipal Gonçalina Faustina de Oliveira, quando a notícia de que as turmas entraram no projeto das cartinhas dos Correios, a professora se prontificou a escrever por Estefânia. Ela não precisa falar para que todo mundo saiba que pular é o brinquedo preferido.

No colo do pai, recebendo o carinho num abraço. (Foto: Gerson Walber)
No colo do pai, recebendo o carinho num abraço. (Foto: Gerson Walber)

Desde os 5 anos Estefânia é acompanhada pela professora de educação especial. Nem as terapias fizeram tão bem à menina quanto as idas para a escola, garante a família. O Lado B chegou até a cartinha procurando por histórias e brinquedos que fizessem os pequenos felizes. A letra de forma escrita com visível esforço me saltou aos olhos, para depois que fosse lida a descrição, a gente encontrasse Estefânia.

Em casa, a entrevista é feita com a família e a professora, que não deixa de ser familiar também. "Ela não fala, mas fala 'papai bu', é papai carro, que significa passear", explica a mãe, Vânia Odete da Silva. Sempre que encontra a professora fora da sala, Estefânia sabe que é para passeio e não se aquietou enquanto não ganhou a rua junto da mestre. Como autista, ela é acostumada a uma rotina e sair dessa zona de conforto incomoda mais que o normal.

Quando Estefânia entrou na escola não se sentava, ficava em pé o tempo todo batendo palmas, uma das características de autistas, o movimento repetitivo. "Começamos um trabalho eu e a outra professora, demos orientação à mãe até que gerou todos esses frutos que estamos colhendo hoje", descreve Maria Ozenilde Costa Silva. No final do ano, as três - professoras e mãe - conseguiram fazer com que ela se sentasse, por livre e espontânea vontade.

A menina também dependia de tudo. Pegava a mão da mestre e levava até a garrafinha de água para então ser aberta e ela tomar. "Hoje ela tem capacidade de pegar, abrir e tomar sozinha. Isso tudo foi feito o trabalho com coisas pedagógicas", enfatiza a professora.

Digitada pela professora, carta pede o que menina gostaria se falasse ou escrevesse. (Foto: Gerson Walber)
Digitada pela professora, carta pede o que menina gostaria se falasse ou escrevesse. (Foto: Gerson Walber)
Professora pediu e rezou para que a cama elástica chegasse à casa de aluna. (Foto: Gerson Walber)
Professora pediu e rezou para que a cama elástica chegasse à casa de aluna. (Foto: Gerson Walber)

As conquistas são pequenas aos nossos olhos, mas dignas do primeiro lugar no pódia por quem as enxerga com tanto amor. "Às vezes tem pessoas que acham que é tão pouquinho, mas para a gente é tão grande. Ela é outra criança", diz a mãe. A professora completa "as pessoas olham e perguntam: - mas ela vai aprender? Ela já aprendeu muita coisa". 

Estafânia conheceu a cama elástica na escola, aos 8 anos. De início, foi resistente, queria sair e não desgrudava da professora por nada. Na insistência que as mestres tinham, sabendo dos benefícios psicomotores e sociais que o exercício proporcionava, a aluna se apaixonou. 

"Ela pegou uma paixão muito grande, que agora quando ela vê, ela quer e ela não aceita ser tirada. Como todo autista, tem resistência em obedecer regras", explica a professora. Ela pularia um dia inteirinho e prefere a companhia de outras crianças. Por não entender que cada um tem seu tempo, ela não sai de jeito nenhum, mas se diverte até sentada ali, com outros pulando para ela. 

"Ela socializa com as outras crianças", notou Maria Ozenilde. A família a levava para pular esporadicamente na feira, por vezes, custeada pela professora. 

Maria Ozineide e a aluna, aproveitando a cama elástica.
Maria Ozineide e a aluna, aproveitando a cama elástica.

No Dia das Crianças deste ano, teve cama elástica na escola e a menina só saiu quando desmontaram (com ela em cima). "Quando veio o Papai Noel para a escola, a primeira coisa que falei para a mãe era que eu ia pedir e rezar para que a cama viesse. Vai ser muito bom para ela, brincar, socializar", explica a professora.

Se coloca Estefânia com uma Barbie e outras crianças por exemplo, mãe e professora explicam que ela brinca com a boneca entre os dedos, com movimentos repetitivos, pode tirar a perna e morder os cabelos, mas não vai brincar. Na cama elástica o reflexo também é motor, a mãe já notou o quanto a caminhada da menina ficou bem mais firme.

A professora tem fotos que mostram a alegria da menina ao pular. "Isso mostra tudo, a felicidade dela dentro do brinquedo. Será um presente de Papai Noel, de natal, mas com olhar pedagógico", afirma Maria.

Como ela sabe que o presente que mais deseja Estefânia é esse? "Eu sei que se ela escrevesse e falasse e se eu perguntasse: - o que você quer ganhar? Ela ia falar a cama elástica e em nome dela montei a carta".

Estefânia é alta, está indo para o 6º ano e mora numa casa espaçosa. O quintal pode acomodar muito bem até mais de uma cama elástica. Como a menina gosta de companhia para pular, o ideal seria uma cama para adultos, levando em conta que ela pode pular por muito mais tempo. O preço médio, calculado entre lojas e sites pelo Lado B é de R$ 1,5 mil, uma grande, de 4m.

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As conquistas são pequenas aos nossos olhos, mas dignas do primeiro lugar no pódia por quem as enxerga com tanto amor, a família. (Foto: Gerson Walber)
As conquistas são pequenas aos nossos olhos, mas dignas do primeiro lugar no pódia por quem as enxerga com tanto amor, a família. (Foto: Gerson Walber)
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