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Comportamento

Paula engravidou quatro meses após perder a primeira filha e reaprendeu a amar

Thailla Torres | 05/02/2017 07:05
Hoje Lara é a maior alegria na vida de Paula. (Foto: André Bittar)
Hoje Lara é a maior alegria na vida de Paula. (Foto: André Bittar)

Paula diz que foi a dor mais forte que sentiu. A notícia triste, veio no dia tão esperado para o nascimento da primeira filha. Ela estava na maternidade pronta para a cesariana agendada, quando o médico informou que o bebê estava morto. No sofrimento, ela viu a filha chegar e partir. O que veio depois virou um turbilhão de emoções.

Em quatro meses, surgiu a depressão e uma nova gravidez. Diante de tantas surpresas, foi preciso reaprender a amar e buscar caminhos para criar a filha de maneira saudável, após tanta dor.

Casada há cinco anos, Paula de Araújo Caus, 26, sonhou em ser mãe. Quando veio a notícia que estava grávida da primeira filha, foi só felicidade. "Tive uma gravidez ótima, um pré-natal perfeito e carreguei Lorena em mim por 39 semanas", conta.

A cesariana foi marcada para o dia 21 de dezembro de 2015. Enquanto arrumava as coisas para o nascimento, o clima era de comemoração dentro de casa. A cirurgia seria em uma segunda-feira. Por isso, o fim de semana foi de risos e ansiedade. Era tanto sentimento bom que Paula nem percebeu que naquele sábado o bebê não havia mexido.

Lara nasceu uma menina saudável. (Foto: André Bittar)
Lara nasceu uma menina saudável. (Foto: André Bittar)
E linda. (Foto: André Bittar)
E linda. (Foto: André Bittar)
No colo da vovó, depois que todo sofrimento, ficou para trás. (Foto: André Bittar)
No colo da vovó, depois que todo sofrimento, ficou para trás. (Foto: André Bittar)

"Em casa me sentia ótima. Fazia de tudo e estava muito emocionada. Foi um dia de fotos com o barrigão e toda comemoração com a família. Então, não reparei que ela não mexeu. Só quando me dei conta é que comentei com o marido. Mas ele me disse para ficar tranquila", lembra.

Paula chegou a entrar em contato com a médica, mas disse apenas que o bebê não mexeu muito. "Ela comentou que era normal ele não mexer tanto, mas eu não falei que não tinha mexido nada. Com a cirurgia marcada para o fim da tarde, a médica pediu para eu ir cedo no hospital, só para ter tranquilidade".

Confiante, o silêncio da filha, era só um detalhe. Paula estava pronta para receber o presente da vida. O marido trabalhava naquela manhã, foi o irmão quem lhe acompanhou até o hospital. "Na sala de ultrassom, o médico passou a mão na cabeça como quem estava nervoso. Chamou meu irmão e disse que o bebê estava sem vida. Nessa hora eu fiquei desesperada".

Da notícia até a sala de cirurgia, foram só alguns minutos. Os médicos tiraram Lorena sem vida e Paula preferiu não olhar. Um conselho da médica fez com que mudasse de ideia e olhasse uma única vez para filha. "Era gordinha e linda. Eu não queria ver, mas a médica disse que era meu luto, fazia parte e confesso que me arrependo de não ter a pegado nos braços. Mas naquele momento, eu estava mais sensível do que nunca".

A dor da saudade ficou, mas o coração de Paula enche de alegria toda vez que sente a filha por perto.
A dor da saudade ficou, mas o coração de Paula enche de alegria toda vez que sente a filha por perto.

Para evitar a dor, o velório foi rápido e Paula não foi ao enterro. O sofrimento maior veio com os com detalhes burocráticos e o que ficou da filha. "Acho que independente, se foi de semanas ou meses, a dor de perder um filho para uma mãe é sempre a mesma. Mas para mim era doloroso ver o Registro de Nascimento, o atestado de óbito, o quartinho e o enxoval todo preparado".

Quando saiu do hospital, Paula decidiu não ir para casa. Foram 40 dias na residência da mãe, sob os cuidados do marido Bruno Caus de Almeira, de 29 anos. "O luto dele ainda foi maior, eu sofri muito e ele se mantinha firme para me ver bem".

Um ano depois, Paula não tem a resposta do que causou a morte da filha. "Tudo foi investigado quando ela nasceu. Pareceu que ela teve um quadro de infecção no cérebro, mas o que ninguém sabe explicar é como isso aconteceu. Na época, falava-se muito em Zika, mas nada chegou a ser diagnosticado. Cheguei a ter uma alergia depois de umas fotos no Parque das Nações Indígenas durante a gravidez, mas os exames não mostraram nada. Então a gente nunca teve uma explicação", lamenta.

Apesar de todo sofrimento, Paula foi uma mulher forte. Mesmo passando pela depressão, teve a fé como caminho para se libertar da dor. Naquele momento, ela decidiu que não tentaria ter um filho novamente. "Eu não queria tão cedo, mesmo as pessoas dizendo que seria um consolo. Mas eu queria deixar na vontade de Deus".

Os primeiros minutos de Lara no dia 14 de janeiro. (Foto: Arquivo Pessoal)
Os primeiros minutos de Lara no dia 14 de janeiro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em quatro meses, veio a surpresa. Paula estava grávida novamente e de uma menina. A notícia veio carregada de medo. Ela admite que precisou de tempo para enxergar o amor novamente. "Não foi uma gravidez tranquila. Se eu queria? Não, confesso que não. É difícil até hoje e a primeira filha é insubstituível. Eu sabia que queria a Lorena e na gravidez fiquei pensando se eu ia amar ela da mesma maneira. E amei", conta.

Ainda sensível, Paula não segura as lágrimas ao lembrar dos momentos difíceis até o choro de alívio quando Lara chegou ao mundo bem. "Foi uma gravidez de risco. Dessa vez engordei menos, fiz uma dieta balanceada, mas tive trombofilia e tomei 260 injeções anticoagulantes durante a gestação", justifica.

No começo, Paula lembra que sofreu com as neuras. "Tinha tanto medo, que só usava calça e bota, com medo de pernilongos por conta da Zika. Qualquer coisa eu já ficava apavorada. Mas depois dos três meses fui ficando tranquila e tentando não pensar negativo, só no fim da gravidez é que foi surgindo a ansiedade".

Lara Antonella nasceu de 37 semanas, por recomendação médica. Linda e saudável, hoje tem 20 dias nos braços da mãe. Paula fez um novo enxoval e tudo que era de Lorena foi doado para a irmã. Ela diz que a intenção nunca foi se desfazer, mas viver um recomeço junto de Lara. "Foi a maior alegria quando ouvi ela chorar. Foi ali que eu fiquei tranquila e tive a paz que tanto esperava."

A dor da ausência ficou, mas trouxe à Paula um novo jeito de ser mãe. "Sempre entreguei minha vida a Deus. Mas agora acredito que tudo acontece no momento certo. Porque tudo que eu não queria era me perder no medo e na dor durante a vida de Lara. Hoje, o choro é resposta que eu queria. Falo que sou mãe de Lara e Lorena é a minha estrela, hoje mora com Deus. Não cabe a mim cuidar dela, mas ele tenho certeza que cuida em um lugar maravilhoso".

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