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Comportamento

Pela fé, casa ajuda dependentes químicos em um novo caminho

Paula Maciulevicius | 31/03/2013 08:33
Para manter 30 dependentes em tratamento, Casa do Garoto pede doações. "Tudo o que uma casa de verdade precisa", diz coordenadora. (Foto: Marcos Ermínio)
Para manter 30 dependentes em tratamento, Casa do Garoto pede doações. "Tudo o que uma casa de verdade precisa", diz coordenadora. (Foto: Marcos Ermínio)

“O nosso socorro está em nome do Senhor, criador do céu e da terra”. O salmo na placa pendurada na árvore já transmite a paz do local onde 30 rapazes travam a luta diária de virar a página e deixar o vício esquecido no capítulo anterior.

Assim como o verso, todo trabalho na Casa do Garoto, em uma chácara às margens da BR-163, é sustentado na fé. Em funcionamento há quase dois anos, a casa tem dado alicerce para jovens como Rafael Ferreira da Silva, 17 anos.

“Comecei pelas amizades na região do bairro Universitária, hoje estou há quatro meses aqui. No comecinho é difícil, nos primeiros dias...” Ele conta que agora passa o tempo louvando, talento que desenvolveu dentro da casa.

A casa é ligada a Igreja Palavra de Cristo e coordenada pela pastora Scheila de Fátima Matheus, 29 anos. Que como em muitas histórias, hoje trabalha pela recuperação porque já esteve no lugar das vítimas.

Verso pendurado em árvore mostra que o alicerce para se reerguer das drogas é baseado pela fé. (Foto: Marcos Ermínio)
Verso pendurado em árvore mostra que o alicerce para se reerguer das drogas é baseado pela fé. (Foto: Marcos Ermínio)
Ex-dependente química, pastora Scheila fala que só quem passou pelo outro lado sabe o que é estar na sarjeta. (Foto: Marcos Ermínio)
Ex-dependente química, pastora Scheila fala que só quem passou pelo outro lado sabe o que é estar na sarjeta. (Foto: Marcos Ermínio)

Dependente química por mais de 10 anos, ela dá o próprio depoimento. “Sempre quando se está na sarjeta a pessoa é julgada e criticada. Só quem passou pelo outro lado sabe”.

O tratamento é em caráter de internato, onde os homens passam nove meses apenas se dedicando à recuperação. “A terapia é a palavra de Deus, estamos resgatando valores que se perderam, como a autoestima e resocialização. Aqui eles se retiram para limpar a mente e começar a enxergar seus valores”, prega Scheila.

À frente da casa, ela vê muitos que chegam já dizendo “essa é a minha última chance, se eu não conseguir, vou voltar”. Muitas vezes o voltar é já para o crime ou para um caminho sem volta.

Já foram mais de 200 pessoas recuperadas, que segundo a pastora, voltaram para a sociedade e famílias. Outros continuaram e tomaram para si a missão de estender a mão à quem está chegando. Luiz Carlos Amâncio de Oliveira, 30 anos, é um deles. Pela metodologia da casa ele já poderia estar fora dali, mas prefere retribuir a ajuda que teve.

O passado foi de crimes e drogas, mas hoje Luiz Carlos se recuperou e estende à mão para quem precisa. (Foto: Marcos Ermínio)
O passado foi de crimes e drogas, mas hoje Luiz Carlos se recuperou e estende à mão para quem precisa. (Foto: Marcos Ermínio)

“Foram 17 anos. Furtei, roubei, fiz sociedade com traficantes. Escondia droga dentro de casa. Quando fui pra rua, virei mendigo, morava em construção ou onde sabia que tinha lugar”.

O desabafo é de um adulto que perdeu parte da adolescência para o vício. Parou de estudar ainda no 5º ano, mas que no fundo, sabia que tinha um projeto de vida novo mais à frente.

“Cheguei aqui doente, acabado, destruído. Mas agora estou para preparar meu irmão que está chegando”.

A diferença entre quem conheceu o antigo Luiz Carlos, morador do bairro Itamaracá, para hoje é gritante. Usuário de crack, ele parou na casa pesando 70 quilos. Em um ano, além de se recuperar das drogas, também recobrou o gosto por cuidar de si. “Hoje estou com 120 quilos”, fala sorrindo.

Pela proximidade da casa da rodovia, um homem de 40 anos conseguiu o que chama de salvação ao ler uma placa, que indicava a chácara para tratamento de dependentes químicos. O personagem de olhos azuis cabisbaixos contou a tristeza de andar por 38 dias em rodovias para o Campo Grande News. Em troca só pediu que não tivesse o nome revelado, não por questões de pendências com a Justiça, mas porque não tem contato nenhum com a família há anos.

Vindo do Paraná, ele só parava em postos de combustíveis para beber álcool direto da bomba. “Desdobrava com água e bebia. Sol quente, dividi pista com carreta Scania”. O depoimento é curto, mas diz muito de quem por pouco não teve a vida ceifada às margens da rodovia. “Elas passavam de perto várias vezes”, completa.

Questionado como tem sido estes dias de tratamento, ele não mente, é difícil. “Bate aquele ataque de beber, mas é a palavra. É Deus na causa”.

Para a casa seguir com o tratamento a coordenadora diz que toda a ajuda é bem-vinda. Mas o principal é que se conheça primeiro o trabalho da instituição. “A gente convida para que venha aqui pessoalmente. Precisamos de alimentos e voluntários para projetos, e tudo o que uma casa de verdade precisa. Somos uma família”, fala a pastora.
Contatos com a Casa do Garoto podem ser feitos pelos telefones 9111-2991 e 9277-5100 ou pelo e-mail: scheilamatheus@hotmail.com.

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