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Comportamento

Por que tantos casais se separam depois de uma cirurgia bariátrica?

Liziane Berrocal | 10/08/2015 06:56
Eu e meu "namorido".
Eu e meu "namorido".

Existem pessoas que gostam de gente gorda, e existem pessoas que gostam de gente que seja “menos” do que elas. E em muitos, eu digo muitos mesmo dos relacionamentos de meninas gordas que conheço, o lado mais fraco geralmente é o da mulher. Sim, eu acredito em auto-estima gorda, eu acredito que mulheres gordas se amam e são amadas. Porém, eu também sei que muitas, talvez a maioria das meninas e mulheres gordas, sofrem e muito preconceito em seus relacionamentos.

Quando eu escrevi “Aquela gorda? Nunca vai casar! Só se aparecer algum desesperado”, foram milhares de compartilhamentos (2.700 segundo a contagem do Lado B) e quem leu só o título achou até que eu estava sendo preconceituosa. Realista na verdade.

Bom, lá eu contei como a sociedade às vezes encara o relacionamento das meninas gordas (oh! Elas se relacionam sim, casam e tem filhos!). Hoje, vou falar, pelo que eu vivo e convivo, do outro lado, o de dentro do relacionamento.

A primeira vez que eu falei em fazer a cirurgia, eu estava em outro relacionamento e cheguei a ir ao médico e tudo. Mas não tive uma única menção de apoio.

Posso dizer que durante o tempo que estive com ele, sofri toda sorte de preconceitos, tanto dele, quanto da família e amigos dele que rechaçavam o fato de eu ser gorda. Sim, eles achavam o cúmulo de como eu podia ser tão segura, sendo gorda. Quando terminei o relacionamento, por iniciativa própria, já tinha deixado minha vontade de mudar aquilo lá em Caxambu, então toquei o F e logo em seguida comecei a namorar com meu noivo.

Foi quando voltei a pensar na cirurgia como forma de mudar a minha vida para mim, e não para agradar ninguém. O Josiel me conheceu pela internet, então, quando fui buscá-lo no aeroporto, era o que tinha (risos) e nunca menti. E como ele me disse que tinha se apaixonado por mim e não pela minha forma física, foi tudo se encaixando.

Com um homem ao meu lado, seguro de si e bem feliz com a mulher que tinha enfrentei mil problemas até chegar o dia da cirurgia e nesse meio tempo, uma coisa chamou nossa atenção: o grande número de separações que ocorrem após a bariátrica. Sim, o número é muito grande. Não existe nenhum estudo ou nenhuma estatística “oficial” sobre isso, mas nas comunidades e grupos que participo, muitas mulheres acabam se separando com o processo de emagrecimento.

Grande parte dos depoimentos fala sobre como a auto-estima aumenta e elas acabam deixando de lado um relacionamento que muitas vezes vai mal. Um dos depoimentos recorrentes é assim: “Acredito que a maior causa da separação é a auto confiança da mulher, pois após a cirurgia se sente mais bonita e não se ver obrigada a manter um relacionamento que não está dando certo. Antes aguentavam por medo de ficar sozinha”.

Porém, há o outro lado, é grande o número de companheiros que passam a se sentirem inseguros durante ou após o processo de emagrecimento. Nas nossas conversas no grupo Amigos da Nutri, por exemplo, não raro alguém está enfrentando uma crise no relacionamento devido ao ciúme excessivo de seus parceiros.

Vou falar o que eu sinto que pode não ser o que outras sentem, mas o processo de emagrecimento gera sim grandes mudanças interpessoais. Acredite, o mundo passa a te tratar melhor. Eu senti isso no comércio, no dia a dia, nas ruas, no trabalho e pasmem, até pelo fato de eu usar salto alto sinto que muitas pessoas me tratam diferente, ou eu me sinto diferente (é uma via de mão dupla sempre). Mas o mundo é um lugar para os magros e vai continuar sendo, isso é fato.

E quando a mulher emagrece, ela passa a viver um relacionamento com si mesma, é o chamado "amor próprio" que aumenta. Sei de mulheres que viveram anos a fio para o companheiro e após emagrecerem – com ou sem cirurgia – passaram a viver mais para si e a se amarem.

E com isso, muitos companheiros não aguentam a barra de ter que disputar espaço com esse novo amor, com o fato da mulher se amar. Eu por exemplo, acredito que hoje, tenho um caso comigo de paixão imensa. Olho-me no espelho, adoro comprar roupas, passar maquiagem, cremes, perfume, lingerie e tudo mais que toda mulher deve usar independente de ser magra ou gorda.

Fotos? São várias por dia! Vídeos! Tem dias, que saio do chuveiro e paro em frente ao espelho e digo a mim mesma o quanto eu me amo e estou linda, ou seja, é tanto amor que isso pode criar um espaço de competitividade no relacionamento, claro.

Para isso, é preciso que o parceiro tenha ciência de que tudo na vida da mulher está mudando. Tem gente que encara isso numa boa, mas alguns não. Eu hoje, posso agradecer ao meu "namorido" que sempre me apoiou e me auxiliou em cada grama perdida. E brinco sempre que ele me ama “desde 166 kilos”.

Não sei se tem um segredo para manter as coisas nos eixos com tantas mudanças, mas no nosso caso, o jogo aberto e a troca de amores um pelo outro é essencial para que a gente consiga seguir em frente juntos.

Claro que ele sente ciúmes – e como, já chegou a brigar, fica de bico e o dia que falei que iria fazer um ensaio mais “sensual” para uma fotógrafa ele foi taxativo: “Nem de brincadeira”. E eu nunca deixo de elogiá-lo, de agradar e agradecer o parceiro que ele é. Porém, a cada foto que eu envio (ele trabalha longe) recebo incentivos tipo: "Você está linda", "Sou cada dia mais apaixonado por você" e devolvo dizendo que fico linda também para ele.

E eu acredito que é isso, cada um respeita os limites do outro.

Agora, se o (a) parceiro (a) for egoísta e babaca, o jeito é mandar ralar peito e procurar alguém com baixa auto-estima. Daí minha amiga, tenha certeza, o problema não está em você e sim no outro.

E basta cantar aquela música: “Amar a mim mesma é bom demais, é tudo que eu posso querer...”

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