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Comportamento

Produtor encanta animais do campo e tem como ‘xodó’ um peru

Cleber Gellio e Viviane Oliveira | 28/07/2013 07:32
Seo Antônio com o peru, Zé Bonitinho. (Foto: Cleber Géllio)
Seo Antônio com o peru, Zé Bonitinho. (Foto: Cleber Géllio)

Quem chega à pequena propriedade localizada ao final da Rua Dolores Duran, na região do Jardim Universitário em Campo Grande, às margens do córrego Lajeado, não acredita na cena que presencia. A recepção é feita por sujeito todo pomposo, que empina o traseiro, estufa o peito e solta um glú, glú, glú que dá para ouvir de longe. Trata-se de Zé Bonitinho, um peru que adora estar no meio de gente e no colo do dono. “Ele é aparecido mesmo, gosta de ficar onde tem movimento de pessoas”, diz o produtor rural, Antônio Clarindo da Silva, 83 anos.

Ele relata que a ave ‘aparecida’ é o macho do casal de perus que cria e afirma que a fêmea não gosta muito de aparecer. Já Zé Bonitinho, por circular livremente entre os humanos até recebeu nome e se tornou a estrela do local. Por isso não corre o risco de cair no dito popular natalino de morrer na véspera. “Esse não vai para panela, ele é o xodó da família”.

Além dos perus, o produtor cultiva hortaliças, legumes e tem uma pequena criação de galinhas e porcos. Sua relação de afeto com animais é tão grande que ao bater a colher de pau na panela os porquinhos vêm correndo comer na mão. Quando é preciso matar um deles para o consumo, Antônio não participa. “Tenho dó, a gente cria tanto apego pelos bichinhos que não tem coragem de matar”.

Sobre o comportamento de proximidade com os bichos, ele atribui à sua naturalidade e bom tratamento. “Eles vivem soltos todo momento. Vamos falando com um aqui, alimentando outro ali e quando vejo já estão no meio da gente. Se bobear entram em casa”.

O aconchego do local, com animais circulando no terreiro, redes de descanso entre as árvores e o barulho das águas ao fundo, atrai diversos visitantes. “Todo mundo que chega aqui fica encantado com o lugar. Até batismos religiosos já teve”, revela a esposa Maria Aparecida, 70 anos, que logo convida nossa equipe para almoçar galinha caipira.

Além dos perus, o produtor cultiva hortaliças, legumes e tem uma pequena criação de galinhas e porcos. (Foto: Cleber Géllio)
Além dos perus, o produtor cultiva hortaliças, legumes e tem uma pequena criação de galinhas e porcos. (Foto: Cleber Géllio)

A raiz sertaneja - “Sou, sou desse jeito e não mudo, na roça nós tem de tudo e a vida não é mentira. Sou, sou livre feito um regato, eu sou um bicho do mato, me orgulho de ser caipira”.

Os versos da canção ‘Caipira’ composta por Joel Marques e famosa pela interpretação de Chitãozinho e Xororó nos leva a uma viagem ao passado e relata como era o estilo de vida no tempo dos nossos avós. Época em que a maioria da população do país habitava o meio rural e tinha, por meio dos tratos com a terra, um jeito peculiar de ser tradicionalmente conhecido como caipira.

Assim é o aposentado Antônio. De vestimentas simples, mãos calejadas da enxada e pele judiada pelo sol, o nordestino de Limoeiro de Anadia (AL) é o fiel retrato do homem caipira. “Esse é meu jeito. Nasci e fui criado na roça. Aprendi com meu pai a criar animais e cultivar da terra. Sou caipira sim sinhô”, brinca o produtor.

Há mais duas décadas ‘Seo’ Antônio deixou o agreste alagoano para tentar a sorte em MS. Ao chegar adquiriu uma pequena chácara no município de Rochedo, distante 75 quilômetros de Campo Grande, onde pretendia plantar e viver com a esposa Maria, e os doze filhos, sendo sete dela e cinco dele de outros relacionamentos. No entanto, quando consertava um antigo Fusca machucou uma das mãos e precisou fazer tratamento médico na capital. “Por conta da dificuldade de deslocamento tivemos que arrumar um jeito de ficar na cidade por mais tempo”.

Ele conta que durante um bom tempo trabalhou na cidade como porteiro, mas o desejo da vida sertaneja falou mais alto. Foi quando desfez da antiga chácara e a há cerca de dois anos adquiriu a pequena propriedade de 2.440² às margens do córrego Lajeado, comprada pelo valor de R$ 19 mil, onde mora com a família. “Não me vejo em outro lugar se não no mato”.

“Eles vivem soltos todo momento. Vamos falando com um aqui, alimentando outro ali e quando vejo já estão no meio da gente. Se bobear entram em casa”, diz Antônio. (Foto: Cleber Géllio)
“Eles vivem soltos todo momento. Vamos falando com um aqui, alimentando outro ali e quando vejo já estão no meio da gente. Se bobear entram em casa”, diz Antônio. (Foto: Cleber Géllio)

O desejo pela regularização - Embora o local tenha todos os atributos necessários para sobrevivência da família de ‘seo’ Antonio, morar às margens do córrego não é tão simples assim. A propriedade está localizada em uma área de preservação permanente e ainda precisa da regularização de titulação. “Meu desejo sempre foi morar às margens de um córrego. Eu tenho a consciência que estou numa área verde e que ainda não pertence a mim. Só quero sair daqui o dia que for da vontade de Deus”, diz Antônio.

As adequações tão desejadas por Antônio, após doze anos de criação da Área de Proteção Permanente (APA) do córrego Lajeado, começam a ser implementadas. Por conta das erosões em terrenos que estão desmatados, a Prefeitura quer que os moradores iniciem processo de adequação ambiental. Na última terça-feira (16) a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) convidou cerca de 100 proprietários rurais, que moram em área de proteção, para reunião nesta sexta, às 8h, no Centro de Educação Ambiental Polonês na rua Corveta, nº 141, no bairro Carandá Bosque.

Na ação civil pública, o MPE (Ministério Público Estadual) alegou que a área de proteção ao córrego foi criada por decreto desde 2001, sendo inexplicável a omissão do município. A concessionária Águas Guariroba anunciou o uso dos recursos ali existentes por parte de empresas e propriedades rurais instaladas no local, comprometendo o abastecimento e o consumo.

Na ação, a prefeitura informou que estão sendo feitos estudos sobre plano de manejo, em fase final de discussão. Para o juiz da Vara dos Direitos Difusos, Coletivos, Individuais e Homogêneos, Amaury Kuklinski, a demora na publicação do Plano de Manejo causou danos. Em 2001, o decreto dava prazo de cinco anos para elaboração do plano.

A Área de Proteção Permanente tem 5.194 hectares, desses, 22% correspondem a zona de conservação e o desenvolvimento das atividades urbanas.Na zona de conservação e desenvolvimento das atividades agrícolas somam mais da metade, 2.955, o que significa 57%. Já a zona de expansão urbana e a zona de proteção estratégica ficam com (563 ha) 11% e (507 ha) 10%, respectivamente. A APA do Lajeado fornece, em média, 17% da da água que abastece Campo Grande.

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