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Comportamento

Professora e mãe montam escolinha em favela e ensinam valores às crianças

Aline Araújo | 12/10/2014 07:33
Escolinha em Cidade de Deus ensina respeito (Foto: Pedro Peralta)
Escolinha em Cidade de Deus ensina respeito (Foto: Pedro Peralta)

A realidade lá é bem diferente da maioria, as necessidades básicas são latentes e em meio ao cheiro de esgoto, a poeira e a conformidade de não vislumbrar um futuro melhor. Por isso, uma iniciativa faz toda a diferença. E ela não vem de fora, tem bem menos relação com doações materiais e muito mais com se dedicar de corpo e alma.

Tudo começou quando a professora Delair Coelho, de 43 anos, decidiu arregaçar as mangas em uma empreitada, a de montar uma escola para reforço aos meninos e meninas moradores da favela Cidade de Deus. “A minha primeira intenção era levar o amor de Deus para as crianças e ensinar sobre a importância do respeito entre elas”, explica.

Religiosa, ela foi aos poucos colocando em prática o desejo de ensinar, não só português e matemática, mais também valores como respeito, educação e civilidade. No início, a escola funcionava em um barração cedido por um dos moradores. Pouco tempo depois, o local teve de ser desocupado e o projeto ganhou mais um reforço.

A professora Delair se sentiu tocada por Deus para começar o trabalho. (Foto: Pedro Peralta)
A professora Delair se sentiu tocada por Deus para começar o trabalho. (Foto: Pedro Peralta)

A mãe Tatiana Paula Barbosa, de 34 anos, abraçou a ideia e a levou para a varanda de casa. Com o passar do tempo e a ajuda de várias pessoas que quiseram ajudar, a “Filhos da Misericórdia” ganhou uma sede própria, construida em madeira ao lado da casa da Tati, como é conhecida na comunidade.

Apesar do da professora ser católica, a escola já recebeu ajuda de várias congregações religiosas e grupos sem vínculos também ajudaram a erguer as paredes de madeira. Por ali, a lei maior é cuidar e conviver em harmonia com os colegas.

“Aqui a gente não tem placa nenhuma de religião, o importante é que as crianças aprendam a se respeitar, tenham educação e saibam rezar, independente da religião”, comenta Tati, que estudou só até a quinta série e tenta passar para as crianças o valor do estudo.

Para tomar conta das mais de cem crianças, de 0 a 15 anos, inscritas na escolinha, Luana Santana, de 20, e Edileusa Luis, de 35, ajudam na hora de fazer as refeições da turma. Elas também são mães e hoje se dedicam à escola com todo o coração.

Tati abraçou a causa com força de vontade e coração. (Foto: Pedro Peralta)
Tati abraçou a causa com força de vontade e coração. (Foto: Pedro Peralta)

Eles chegam, tomam um copo de leite e comem bolachas. Ai, as atividades começam do jeito que dá. Não é fácil conseguir coordenar dezenas de crianças em um ambiente pequeno, mas elas conseguem. “Quando eles estão muito agitados a gente divide, um pouvo vai jogar bola lá fora e um pouco a gente faz atividades de leitura ou reforço com as tarefas da escola aqui dentro”, conta. Antes de irem para casa, eles fazem outra refeição.

A escola abre duas vezes por semana pela manhã e duas vezes à tarde. No sábado, o momento preferido das crianças, ela funciona o dia inteiro. As professoras explicam que ali é um lugar para as crianças se sentirem bem, para brincar e receber carinho. “Eles gostam tanto daqui porque encontram o carinho que não recebem em casa”, afirma com firmeza Edileusa, conhecida como More.

Depois que o projeto começou há funcionar, há quase um ano, as crianças já melhoraram muito em relação a convivência e também no desempenho escolar.

Também há cuidado com a alimentação. Refrigerante e doce, por exemplo, são guardados para datas festivas. “Se a gente ensina eles a terem bons hábitos, como a gente pode encher eles de doce?”, comenta Tatiana. As crianças também aprendem sobre higiene pessoal e a dividir, a saber cuidar do que é de uso coletivo.

Escolinha tem sede própria por causa de doações.
Escolinha tem sede própria por causa de doações.

As frases “por favor”, “posso pegar?”, “muito obrigada”, passaram a fazer parte do vocabulário. As professoras são orgulhosas, principalmente, com a possibilidade de um futuro cheio de conhecimento.

Hoje as doações que chegam para a escolinha acabam sendo distribuídas pela Tati. No caso de comida, toda segunda as pessoas vão buscar no “depósito” construído também pelos voluntários.

Os pais de alunos da escola têm prioridade, depois as famílias mais pobres e por último quem mais estiver precisando. “Foi muito difícil no começo tentar uma organização, as pessoas não entendiam e até já tentaram me bater. Mas hoje elas já perceberam que todo mundo vai ganhar igual e que organização é importante”, explica Tati.

A escola precisa muito de materiais escolares como lápis de cor, giz de cera, e papel. Material de higiene pessoal também está entre as necessidades. Mas se você só tiver força de vontade para doar, vai ser muito bem recebido por lá. As crianças têm sempre um sorriso e um abraço pronto para conquistar quem chega de coração aberto.

Mesmo sem ser dia de aula crianças vão a escolinha para passar o dia. (Foto: Pedro Peralta)
Mesmo sem ser dia de aula crianças vão a escolinha para passar o dia. (Foto: Pedro Peralta)
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