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Comportamento

Profissionais encontram a felicidade "trabalhando para TV de Deus"

Elverson Cardozo | 06/06/2013 06:10
Da esquerda para direita: Padre Hernanni, Nelson e Antonielly. (Foto: Cleber Gellio)
Da esquerda para direita: Padre Hernanni, Nelson e Antonielly. (Foto: Cleber Gellio)

Eles são formados, preparados para lidar com notícias, gerar conteúdo e craques no improviso que o “ao vivo”, em qualquer programa de televisão, exige. Antonielly Maciel, de 27 anos, é jornalista. Nelson Henrique, 27, tem o cargo de produtor executivo. Hernanni Pereira, 33, é padre, mas, longe da função que desempenha na igreja, ocupa a posição de diretor de TV.

Os três, além de comunicadores, são, acima de tudo, católicos. Trabalham juntos, na TV Imaculada Conceição, em Campo Grande. Nesta semana, o Lado B tirou uma tarde para conversar com esses profissionais que acreditam na vocação como missão.

A religiosidade está estampada de forma clara no rosto, na conduta e nas palavras de cada um, mas a ideia é essa mesma. Eles fazem questão de mostrar, no ar ou não, que são cristãos e querem levar a palavra de Deus a todos. Antonielly já trabalhou, como costuma dizer, em “veículo secular”, mas foi na emissora católica que se encontrou no jornalismo. Nelson Henrique sempre foi apaixonado por vídeo, por isso resolveu cursar Rádio e TV.

Enquanto acadêmico, chegou a participar de programas institucionais na faculdade e teve experiência em assessoria de imprensa. Como profissional, assim como a garota, se achou dentro da emissora que produz conteúdo de teor religioso. Hoje, os dois – que começaram como voluntários da empresa - agradecem pela oportunidade e se dizem felizes com a função que desempenham. Nenhum se vê fora dali.

“O que me deixa feliz é exatamente isso. Eu ter entendido minha missão dentro da minha família, do grupo de oração, da igreja onde frequento. Sou uma profissional que veio para trabalhar pelo reino. Meu coração está aqui”, afirmou a jornalista.

Exercício da profissão, para eles, é uma missão. (Foto: Cleber Gellio)
Exercício da profissão, para eles, é uma missão. (Foto: Cleber Gellio)

Pelas câmeras, Nelson e Antonielly garantem que transmitem exatamente o que são na vida pessoal. Ela é apresentadora fixa do “Família Consagrada”, programa que tenta mostrar o “carisma da milícia e o amor de Maria”. Ele, há 7 anos, está à frente do “Hora do Jovem”, programa de conteúdo educativo, cultural e, claro, religioso, voltado à juventude.

Além graduação, do conhecimento que adquiriram nos bancos da faculdade, os jovens defendem que a formação espiritual é de extrema importância. O preparo, para eles, precisa ir além da técnica que o jornalismo ou a graduação em Rádio em TV pregam.

Apesar de afirmar que o jornalismo feito na emissora segue o mesmo “padrão” dos veículos “tradicionais” – que tem a obrigação de, por exemplo, citar fontes e ouvir todas as partes envolvidas em um fato -, Antonielly explica que na TV Imaculada têm de enxergar o lado bom das situações e mostrar a “luz” do evangelho sempre.

Nelson confirma e reforça o discurso: “A gente leva esse lado bom das coisas. Queremos mostrar que no meio do sofrimento existe uma luz. Precisamos mostrar esse lado bom que tem em tudo e não é difícil de achar”.

A parcialidade, levando em consideração essa “exigência”, é escancarada, mas justificável, afinal de contas, trata-se de uma emissora católica. “Tenho que mostrar meu lado religioso. Não tem saída. Posso mostrar os dois lados, mas minha parcialidade está aí”, disse.

Nelson é apresentador de um programa voltado para os jovens e está no cargo de produtor executivo. (Foto: Cleber Gellio)
Nelson é apresentador de um programa voltado para os jovens e está no cargo de produtor executivo. (Foto: Cleber Gellio)
Há 4 anos na TV, Antonielly afirma que está feliz e não tem vontade de trabalhar em um "veículo secular". (Foto: Cleber Gellio)
Há 4 anos na TV, Antonielly afirma que está feliz e não tem vontade de trabalhar em um "veículo secular". (Foto: Cleber Gellio)

É por isso que ela, assim como o padre e o produtor executivo, defende a formação religiosa. Para Hernanni, um profissional que não tem essa “base”, mesmo com toda a técnica adquirida em um curso superior, não vai se sustentar.

Não que seja uma exigência da empresa, disse, mas na TV Imaculada, um apresentador, se não for católico, dificilmente conseguirá ficar à frente de um programa. É preciso, na avaliação dele, além de ler um texto no teleprompter, passar a verdade ao telespectador.

Nelson pensa da mesma maneira. O rapaz comenta que a TV, como empresa, não proíbe a entrada de um funcionário de outra crença – prova disso é o operador de áudio, único evangélico no meio de 19 católicos que trabalha na emissora -, mas argumenta que existem “posições e posições”.

“Não podemos colocar alguém que não é de acordo com a doutrina da Igreja Católica para apresentar um programa. Como ele vai rezar uma Ave Maria se não acredita em Nossa Senhora?”.

A reportagem questiona: “Mas ele não pode ser profissional suficiente para poder ficar em frente à TV e rezar?”. O apresentador acredita que não e rebate: “É testemunho de vida. Eu vou com a minha vida em frente às câmeras. Muitas vezes já fui rezar o terço da misericórdia e rezei pelos meus pecados”, exemplificou.

A jornalista concorda e, para embasar a “tese” do colega, faz uma comparação: “É a mesma coisa se eu estiver em uma emissora evangélica e quiser rezar um rosário. Nem colocaria a cara a tapa para isso porque estaria negando a minha fé e minha crença”.

Para padre Hernanni, formação espiritual é essencial aos profissionais da TV. (Foto: Cleber Gellio)
Para padre Hernanni, formação espiritual é essencial aos profissionais da TV. (Foto: Cleber Gellio)

A busca por essa verdade que, para eles, precisa ser notada pelo telespectador, não fica só nas palavras. Abrange a  postura e o cuidado com o visual. Padre Hernanni defende a sobriedade para repassar valores à família.

Os apresentadores, comentou, são orientados a usarem o necessário e não o supérfluo. “Não trabalhamos com exageros”, disse, ao afirmar que, para propagar o evangelho, não precisa de pompa ou glamour. Antonielly sabe o que isso significa: “A gente toma cuidado com decote e roupas coloridas. Evitamos blusinhas. Usamos as mais fechadinhas, afinal de contas estamos em uma emissora católica”, explicou, enfatizando.

Polêmica, posicionamentos e contradições à parte, fato é que esses profissionais vão além do trabalho que lhes é proposto. Encaram a carreira como vocação religiosa e estão sempre em busca de aumentar o rebanho. Para Nelson, fora as dificuldades diárias, o maior desafio é lutar contra a indiferença espiritual.

“O mundo está indiferente a Deus. A gente precisa resgatar isso. Essa é a nossa missão. Resgatar essa fé que Deus existe, que tem um ser supremo que olha por nós e você tem que colocar sua fé nele. O maior desafio é o espiritual”, afirmou. O mundo, teorizou, “está deixando Deus de lado”.

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