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Comportamento

Quando Campo Grande fez 117 anos, Washington ganhou a vida de presente

Naiane Mesquita | 29/08/2016 06:38
Washington e Fernanda após o transplante em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Washington e Fernanda após o transplante em São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

Enquanto a maioria ainda acordava durante o feriado de aniversário de Campo Grande, Fernanda ajoelhava no Santuário Perpétuo Socorro para cumprir sua promessa. Lá, ficou das 8h30 às 15 horas, rezando, agradecendo a Deus o presente mais que esperado, um coração novo para seu pai.

Na fila de transplante desde 2013, por conta de uma insuficiência cardíaca, um infarto e um tratamento longo, Washington Rodrigues Marques, 56 anos, estava internado em São Paulo a espera de um coração. Da UTI ao quarto se passaram cinco meses. “Minha família toda mora em Campo Grande e desde março ele estava internado no hospital sobrevivendo pelos medicamentos e os aparelhos. Ele não tinha condições de sobreviver com o coração próprio, os remédios que ele tomava para isso não estavam mais mantendo ele bem”, explica Fernanda Marques, 28 anos.

A família reunida (Foto: Arquivo Pessoal)
A família reunida (Foto: Arquivo Pessoal)

Na companhia de Washington, apenas dona Marina Figueiredo, 55 anos, mulher que ele escolheu para construir a família há cerca de três décadas. Juntos, eles percorreram todo esse caminho, até que no dia 25 de agosto, ela decidiu resolver umas pendências em Campo Grande e aproveitar um pouco o tempo ao lado dos filhos.

Na manhã que a cidade comemorava 117 anos, ela recebeu a ligação do marido, com a intuição de que a notícia era no mínimo, maravilhosa. “Ele me disse, estou entrando na ambulância, meu coração chegou. Eu chorava, gritava. No fundo eu ouvia a festa dos enfermeiros, médicos, foi uma emoção que eu nem sei descrever. Na hora eu pensei que deveria estar ao lado dos meus filhos para receber essa notícia. A gente se abraçou, se jogou no chão, família inteira, uma vibração”, relembra Marina.

Fernanda que tinha feito a promessa de rezar durante todo o tempo da cirurgia, ajoelhada no Santuário Perpétuo Socorro, deixou a presença da família e correu para lá. Ficou até a bateria do celular acabar. “Não recebia mais notícia, não sabia se a cirurgia tinha terminado ou não. Fiquei das 8h30 até às 15 horas. A cirurgia dele começou bem tarde, ao meio-dia e foi até às 18 horas”, conta.

Washington na comemoração do aniversário em hospital de São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Washington na comemoração do aniversário em hospital de São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)

A ansiedade foi tanta que não deu tempo de esperar a liberação de passagens aéreas. O jeito mais rápido de chegar era de ônibus e Fernanda aceitou na hora. “Foram seis horas de cirurgia e ela foi um sucesso. O doador é 100% compatível, o tamanho do coração, das válvulas. Quando nós soubemos do transplante ficamos em desespero e isso que confortou minha mãe, porque ela viu que precisava estar na nossa companhia. O tempo de espera é um tempo de aflição muito grande”, diz.

Fernanda chegou no dia 27 em São Paulo, no Hospital Albert Einstein, onde foi realizado o transplante. “Eu achei que ele ficaria sem poder receber visitas ou fosse um tratamento diferente, mas logo depois que ele saiu eu pude vê-lo. Estava super bem. É uma sensação inexplicável. Com certeza é o dia mais feliz da minha vida. Seu pai está internado e não tem uma previsão de sair, está doente. Saber que ele vai poder sair, é uma sensação de êxtase”, explica Fernanda.

A família sabe poucas informações sobre o doador. Apenas que ele é um jovem de 20 anos. Para Fernanda, esses detalhes não importam. “É algo que vou levar para o resto da minha vida, a bandeira da doação de órgão. É um ato de amor supremo, de demonstração de amor e existência de Deus. Saber que uma mãe mesmo em uma situação de dor decidiu doar, um ato tão lindo, não tenho como explicar. Mas por causa desse ato, meu pai vai viver”, acredita.

Marina conta que ainda há um caminho para Washington. “Eu vim para Campo Grande resolver uma série de coisas, uma delas é a liberação dos remédios dele, principalmente os imunossupressores, que ele vai tomar a vida toda agora para evitar a rejeição do coração. Conversei na Secretaria de Saúde porque os remédios custam muito caro”, explica.

Outro ponto que ela faz questão de frisar é a sorte que Washington teve para realizar o procedimento. “Fizemos em um dos melhores hospitais do País, no Albert Einstein por causa de uma parceria do hospital com o SUS (Sistema Único de Saúde). A equipe é maravilhosa, fomos tão bem atendidos. Maravilhoso”, indica.

Agora é esperar a volta para casa. “Acredito que em cerca de um mês e meio”, diz Marina. Enquanto isso, o jeito é fazer o coração bater mais forte, com muito carinho e comemoração. “Nós somos do interior de São Paulo, mas adotamos Campo Grande há 32 anos, é a nossa cidade. Foi um presente e tanto o transplante acontecer no dia do aniversário. Para nós é especial”, frisa Marina.

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