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Comportamento

Revistas dos anos 30 mostram como eram as socialites da época em Campo Grande

Naiane Mesquita | 07/09/2015 07:12
Ângelo Arruda encontrou exemplares da revista Folha da Serra e Eco em São Paulo (Foto: Fernando Antunes)
Ângelo Arruda encontrou exemplares da revista Folha da Serra e Eco em São Paulo (Foto: Fernando Antunes)

"D. Luiza Figueiredo a par de sua fina educação é também exímia pianista, tendo cursado o antigo Instituto Puccini, de Montevidéu". A legenda descreve as qualidades de uma jovem senhora da sociedade corumbaense de 1936, ao lado dos filhinhos Terezinha e Heraldo. Com os cabelos devidamente curtos, como mandava a moda da época, e um vestido longo claro, ela sorri discretamente para as páginas da revista Folha da Serra.

D. Luiza Figueiredo, a exímia pianista descrita na revista
D. Luiza Figueiredo, a exímia pianista descrita na revista

Ao virar as páginas da publicação de 85 anos é possível descobrir nuances de uma sociedade que emergia junto com a estrada de ferro Noroeste do Brasil.

Como até hoje, em cada capa uma personalidade da época era apresentada: "Senhorita Alzira Mandarano, da sociedade de Aquidauana", "Adelia Luz, da elite social campo-grandense", onde mostravam a beleza, os vestidos de corte simples, mas elegantes e uma valorização discreta da curvas. A cautela era reflexo da crise econômica de 1929, nesses períodos a moda perde um pouco do glamour.

Quem guarda as relíquias que seriam as primeiras revistas sobre moda e comportamento de Campo Grande é o arquiteto Ângelo Arruda. "Encontrei as publicações em uma livraria de São Paulo. São revistas de 1933, 1936 e assim por diante. O editor é o Aguinaldo Trouy, que foi proprietário de uma livraria de mesmo nome em Campo Grande, que ficava na rua João Pessoa, hoje 14 de julho", explica.

Nos exemplares, Campo Grande era chamada de "cidade sulista de Mato Grosso"
Nos exemplares, Campo Grande era chamada de "cidade sulista de Mato Grosso"
O preço estampado na capa da revista.
O preço estampado na capa da revista.

Ângelo se interessou pelas publicações na época em que escreveu o primeiro livro sobre arquitetura de Mato Grosso do Sul. "Há relatos sobre as construções da cidade e do interior. São fotos, registros, que eram importantes para a pesquisa", indica.

Quem tem contato com a revista em preto e branco percebe que nem mesmo os quase cem anos transformaram por completo a sociedade campo-grandense. Nos anúncios de pé de página estão de médicos importantes, como o ex-governador Fernando Corrêa da Costa, no qual ele se intitula "médico e parteiro", além de uma foto de uma sucuri enrolada em um homem.

Na legenda, a explicação de que o registro aconteceu em uma fazenda na região sulista de Mato Grosso. Motivo de fascinação e de reportagens que conseguem recordes de acesso, a sucuri continua em alta ainda em pleno século XXI. "O interessante é que a revista não mostra apenas as mudanças na arquitetura e sim na sociedade. Naquela época, as mulheres usavam as roupas inspiradas na moda do Rio de Janeiro. São Paulo não era nada ainda na década de 30. Tudo chegava por meio da Noroeste do Brasil", explica Ângelo.

A sociedade corumbaense também era descrita na revista, devido a importância da cidade na época
A sociedade corumbaense também era descrita na revista, devido a importância da cidade na época

O motivo de Corumbá aparecer tantas vezes, com direito a fotos de Coimbra, onde fica o Forte de mesmo nome, é que a cidade era não só rota na NOB, como porto importante de exportação e importação. "Tudo passava por Corumbá, era a cidade do interior mais importante de Mato Grosso e da América do Sul", frisa.

O comportamento que se via da sociedade que esperava o trem chegar para conhecer as novidades da capital também incluiam passeios na calçada da 14 de julho e da Praça Ary Coelho. "Os homens caminhavam em um sentido e as mulheres no contrário. Eles saiam do cinema e caminhavam até a praça, de lá iriam para uma sorveteria", conta.

Tanto tempo depois, a campo-grandense agora segue uma moda mais globalizada, antenada nas tendências, um pouco parecido com as antecessoras da década de 30. "As mulheres não tem um estilo definido, moda é cultura, às vezes é regional, mas a maioria é universal. Dependendo na balada, por exemplo, está todo mundo igual", afirma Márcio Massad, professor do curso de moda da Anhanguera Uniderp.

Márcio diz que os trens da vez são as novelas da rede Globo. "A novela dita muita a moda, mídia, televisão. Massificou e já chega nas lojas de departamento. A mulher campo-grandense na balada quer ser mais sexy, quer a aceitação e por isso acaba se vestindo de forma igual, os grupos são muito parecidos. Já no cotidiano, a moda é mais esportiva, prática", define o professor.

Alesina, uma das mulheres que apareceram nas primeiras colunas sociais de Campo Grande
Alesina, uma das mulheres que apareceram nas primeiras colunas sociais de Campo Grande
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