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Comportamento

Romance que começou com 6 namoradas completa 50 anos com festão à altura

Elverson Cardozo | 21/01/2014 06:22
Noiva quebrou o braço no dia da festa, mas nem por isso deixou a alegria de lado. (Foto: Maricleide Vasques)
Noiva quebrou o braço no dia da festa, mas nem por isso deixou a alegria de lado. (Foto: Maricleide Vasques)

No dia de comemorar a bodas de ouro, horas antes do início da festa, a advogada Clarice Maria de Melo Ribeiro, de 71 anos, caiu e quebrou o braço esquerdo. Se dependesse do médico, a mulher seria encaminhada, no mesmo dia, ao centro cirúrgico, mas ela recusou o procedimento para recepcionar, mesmo com o braço imobilizado por uma tala e à base de medicamento forte, os cerca de 800 convidados que a aguardavam em uma chácara, na região do bairro Coophasul, em Campo Grande.

Não seria justo falhar com os amigos e parentes, muito menos com o esposo, o pecuarista Joaquim de Paula, 72 anos. Foi mais uma prova de amor. Tem sido assim há 50 anos. A cumplicidade parece ser o sobrenome do casal, que prova: o amor pode ser eterno.

Na hora de contar o início dessa história, eles não poupam palavras. Até tentam resumir, mas acabam citando boa parte da árvore genealógica gigantesca, afinal de contas, são primos, de terceiro ou quarto grau, que fique claro. “O pai dele era tio de minha avó”, explicou dona Clarice.

O início - Tudo começou na década de 60. A advogada, ainda acadêmica de Direito, morava em São Paulo. O pecuarista, comerciante à época, residia no Mato Grosso, mas sempre viajava para comprar mercadorias. Em uma dessas idas à capital Paulista, os pombinhos se conheceram.

“Primos longes”, como se referem, apaixonaram-se, mas, por respeito, namoraram “de olho” durante 1 ao e meio. Nenhum tinha coragem de chegar no outro, até que uma prima, com jeitinho, conseguiu facilitar o processo.

Em 1962, depois de um longo período de paquera platônica, à distância, Clarice e Joaquim noivaram, sem nunca terem namorado. Em julho de 1964, casaram-se. Ela com 21 anos. Ele, na época, com 22.

Antes, porém, o noivo, “terrível”, teve de viajar Brasil afora. O motivo? Tinha 6 namoradas simultâneas. Precisava terminar com todas. Disposto a escrever uma nova história, ele conseguiu, finalmente, por um ponto final na meia dúzia de casos. A dedicação, a partir daquele dia, passou a ser exclusiva à futura advogada.

Casamento, em 1964. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Casamento, em 1964. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Hoje, meio século depois, Joaquim continua tendo certeza de que fez a escolha certa. Obedeceu a voz do coração. “Aprendi que ter uma mulher é melhor que várias. Mulher dá trabalho 24 horas por dia, mas também dá um segundinho de prazer de vez em quando”, disse, alfinetando.

Ela não fica atrás, mas se mostra mais romântica na hora da declaração: “O casal não é só água e açúcar. É água, açúcar e um pouquinho de sal. Todo mundo é humano. Todo mundo briga”.

Exemplo - A união duradoura serve de inspiração às novas gerações. Para o neto mais velho, o jogador de futebol Alois Ribeiro Metz, de 21 anos, que veio da Alemanha só para prestigiar as bodas do casal, o amor dos dois é uma lição. “O melhor exemplo que eles podem dar para um cara da minha idade e da minha geração”, definiu.

Romance que começou com 6 namoradas completa 50 anos com festão à altura

Na visão de outra neta, a acadêmica de Medicina Veterinária Luara Michele Ribeiro Trimarco, 19 anos, o casamento de Joaquim e Clarice é a maior prova de que o segredo de uma relação bem sucedida está, às vezes, na persistência.

“Hoje as pessoas não lutam. Desistem fácil”, comentou, ao dizer que “o amor é uma flor que a gente tem que regar e cuidar todos os dias”. Uma união como essa inspira, gera reflexões e, mesmo de longe, ensina. “A gente aprende que é possível crescer juntos e não se destruir juntos”, concluiu a jovem.

Alois e Luara conheceram essa história anos depois. A professora aposentada Satiko H. Saji, de 74 anos, acompanhou tudo isso desde o início. Amiga de Clarice desde os 14 anos, ela viu a paixão do casal nascer. Por isso diz, com propriedade, que um sempre se entregou ao outro. Para Satiko, esse comprometimento mostrou que o amor pode, sim, ser eterno.

Jornalista, a filha mais nova do casal, Claudia Regina Ribeiro Trimarco, de 47 anos, tem uma definição sucinta: “São 50 anos de muita compreensão”.

Festa – Foi ela quem ajudou a organizar a festa, a pedido do pai. A mãe queria viajar para Fernando de Noronha, mas ele insistiu nas Bodas. No final, a advogada gostou da ideia. Pôde rever os parentes que moram longe, em Ubatuba, Cascaval, Triângulo Mineiro, Goiás, Rio Verde, Aquidauana e até da Alemanha.

Só para o almoço, no sábado (18), Joaquim pediu que matassem duas vacas e um boi. Doze caixas de mandioca foram retiradas do próprio quintal. A casa ficou lotada e os presentes tomaram conta da sala. A bodas de ouro do casal foi animada por, pelo menos, 5 cantores regionais. A mobilização ocorreu pelo Facebook, quem quisesse, poderia aparecer para comemorar.

O evento reuniu cerca de 800 pessoas. Só de convites impressos foram entregues 700, fora os virtuais.

*Matéria editada no dia 21/01/2014, às 14h41, para correção de informação.

Casal, um dia depois da festa, cercado por parentes e amigos. (Foto: Marcos Ermímio)
Casal, um dia depois da festa, cercado por parentes e amigos. (Foto: Marcos Ermímio)
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