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Comportamento

Rua tem três números 87 e uma casa de massagens para tumultuar a história

Elverson Cardozo | 16/09/2014 08:10
Na mesma rua, uma 3ª residência com número igual ao das duas mulheres, e que no espaço funcionava uma casa de massagem (Foto: Marcos Ermínio)
Na mesma rua, uma 3ª residência com número igual ao das duas mulheres, e que no espaço funcionava uma casa de massagem (Foto: Marcos Ermínio)

A comerciante aposentada Olga Perez, de 78 anos, já perdeu as contas de quantas vezes pediu ao marido, Antônio Beladia Peres, para ir até a casa de outra moradora, a três, quatro quadras de onde mora, buscar correspondências e as revistinhas que chegam para ela da igreja. Um erro na distribuição da numeração, em uma das ruas do bairro São Francisco, em Campo Grande, é a explicação para o transtorno.

O problema se estende há pelo menos 50 anos e atinge, na outra ponta, a professora Maria Solange Lencina, de 54 anos. Sem solução por parte da Prefeitura, as duas tiveram de se acostumar à confusão e, por isso, trocaram telefones, ficaram mais próximas.

Quando chega coisa de dona Olga para Solange, ela liga avisando. A aposentada faz a mesma coisa quando o erro cai na caixa de Correios dela. “Até hoje isso acontece. Eu pago dízimo na igreja Nossa Senhora Aparecida e na Divino Pai Eterno e eles me mandam revistas. Esses dias um monte foi parar lá”, conta.

“Vejo seu Antônio mensalmente, porque quando ele percebe que a conta não chega ele vai em casa, mas eu ligo também”, diz a professora.

Confusão na certa - Situações como essa, de numerações iguais, são comuns. Existem outros exemplos pela cidade, mas este caso tem algo diferente, que faz da dor de cabeça uma grande piada. Reza a lenda que havia, na mesma rua, uma terceira residência com número igual ao das duas mulheres, e que no espaço funcionava uma casa de massagem, daquelas de sacanagem, onde garotas se reuniam para fazer programas.

Quem procurava o lugar só pelo número se deparava, então, com três opções: a casa de Olga, a de Solange e a "verdadeira". Mas a primeira batida sempre era na casa da aposentada. A explicação é simples: ela mora na ponta, no início da rua.

A senhora garante que nesses anos todos ninguém nunca foi claro ao bater na residência dela para questionar se ali era uma casa de massagem. Mas relata que vários homens já pararam para perguntar se no endereço morava uma mulher. Com a negativa, e com a imagem dela, de uma senhorinha, dona de casa, eles iam embora.

Dona Olga nunca levantou suspeitas porque também não tinha conhecimento do serviço oferecido logo mais a frente. Como sempre soube que na mesma rua existe outra casa com numeração igual, achava as confusões normais.

Quando tinha a saúde melhor e ainda escutava bem, era o marido de dela quem costumava atender a porta. À esposa, ele não confirma saber sobre a existência da "zona", nem toca no assunto, diz a mulher. Mas, na internet, um frequentador da antiga casa de massagem do outro lado da rua dá vida a essa história que, pelo jeito, tirava muita família do sério.

Casa da comerciante aposentada Olga Perez tem o mesmo número que a residência de outra moradora da mesma rua. (Foto: Marcelo Calazans)
Casa da comerciante aposentada Olga Perez tem o mesmo número que a residência de outra moradora da mesma rua. (Foto: Marcelo Calazans)

Usuário do GPGuia, fórum sobre acompanhantes, um homem identificado como “Combatente”, deixou registrado um alerta sobre o erro na numeração. Ele relata que só descobriu a confusão porque bateu, primeiro, na casa de Olga. Quem atendeu foi um senhor, provavelmente o marido dela, Antônio. “O véio que mora lá está puto da vida porque a casa de massagem usa o mesmo número que a casa dele”, escreveu na época, em 2005.

Já Maria Solange mora ao lado da casa que, um dia, confirma, foi “de massagem” e que, realmente tinha o mesmo número.

Há 15 anos no mesmo endereço, não foi incomodada um só dia e nem teve o imóvel confundido por possíveis clientes da vizinha. Como mora no número "87 fundos", nunca foi perturbada porque quem chegava acionava logo a casa da frente. Ela só foi descobrir que o local era “duvidoso” quando a moradora estava de mudança.

“Fiquei sabendo que era mesmo, há muito tempo, mas eu nunca desconfiei. Nem passou pela minha cabeça que rolava programa. Se tinha, era muito discreto. Fui descobrir quando a moça que morava aqui estava quase mudando. […] Ela falou que estava indo para a 14 de Julho. Depois nunca mais eu vi ela”.

Essa moça, prossegue, alugava o imóvel, que pertencia a uma tia do marido de Solange, mas não morava na casa. Chegava cedo e ia embora no final da tarde. Um vizinho que mora ao lado também confirma a história, diz que, realmente, ali funcionava uma “casa de massagem”, mas que só descobriu depois de muito tempo, há cerca de 8 anos.

Hoje, apesar dos números iguais ainda existirem, todo mundo está mais tranquilo. Olga, embora desconfiada por conta da reportagem, faz questão de dizer que Solange, a professora, é certinha. Solange, por sua vez, garante a casa dela nunca foi de massagem.

A verdadeira residência que guarda essa história foi vendida, teve a numeração trocada e agora abriga um escritório.

*O nome da rua foi preservado para não causar transtorno aos moradores.

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