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Comportamento

Sem dinheiro para a aventura, casal conheceu o mundo tocando e cantando

Aline Araújo | 23/07/2014 13:15
Marcos e Lenai se apresentando no cruzeiro ( Arquivo Pessoal)
Marcos e Lenai se apresentando no cruzeiro ( Arquivo Pessoal)

Com muita vontade e pouco dinheiro, eles se aventuraram pelo mundo vivendo de música. O casal Marcos Augusto Martins, de 42 anos, e Lenai Moura dos Santos, 40 anos, colecionam histórias dos anos que moraram no exterior, seja tocando em bares e restaurantes ou dentro de um cruzeiro.

Lenai canta desde os 12 anos. Marcos também começou cedo, em bandas como "Torresmo com Maxixe" e "Grupo Zingaro". Por muito tempo os dois trabalharam em eventos, ela cantando e ele tocando teclado, piano e violão, até se encontrarem na música e na vida e decidirem seguir juntos.

Os dois estão dispostos a qualquer missão. Nessa jornada, Marcos tocou até em um evento da ONU (Organização das Nações Unidas) com a Torre Eiffel ao fundo, com um cantor brasileiro que se vestia de índio. “Francês gosta muito dessas apresentações, que para a gente chega a ser excêntrico”, conta.

Durante esse tempo fora do Brasil o casal passou por muitos países. França, Itália, Grécia, Turquia, Portugal, Croácia, Marrocos, Argentina, Uruguai, Suíça... somando 16. A maioria, de porto em porto, trabalhando em cruzeiros. Mas muita coisa aconteceu antes.

Istambul Turquia (Arquivo Pessoal)
Istambul Turquia (Arquivo Pessoal)

A aventura pelo mundo começou na Bolívia, em 2004, com algumas economias, coragem e o contato de um conhecido por lá. O casal acabou mudando o endereço para o país vizinho. Em Santa Cruz de La Sierra se apresentaram em cassinos, e em karaokês.

Lá viveram algumas aventuras, Marcos enfrentou uma travessia de 23h, em uma camionete com outras oito pessoas, depois de três dias esperando o trem na estação ferroviária de Puerto Quijarro. Enquanto Lenai esperava aflita em Santa Cruz, sem notícias do marido.

“Não tinha estrada, um boliviano se ofereceu para levar a gente por 50 dólares e fomos cortando no meio do mato. No meio do caminho, tinha um cara com uma metralhadora, mandaram eu ficar quieto para não não mostrar que era estrangeiro. Acabaram se resolvendo entre eles”, lembra Marcos.

Depois de dois anos na Bolívia, era hora de conhecer os ares europeus. Juntaram dinheiro, conseguiram contato com um amigo e foram passar as férias na Espanha, em Barcelona, lá tocaram pelas ruas da cidade e decidiram ficar.

A unica foto de Marcos em sua apresentação em Paris  (Arquivo Pessoal)
A unica foto de Marcos em sua apresentação em Paris (Arquivo Pessoal)

A próxima parada seria a França. Ficaram sabendo da uma amiga de uma prima que tinha um apartamento em Paris e Marcos não pensou duas vezes. Faltando poucos dias para vencer o visto eles partiram.

Em seu primeiro passeio pelas ruas de Paris, Marcos encontrou uma feira brasileira, lá descobriu que um cantor precisava de um pianista para o acompanhar em evento no dia seguinte. Contrato fechado, lá foi ele para o primeiro trabalho em Paris.

“Quando cheguei lá no outro dia era para eu tocar em um evento da ONU, em baixo da torre Eiffél, com um cantor brasileiro que se vestia de índio e cantava Djavan” relata ele aos risos, sobre a cena surreal. “Se não tivesse as fotos para mostrar acho que ninguém acreditaria”, comenta Lenai.

Mas as histórias estavam apenas começando. No retorno para a Espanha, Marcos ficou detido, pois estava com o visto vencido há três dias, a solução, depois de ser liberado da deportação, foi atravessar o deserto dos Pirineus a pé, até uma cidade próxima onde conseguiria um táxi.

Ibiza na Espanha (Foto: Arquivo Pessoal)
Ibiza na Espanha (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu sai uma hora da manhã para chegar às 6 em uma cidadezinha, não lembro o nome, lá só tinha um taxista para me levar de volta até a estação. Ele ainda me deu dinheiro falso de troco, sorte que tinha um pouco guardado para passagem”, descreve um dos perrengues passados na etrada.

De volta à Espanha, só que agora de maneira ilegal, com o visto de turista vencido, o casal buscou alternativas para permanecer no país. Eles encontraram um complexo de restaurantes brasileiros que precisava de músicos. Participaram de uma audiência de seleção. “O restaurante chamava Iguaçu e tinha 7 cachoeiras dentro, nós ficamos encantados quando vimos”, comenta Lenai.

Na audiência eles prepararam o que consideravam mais difícil em seu repertório. “Cantamos Elis Regina, e o que sabíamos de Bossa Nova e samba, mas percebi que eles não estavam gostando muito”, lembra.

Até que a responsável pela seleção fez um pedido: “Se tocarem a música que eu pedir, vocês ficam. Vocês sabem tocar 60 Dias Apaixonados?... Perguntar isso para um sul-mato-grossense é brincadeira”, conta rindo. Mostrando um típico chamamé, eles conquistaram o emprego que mudaria o rumo da história.

“As pessoas tem saudade desse tipo de música e pouca gente canta lá. Enfim, eles regularizaram a nossa situação lá e em pouco tempo nós estávamos na direção artística dos shows", diz Marcos.

A vida lá fora ganhou estabilidade, completa Lenai. “O Marcos chegou a vir duas vezes para o Brasil em busca de artistas nacionais.”

Apresentação no cruzeiro (Arquivo Pessoal)
Apresentação no cruzeiro (Arquivo Pessoal)

Com a crise na Espanha e uma briga entre os chefes do complexo que trabalhavam, o jeito foi se virar mais uma vez, já com o nome Ipanema, a banda composta pelo casal e outros músicos seguiu tocando.

Em 2009 a viagem ao redor do mundo se ampliou. O casal fazia um duo de voz e teclado em um cruzeiro. Passaram quatro anos em alto-mar. Durante esse tempo, conheceram uma boa parte do mundo, em cada porto, uma foto, uma recordação da vida corajosa que os dois resolveram ter.

"Por onde a gente passou pelo mundo, sempre tentamos levar a cultura da nossa região", comenta Marcos.

Há dois anos eles decidiram que era hora de dar um tempo em terra firme, ficar mais próximos dos filhos que Marcos já tinham de outro casamento e realizar outros sonhos. Marcos faz a faculdade e, com a banda Ipanema, hoje os dois animam festas em Campo Grande.

Coliseu na Itália (Arquivo Pessoal)
Coliseu na Itália (Arquivo Pessoal)

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