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Comportamento

Sem mapa e GPS, mãe e filhas rodam 8 mil km de carro na viagem das suas vidas

Paula Maciulevicius | 26/01/2015 06:05
Beatriz, Telma e Sônia. Filhas e mãe no Parque Provincial Aconcagua. (Foto: Arquivo Pessoal)
Beatriz, Telma e Sônia. Filhas e mãe no Parque Provincial Aconcagua. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sônia, Beatriz e Telma. Mãe e filhas que realizaram a viagem das suas vidas nessas férias. Em 20 dias, elas rodaram 8 mil quilômetros de carro saindo de Campo Grande para o Uruguai e a Argentina. Um roteiro que além de aprendizado, trouxe à tona a união das três. Emoção foi o que não faltou na aventura que elas decidiram fazer sem mapa e nem GPS.

A viagem foi ideia da filha mais velha. Beatriz Flores Coutinho Porfírio, de 24 anos, acabou de se formar na USP, em São Carlos, e de lá elas seguiram para o roteiro. Viagem na casa delas sempre foi assim, do estilo: vamos viajar? Sim, quando? Amanhã. Dessa vez o único planejamento feito foi em relação às reservas de hotel devido às festas de fim de ano.

"Final de outubro que a Bia falou de a gente viajar junto. Ela passou um ano na França e lá fez muito mochilão, depois que voltou, já tinha um tempo que não fazia", explica Sônia Flores Porfírio, funcionária pública, de 55 anos. Amigos que já fizeram o caminho que indicaram a melhor rota para a viagem que também era comemorar a mais nova engenheira de produção da família.

"Saímos dia 21 cedinho de São Carlos, chegamos no Uruguai dia 23, no final da tarde. A gente foi parando em Joinville e depois em Pelotas até o Uruguai. Não compramos mapa, foi um cara do hotel em Pelotas que deu um para a gente, da América do Sul", conta a filha caçula Telma Flores Porfírio, estudante de Direito, de 21 anos.

O roteiro foi traçado levando em conta o Google. O trajeto tinha como paradas Punta Del Este, Montevidéu, Colônia de Sacramento, Buenos Aires e Mendonça. Do dia 23 a 26 de dezembro, o trio esteve no Uruguai, onde teve ótimas impressões sob o aspecto cultural e social, mas também sentiu o bolso pesar.

Na viagem de carro, registros são feitos a todo momento, incluindo a sinalização. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na viagem de carro, registros são feitos a todo momento, incluindo a sinalização. (Foto: Arquivo Pessoal)

"O Uruguai é legal, muito limpo, organizado, as pessoas são muito educadas e a paisagem é maravilhosa. O sol se põe 9h30, 10h da noite, então você curte o dia inteirinho", lembra Telma. A temperatura dá uma variada, em Punta Del Este, os termômetros marcavam entre 26 e 28 graus durante o dia e mais à noite, 19. 

"Os uruguaios são muito educados e a infraestrutura do País, de estrada de tudo, é ótima", pontua a mãe Sônia. Na primeira cidade, elas perceberam o custo da comida, uma porção de frango, por exemplo, pedida na primeira noite, custou R$ 100,00 e só vinham dois pedaços. Em conversa com os próprios uruguaios, indicações levaram as três para restaurantes melhores, onde se pagava o mesmo, mas se comia, digamos assim, à altura.

Uma observação que saltou aos olhos da mãe foi o fato de não haver negros no País. O que realmente lhe causou certo espanto. O trânsito é elogiado pela família porque os motoristas além de respeitarem as regras, andam bem devagar.

Entre as duas cidades visitadas, os elogios são infinitos. "Um é praia, outro é montanha, não tem como comparar. Os dois são lugares maravilhosos, onde a gente vê que todo mundo, mesmo que tenha uma vida econômica, tem o básico", avalia Sônia.

A primeira aventura das mulheres foi no trajeto entre Montevidéu e Colônia de Sacramento, no caminho para a Argentina. Elas que definem "aventura" para o "sufoco" que protagonizaram. Uma das piores tormentas que a região já sofreu nos últimos 50 anos.

A ideia era passar na cidade histórica, rodeada pelo mar, durante o dia e ainda à noite seguir de balsa para Buenos Aires. Mas, partindo do Uruguai, elas ficaram presas por mais de 3h por conta do mau tempo. "Ninguém entrava e ninguém saía da cidade. A água batia na porta do carro. Foi a primeira aventura da viagem, todo mundo recomenda de passar por Colônia", descreve Sônia. Os pontos turísticos das redondezas, elas não conseguiram ver.

Quando chegaram à balsa, faltavam 10 minutos para a saída com destino a Buenos Aires. "E tudo isso num portunhol. Mas eles ajudam muito quando percebem que você é brasileiro. Acho que o brasileiro deve fazer muito isso", supõe Sônia sobre a nossa tentativa de arranhar um espanhol.

De Buenos Aires os elogios feitos comparam a cidade com Paris. "É bem legal, os pontos turísticos, eles te dão mapas para que você conheça os 10 mais, eles vivem do turismo mesmo. Lá tem aquele ar europeu, vários bares na cidade, a comida é maravilhosa e mais barata", fala Telma.

Sônia e a caçula Telminha ouvindo a fanfarra na Feira de San Telmo, em Buenos Aires. (Foto: Arquivo Pessoal)
Sônia e a caçula Telminha ouvindo a fanfarra na Feira de San Telmo, em Buenos Aires. (Foto: Arquivo Pessoal)

No roteiro turístico, o trio conheceu a Feira de San Telmo, onde vivenciaram um outro lado dos argentinos, de lutarem pelos seus direitos. "Lá nessa feira não são só antiguidades, é um lugar incrível de cultura, de arte na rua. Você encontra de tudo, é até difícil de explicar", comentam mãe e filha.

Na apresentação de uma fanfarra, uma das moradoras da região reclamou do barulho e teve o troco. "As pessoas paravam para assistir e veio uma senhora reclamando. O pessoal respondeu 'antes de vocês habitarem aqui, a gente já habitava. A gente que trazia alegria para cá'" e todo mundo aplaudiu", conta Telma e a mãe Sônia. 

"A pobreza se vê em todo lugar, é um clima de país que está em crise econômica. Não sofremos nenhum assalto e nem vimos nenhum, mas eles passam muita preocupação, acho que querem proteger os turistas", comentam. 

De Buenos Aires para Mendonza - No caminho se vê a paisagem mudando. Vulcões, Cordilheira dos Andes e o clima também vão dando os ares da cidade. Os vinhedos tomam conta do trajeto e também do coração das viajantes. Na madrugada do dia 31 de dezembro, elas chegaram ao destino final depois de tanto alfajor e "aulas" da polícia que trabalha nas rodovias.

"Na cordilheira, subimos 4 mil metros acima do nível do mar. Mesmo com falta de ar, subi, não desisti. E lá em cima, era uma coisa fora do comum, uma ventania. Mas de repente é você e as cordilheiras. É uma coisa muito linda, que eu não vou esquecer jamais", resume Sônia.

No topo das montanhas, neve que parecia chantilly aos olhos encantados de quem se atreveu trocar a viagem de sempre - férias na praia - para se aventurar num tour cultural. "Como que eu fiquei tantos anos sem conhecer?" se perguntava Sônia.

A cidade é conhecida pelas bodegas de vinhos e champanhes. E foi lá que elas se surpreenderam ainda mais com a simplicidade de se sentar embaixo de um pergolado e apanhar com as mãos a fruta da própria árvore. Por não fazerm reserva com antecedência, elas quase não conseguiram conhecer as famosas bodegas. Em uma delas, foi possível almoçar e se deliciar com quatro pratos que vinham acompanhados de vinhos diferentes, tudo produzido ali dentro. "Eu não queria mais ir embora", dizia Sônia.

Em Mendonza, jantar em bodega foi debaixo de pergolado e com frutas a mão. (Foto: Arquivo Pessoal)
Em Mendonza, jantar em bodega foi debaixo de pergolado e com frutas a mão. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nos 20 dias de viagem, o gasto médio com combustível, hospedagem e alimentação foi de R$ 13 mil. Elas só lamentam não terem levado dinheiro em espécie e dólar para que não perdessem tanto nas trocas de moedas. Ainda assim, valeu a pena.

"Foi muito bem gasto, eu faria tudo de novo. É um investimento em cultura, conhecimento e uma coisa muito gratificante e que vai ficar para sempre", finaliza a mãe.

Para os que questionam por que não o avião, Telminha tem a resposta. "O legal é a viagem de carro. Assunto sempre tem e a paisagem bonita. Aquela vista da chegada dos lugares e agora você vai relembrando como foi chegar. A paisagem é inesquecível".

"Te enche de vida, de esperança, nem sei te falar. Viajando, a gente embarca para a Terra do Nunca". As palavras são de Sônia que já pensa em viajar de novo, mas agora até o Chile.

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