ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Comportamento

Senhor que vive na janela da casa de madeira do Piratininga já morou no Iraque

Paula Maciulevicius | 19/11/2016 07:29
Do menor ao pequeno, não tem vizinho que Almir não conheça e nem faça sorrir. (Foto: Marina Pacheco)
Do menor ao pequeno, não tem vizinho que Almir não conheça e nem faça sorrir. (Foto: Marina Pacheco)

Dono da casa de madeira mais antiga do bairro Piratininga, não tem vizinho que não sorria para seu Almir. Senão for na primeira vez, será na segunda e se ainda assim, o sorriso não abrir, na terceira vai. Confiante de que a alegria é o que embeleza o rosto e a vida, seu Almir passa as manhãs na janela de casa, ora acompanhado da esposa Eurides, ora só. Mas sempre com a curva do riso no rosto.

De idade, Almir tem 68. De vida naquela casa, 46. Verdinha, de “tauba”, a fachada ostenta um dono que já morou até no Iraque. Em um ano, o encarregado trabalhou em 850 quilômetros de asfalto de Bagdá até a fronteira da Síria. Pelo menos é isso que ele conta.

“Eu vim do Sergipe para Belo Horizonte fazer um teste na Mendes Júnior para ir para o Iraque. Passou 20 dias de aula, pra aprender assim, a língua mais ou menos. É que eu ia lidar com estrangeiro”, lembra Almir Carvalho de Queiroz.

Janela da casa de madeira mais antiga do bairro é ocupada todo dia por quem quer ver a a alegria passar pela rua.
Janela da casa de madeira mais antiga do bairro é ocupada todo dia por quem quer ver a a alegria passar pela rua.

Em 1981, ele deixou a mulher e os três filhos aqui. “E era assim, num dia você ensinava a fazer isso, no outro, mandava fazer a mesma coisa e eles já não sabiam”, lembra. As pausas para orações no dia também não lhe saem da memória.

E até mesmo quando foi para o Iraque, a casinha de tábua continuou ali. Construída por Almir ao lado dos sete irmãos e dos pais, em 1969, quando a família chegou em Campo Grande. Se ela continua igual até hoje? Pouca coisa mudou. Saiu a marcenaria de seu Almir, a garagem virou quarto improvisado e só o que não sai dali, é ele na janela.

“Eu trabalhei o Brasil inteiro, morei em São Paulo, Belo Horizonte, Aracaju, Belém do Pará...” O sotaque não nega, Almir é baiano de nascimento, do município de Porto Seguro.

“Por que ela é verde? Ah, porque eu gosto”, simplifica a vida. Todo dia, é a mesma coisa na casinha de madeira. Seu Almir levanta 5h da manhã e compra pão para a casa dele e as outras quatro dos irmãos que ocupam a mesma quadra e são todos vizinhos.

“O que eu acho da minha casa? Ela é minha, é boa e me guarda. Tem gente que me pergunta: por que você não quebra isso aí? Eu não tenho condição, não sei dever e não compro fiado. Nessa minha vida eu aprendi que tendo cantinho pra repousar quando for frio e chuva, já é o suficiente”, ensina.

O beijo apaixonado é o segredo do casamento de 43 anos de Almir e Eurides.
O beijo apaixonado é o segredo do casamento de 43 anos de Almir e Eurides.

Já são 43 anos de casados com dona Eurides e o segredo? É ser romântico, garante o senhorzinho, que tasca um beijo de tirar gargalhada de quem vê a cena. “E olha que ela fotografou”, se surpreende Eurides Maria Soledade Queiroz, de 69 anos.

Quem passa pelas manhãs pelo bairro, conhece o casal e não tem quem eles também não saibam quem é. “Desde o menor ao mais pequeno”, brinca Almir. “É para ver alegria e fazer alegria nas pessoas. Eu falo com aquelas que sorriem e as que não respondem, eu oro por elas”, diz.

“Na primeira vez dou oi. Ela vira a casa. Na segunda: oi, tudo bem? Nem responde, mas na terceira, só olhar que já diz bom dia”, narra. O diálogo aconteceu mesmo e ele conseguiu o que queria, arrancar o riso.

“É que é assim, se for gente sorridente, vai ter vida longa minha filha. E isso eu sempre tive comigo, de chamar os outros de filha, filho, minha filha”. É, além do sorriso, tem carinho na porta da casa de madeira mais antiga do Piratininga.

Curta o Lado B no Facebook.

Nos siga no Google Notícias